Os desafios de brincar de Deus
Quem ganha com isso?
Brincar de Deus. O termo PLAY GOD é entendido como tomar decisões que têm um efeito importante na vida de outras pessoas. Mas é uma expressão ambígua, pois sempre está associada a "jogar com a sorte", "dar a entender" ou "vagar com a verdade". A notícia que reviveram o LOBO-TERRÍVEL, mais conhecido por ter aparecido na série Game of Thrones, um canídeo que viveu há mais de 12 mil anos. A empresa de engenharia genética Colossal Biosciences anunciou que conseguiu o retorno à vida deste animal pré-histórico, o Dire Wolfe. Seria o primeiro caso de desextinção no mundo. Através de um dente de 13 mil anos e um crânio de 72 mil anos, conseguiu trazer à vida com a tecnologia de hoje. Quais as aplicações de uma notícia como esta para a sociedade?
O primeiro anúncio de interesse da empresa pela desextinção seria com o Mamute Lanoso. Curiosidades a parte em poder ver um mamute ao vivo, a empresa justificava esse trabalho para ajudar o planeta. Afinal, tinham um papel importante na tundra. Eles ajudavam a manter a terra congelada ao pisar na vegetação local, derrubavam árvores e compactavam a neve. Tudo isso, ajudava a ter menor emissão de dióxido de carbono na Terra. Ao contrário da música que falava que vários elefantes incomodavam muita gente, a quantidade de mamutes colaboravam com o bem-estar da atmosfera do planeta. Com essa justificativa em mãos, muitos apoiaram descrentes, dessa possibilidade.
O que não é o caso do Lobo-terrível. A empresa já anunciou o interesse em reviver o simpático Dodô e o Lobo da Tasmânia. Mas tal qual o livro de Michael Crichton, que preenchia as falhas do DNA de animais pré-históricos com DNA anfíbio, traz vários problemas. Não haveria animais perfeitos como os apresentados de um Tiranossauro Rex. Estariam mais corretos animais apresentados como o Indominus Rex do filme Jurassic World, onde criavam uma criatura inédita e híbrida, com vários traços de vários animais.
Não se enganem com o anúncio sensacionalista. É golpe publicitário. Pegaram DNA de lobos atuais, modificaram extraindo dados do DNA dos fósseis dos lobos gigantes apenas em algumas regiões, em um total de 14 genes. Muito pouco. Ou seja, nasceram lobos atuais com pelagem branca, semelhante aos dos animais extintos. Convenhamos que 14 genes em relação a milhares de genes é muito pouco.
Podemos imaginar que o trabalho de desextinção possa trazer benefícios como restauração de ecossistemas, recuperar biodiversidade, além de avanço científico para aplicações no ser humano, porém, todo projeto parece ter interesse comercial. A começar pela desonestidade científica ao anunciar este fato. Algo parecido como vender um retrato autografado de Jesus. Atende aos fundamentalistas crentes. Quem ganha com isso? No caso do autorretrato aconteceu nos Estados Unidos e até hoje temos ofertas tão mirabolantes como essa. Podem lembrar de vender madeiras da Arca de Noé ou perfume abençoado. As igrejas pentecostais lucram com esse comércio. E como será com essa desextinção?
Temo pela moralidade da intervenção, consequências indesejadas, quem será responsável? Uma espécie selecionada pela natureza para sua extinção e não por ação do homem. Vai virar pet? Vai introduzir num ecossistema e virar uma praga? Vai ser extinto de novo?
Agora para quem não acredita em vida após a morte, pelo sim pelo não, deve levar sua identidade e CPF para provar que é você e não sua desextinção.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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