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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    Os limites da rebeldia de Hamilton Mourão

    "Sem os generais, o governo desaba. Bolsonaro sabe que o centrão, Olavo de Carvalho e os garotos não seguram o tranco. Que ele só aguenta até a eleição de 2022 se mantiver os generais por perto. Mas não vai aceitar que Mourão seja protagonista", diz o colunista Moisés Mendes

    Hamilton Mourão e Jair Bolsonaro (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

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    A situação de Hamilton Mourão é a mais complicada entre os generais que se aliaram a Bolsonaro e estão sendo empurrados para um anunciado desastre que não será devastador apenas para reputações pessoais, mas para a imagem das Forças Armadas.

    Os outros generais podem, se desistirem de continuar subjugados pela dita ala ideológica liderada por Carluxo e Olavo de Carvalho, saltar fora.

    Saem estrategicamente, mas de qualquer forma terão desgaste político incalculável. E a desistência dos militares de alta patente, aparentemente improvável, faria com que pelo menos 4 mil oficiais perdessem o emprego. 

    Ninguém imagina que, se os generais saltarem fora, outros subalternos continuarão no governo, agarrados aos seus cargos, mesmo que tenham sido chamados por Bolsonaro.

    A situação de Mourão é complexa por ter sido eleito com Bolsonaro. Mourão tem mandato, não é um comissionado convocado por Bolsonaro para cumprir tarefa circunstancial e dar ao governo a cara de poder militar.

    Pois Mourão é assunto desde ontem por ter dito à Veja que o governo vai comprar a vacina chinesa. Bolsonaro já disse várias vezes (e de novo depois da entrevista do vice) que não comprará a vacina.

    E agora? Por que Mourão decidiu contrariar o chefe, se sabe que Bolsonaro não quer saber da vacina chinesa por dois motivos: porque é chinesa e ele não pode contrariar Trump e porque a iniciativa de intercâmbio com o laboratório CoronaVac foi de Doria Júnior.

    O desdobramento dessa guerra pode indicar duas consequências. A primeira é a mais óbvia: as coisas se acomodam, como já se acomodaram antes, e Mourão e Bolsonaro esquecem as discordâncias.

    Aconteceria o que aconteceu quando o general afirmou, também contrariando Bolsonaro, que o Brasil não tinha restrições à tecnologia 5G chinesa para a internet.

    A segunda consequência possível é essa que jornalistas de direita, que recebem recados, começam a especular: Mourão estaria dando uma senha sobre a decisão dos generais de partir para o enfrentamento com Bolsonaro.
    Mas enfrentar como? Marcando posição mais ostensiva e deixando claro ao sujeito que os fardados não aceitam as agressões de Ricardo Salles e as esnobadas do próprio Bolsonaro.

    Sem os generais, o governo desaba. Bolsonaro sabe que o centrão, Olavo de Carvalho e os garotos não seguram o tranco. Que ele só aguenta até a eleição de 2022 se mantiver os generais por perto.

    Mas não vai aceitar que Mourão seja protagonista. Ninguém ao lado de Bolsonaro pode se destacar, por ação ou por opinião, muito menos por discordâncias públicas.

    Aguardemos o que acontecerá na próxima semana. Muitos já fizeram apostas erradas sobre a delicada situação dos militares no governo Bolsonaro.

    Numa das apostas, admito que cheguei a escrever, com muita gente, que Braga Netto assumiria, a partir de maio, a condução de um projeto de retomada de obras estatais (esvaziando um pouco o discurso liberal de Paulo Guedes) com o programa Pró-Brasil.

    Seria uma tentativa de protagonismo dos militares. Erramos feio todos os que acreditamos na força que Braga Netto não tinha. O general levou um pito do próprio Guedes e recuou.

    Mourão também pode recuar, dizendo hoje ou nos próximos dias que foi mal interpretado e que a palavra final é sempre a de Bolsonaro?

    Pode. Ficará mal e passará falta de compromisso com as próprias ideais. Mas os generais não têm ficado bem há muito tempo.

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    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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