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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    Os que têm fome entenderam o recado de Janja

    “Os ataques à socióloga são mais uma manifestação do machismo inseguro da extrema direita”, escreve o colunista Moisés Mendes

    Rosângela Lula da Silva, a Janja (Foto: Claudio Kbene/PR)

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    É uma seleção de machos da direita, com o reforço de alguns que se dizem de esquerda, o time que decidiu atacar Janja nos jornalões, porque ela teria se dirigido de ‘forma imprópria’ a Elon Musk em evento do G20.

    Cobraram bons modos e decoro de Janja, como se o destinatário do recado fosse alguém dado a protocolos, delicadezas e diplomacias. São em maioria homens de meia idade os críticos de Janja. E se dedicam de preferência a enfrentamentos com mulheres.

    O que se tem, na reação ao fuck you que Janja dirigiu a Musk, é mais uma gritaria de machos inseguros diante de uma mulher destemida. Parece óbvio, mas às vezes o que mais nos escapa são as obviedades.

    Como aconteceu na eleição americana e como vem acontecendo no Brasil desde a ascensão de Bolsonaro. Até Francis Fukuyama, o cara que ficou milionário anunciando o fim da História, enxergou o que parte do chamado campo progressista brasileiro se nega a fazer: reconhecer que o macho ferido foi determinante para a ressurreição do trumpismo.

    É esse macho, em desalento pela perda de poder e de perspectiva de futuro, que ataca Janja, na versão verde-amarela do fascista que não teme se denunciar como machista alquebrado. O destemor de Janja o constrange e o amedronta.

    É por isso também que o Festival Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, com artistas que mostraram o Brasil ao mundo no G20, foi rebatizado pelos jornalões como Janjapalooza. Porque, se tivesse sido organizado por homens, não teria um apelido semelhante.

    Desqualificaram o festival por ter sido liderado por Janja e para atacar Lula e esconder o nome do evento, que marca a conexão direta e prioritária da reunião de líderes com o combate à fome, mesmo que alguns sejam dissimulados.

    Jornalões não querem saber de combate à miséria, da tributação de ricos e de shows de Zeca Pagodinho, Maria Rita, Mariene de Castro, Pretinho da Serrinha, Roberta Sá, Teresa Cristina, Martinho da Vila. Jornalões querem isenções para ricos e a gritaria dos cânticos sertanejos.

    O apelido Janjapalooza pretendia transformar um acontecimento cultural num festival qualquer, semelhante aos patrocinados pela Globo e que negam até o acesso à água aos que têm sede. Tentaram sugerir que Janja é uma promoter do governo.

    Precisa ser dito também que há mulheres censurando Janja, por defenderem as liturgias, como se tipos como Musk pudessem ser tratados sob as regras da normalidade, num mundo em que nada mais é normal.

    Como se um mentiroso que transformou mentira em negócio, um agressor de autoridades e instituições brasileiras e desafiador de decisões do Judiciário pudesse merecer respeito protocolar.

    E, por fim, fica a controvérsia sobre o direito ou não de uma primeira-dama dirigir um fuck you a alguém. Mas quem é esse alguém? A socióloga mandou um recado ao maior facínora da internet e do mundo real.

    Que agora deseja ser visto, antes mesmo de assumir, como alta autoridade de Trump na Casa Branca. Janja teria agredido um quase ministro do fascismo, quando Musk é a mais poderosa voz da extrema direita mundial.

    Janja fez e que muitos gostariam de ter feito. É conversa fiada essa história de que a fala prejudicou a divulgação do apelo de Lula e do G20 pelo combate à fome.

    Ajudou muito. Os que têm fome e sede entenderam o recado de Janja ao gângster e entenderiam até se tivesse sido em francês.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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