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      Ivan Guimarães

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      Ossos quebrados

      Cerca de 70% das pessoas com 65 anos e mais (alguns anos) caem dentro de casa

      SUS - Sistema Único de Saúde (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

      Você lembra da arma apresentada pelo monólito ao futuro homem, em 2001, “A space odyssey”, lançado em 1967, com direção de kubrick? Era um osso, um fémur bem desgastado pelo uso, que certamente causou algumas mortes. Ver aquele fémur usado como arma assusta o espectador, mas é um fragmento da evolução humana. 

      O fémur é um osso muito forte e resistente, capaz de suportar 1.230 kgs por cm2.  Articula-se com a bacia, sendo fundamental para   o movimento do corpo. Mas sua durabilidade decai com o tempo. É comum pessoas com mais de 65 anos terem perdas de massa óssea, fragilizando seus ossos. E nas quedas ele se rompe, na clássica “fratura do colo do fémur”. Extremamente dolorosa, ela só tem tratamento cirúrgico. Não é um procedimento simples. Normalmente exige a instalação de parafusos, pinos e mesmo, próteses. 

      Essa cirurgia deveria ser feita rapidamente, em até 48 horas após a estabilização do quadro clínico. Mas no Brasil é comum encontrarmos pessoas lesionadas há mais de 14 dias aguardando o procedimento. A recuperação dessa cirurgia costuma ser lenta e traumática. A taxa de recuperação é baixa.  Só 25% dos lesionados atingem a plena recuperação. E 40% ficam com sequelas do movimento, não poderão viver de modo independente. Um em cada quatro idoso acidentado vem a falecer nos 12 meses seguintes a cirurgia. 

       Pessoas com lesão no fémur podem ser acometidos de trombose, pneumonia e infeções urinárias, que, nesses casos, podem levar a morte (https://www.into.saude.gov.br/lista-dicas-dos-especialistas/190-femur/281-fratura-de-colo-de-femur). 

      Cerca de 70% das pessoas com 65 anos e mais (alguns anos) caem dentro de casa. Elas ocorrem maioritariamente nos banheiros. Mas também nas cozinhas, escadas e jardins. O custo desses acidentes é alto para o SUS. Entre 2015 e 2020 o SUS registou 328 mil acidentes com idosos envolvendo a quebra do fémur. Cada tratamento custou, em média 50 mil reais, o que totaliza R$ 16,4 bi. 

      Minha sugestão é simples, o SUS deveria mandar pedreiros para as casas dos idosos, munidos de furadeira, brocas, chaves de fenda e barras de apoio, quê, uma vez instaladas, diminuem os riscos de acidentes. Essa iniciativa inicialmente abarcaria os 6,5 milhões de idosos que moram sozinhos, a um custo de menos de 500 reais por domicílio.  Dá até para dar a cada idoso uma sandália para substituir as universais havaianas, presentes nas quedas e inadequadas para idosos. A empresa e suas clones não estimulam seu uso por idosos. Mas o baixo preço estimula seu uso. 

      Me parece ser muito mais coerente o SUS atuar na prevenção as fraturas, auxiliando a identificar os pontos que favorecem as quedas em cada residência. Parece uma ideia estupida? Então veja como a China cuida dos seus idosos, apoiando cada um deles com adaptações em escadas, portas, banheiros, etc.  

      O Brasil deve muito aos seus idosos, especialmente os mais longevos, na faixa de 70+. Foi essa geração responsável pelo crescimento do PIB nos anos 60-70, desbravando regiões pioneiras e trabalhando longe das melhores condições. 

      A senhora Joventina Ferreira Pinto, de 90 anos de idade era uma idosa muito ativa, inclusive politicamente, na cidade de Itaobim – MG, região do Jequitinhonha.  Ela nunca sequer soube da existência de um filme sobre a brutalidade da evolução humana.  Mas viu muitas quedas de idosos em sua vida. Como sua, em 11/02. Ela foi levada a Teófilo Otôni, onde 23 dias depois da queda, foi operada. Faleceu após a cirurgia, de complicações cardíacas. Ela era mãe de minha esposa. Ela é credora de nosso Welfare State tupiniquim, sedento de sangue e antropofágico.   

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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