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    Marcia Carmo

    Jornalista e correspondente do Brasil 247 na Argentina. Mestra em Estudos Latino-Americanos (Unsam, de Buenos Aires), autora do livro ‘América do Sul’ (editora DBA).

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    Os novos alvos dos insultos de Milei

    "No fim de semana, as agressões tiveram novos alvos: os reitores das universidades públicas", escreve Marcia Carmo

    Javier Milei (Foto: REUTERS/Anderson Coelho)

    O presidente da Argentina, Javier Milei, tem disparado sua metralhadora de insultos com frequência. Seu vocabulário hostil ficou conhecido nos palanques de campanha à Casa Rosada. Mas agora ele vocifera seu discurso de ódio a partir da Presidência – nos atos oficiais ou do seu partido, A Liberdade Avança (LLA). No fim de semana, as agressões tiveram novos alvos: os reitores das universidades públicas. Ele os chamou de mentirosos e de “ladrões, delinquentes”. “Deixem de mentir, delinquentes que não querem auditorias”, afirmou.

    Milei disse que os reitores não permitem que as universidades públicas sejam auditadas porque estão “sujos” e “prostituem uma causa nobre” (a educação).

    As declarações do argentino foram feitas na cerimônia que marcou a mudança de nome do Centro Cultural Kirchner (CCK) para Palácio Liberdade Centro Cultural Domingo Faustino Sarmiento. O edifício histórico, com quase cem anos, fica próximo da Casa Rosada e ganhou o nome de CCK durante o governo da ex-presidente Cristina Kirchner. Mudar o nome do prédio é uma forma de Milei ratificar sua rejeição a Cristina e ao kirchnerismo em geral.

    Em declarações à imprensa local, os reitores afirmaram estar preocupados com as agressões do presidente. “É uma loucura total que nos acuse de delinquentes. Esse é um discurso totalmente agressivo. E se (Milei) tem alguma prova de irregularidade, que procure a Justiça”, disse o reitor da Universidade de Mar del Plata, Alfredo Lazzeretti. O reitor da Universidade Nacional de Rosario, Franco Bartolocci, disse que as entidades de ensino “já são auditadas e de várias maneiras”.

    Na semana passada, Milei conseguiu respaldo parlamentar para manter o veto contra o projeto de lei de financiamento (0,14% do PIB) para as universidades públicas. A lei atualiza os recursos para as entidades de ensino, para os hospitais universitários e permite a atualização salarial dos professores e funcionários. Foram realizadas, neste ano, duas passeatas gigantescas contra a medida de Milei, mas o presidente não pretende mudar de opinião – sobre o veto e sobre seu discurso de ódio.

    Nestes dez meses de mandato, ele já chamou o Congresso Nacional de “ninho de ratos” e os jornalistas de “corruptos”, e costuma estimular sua plateia a fazer coros de palavrões contra opositores. Um estilo que agrada seus fiéis seguidores, mas preocupa. Nos últimos dias, a Argentina voltou a registrar escrachos violentos contra apoiadores de Milei e da oposição. O discurso de ódio parece estimular a lamentável e degradante violência física. Intolerância em tempos de queda brusca da economia (Banco Mundial prevê queda de 3,5% neste ano), do recuo da inflação, mas de aumento do desemprego e da pobreza e da queda do apoio popular a Milei e ao seu governo.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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