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    Paola Jochimsen

    Paola Jochimsen é doutoranda em Filosofia pela Universidade de Coimbra, Mestre em Romanistik pela Albert-Ludwigs-Universität Freiburg (Alemanha). Membro do Coletivo Brasil-Alemanha pela Democracia.

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    Para onde caminha a Alemanha?

    Veja os perfis dos principais candidatos ao mais alto cargo do governo alemão

    Europa (Foto: Arquivo Pessoal)

    As eleições federais de 2025 na Alemanha ocorrem em um momento de intensos desafios globais e internos. O impacto da guerra na Ucrânia, o encolhimento da economia alemã e a série de ataques realizados por refugiados vem moldando o debate político. Os principais candidatos e partidos apresentam diferentes visões para lidar com essas crises, ao mesmo tempo que enfrentam questões como a economia nacional, a imigração e o desenvolvimento tecnológico cada vez mais atrasado. Apresento um breve perfil dos principais candidatos ao mais alto cargo do governo alemão.

    Friedrich Merz (CDU/CSU)

    Nas eleições federais antecipadas na Alemanha, o bloco CDU/CSU é liderado por Friedrich Merz, advogado de 69 anos e atual presidente da União Democrata Cristã (CDU). Ele iniciou sua carreira política em 1989 como membro do Parlamento Europeu e, em 1994, foi eleito para o Bundestag, onde permaneceu até 2002. Ele foi presidente do conselho de supervisão da BlackRock Deutschland (2016-2020). Nessa função, Merz atuou como consultor estratégico e facilitador de contatos da empresa com o setor político e econômico da Alemanha. Sua passagem pela BlackRock gerou polêmicas, especialmente devido ao debate sobre a influência de grandes gestoras de ativos na política e na economia alemã. Retornou à política em 2021, assumindo a liderança da CDU.

    Merz é conhecido por suas posições conservadoras, defende cortes de impostos, desregulamentação econômica e políticas de incentivo ao empreendedorismo. Ele também propõe um papel mais assertivo da Alemanha na política global, com apoio firme à Ucrânia no conflito contra a Rússia, um alinhamento próximo com Israel e defende negociações de paz no Oriente Médio. Assumiu a pauta da imigração depois dos últimos acontecimentos relacionados a ataques terroristas cometidos por refugiados. Sua candidatura busca atrair eleitores que simpatizam com propostas que também são pautadas pela AfD estabilidade, experiência e políticas econômicas de mercado, especialmente em tempos de crise.

    Olaf Scholz (SPD)

    Olaf Scholz, atual chanceler federal da Alemanha, é o candidato do Partido Social-Democrata (SPD) à reeleição. Advogado de formação, Scholz começou sua trajetória política em 1975 como membro da Juventude Socialista do SPD. Em 1998, foi eleito para o Bundestag, consolidando sua carreira como prefeito de Hamburgo (2011–2018) e ministro das Finanças (2018–2021), antes de assumir o cargo máximo em 2021.

    Durante seu mandato, Scholz liderou a Alemanha em um momento de crises globais, como a pandemia de Covid-19, a Guerra na Ucrânia e os bombardeios de Israel ao território da Palestina. Ele defende o envio de armas e o fortalecimento das sanções contra a Rússia, além de apoiar Israel no conflito na Palestina, enquanto promove a solução de dois Estados como alternativa para a paz. Foi responsável pela demissão de Christian Lindner (FDP), Ministro da Economia e Finanças  decretando o fim da Coalizão Semáforo (Ampelkoalition). Uma figura de posição bastante ambígua e considerado sem carisma no cenário político alemão. Em sua campanha, Scholz enfatiza a continuidade de suas políticas de proteção social, investimentos em infraestrutura sustentável e estabilidade para a Alemanha, ainda enfrenta uma série de críticas sobre a coesão da coalizão governamental.

    Alice Weidel (AfD)

    Alice Weidel, economista de 45 anos, é a candidata do partido Alternativa para a Alemanha (AfD). Ela ingressou na política em 2013, quando o AfD foi fundado, e rapidamente ascendeu como uma das principais vozes do partido. Desde 2017, é co-líder da bancada do AfD no Bundestag.

    Antes de entrar na política, Weidel trabalhou no setor financeiro, incluindo uma passagem pelo banco Goldman Sachs.

    Conhecida por sua postura nacionalista, Weidel se opõe ao envolvimento da Alemanha em conflitos externos, como o envio de armas à Ucrânia e defende o fim das sanções contra a Rússia. No caso da Palestina, ela propõe uma política de não intervenção, focando nos interesses nacionais. Conhecida negacionista climática, ela tem uma postura dura em relação à imigração e uma proposta de campanha pela saída da Alemanha da União Europeia. Nos últimos meses se envolveu em várias polêmicas, entre elas dizer em entrevistas que Hitler era um político de esquerda e ter uma estreita cooperação com o Elon Musk. Sua candidatura atrai eleitores descontentes com o governo atual e busca consolidar o partido como uma força de oposição às políticas progressistas.

    Robert Habeck (Bündnis 90/Die Grünen)

    Robert Habeck, vice-chanceler federal e ministro da Economia, é o candidato do Partido VERDE. Ele começou sua carreira política em 2002, quando ingressou no parlamento estadual de Schleswig-Holstein (norte do país). Em 2018, assumiu a co-liderança do partido, ao lado de Annalena Baerbock (atual ministra das Relações Exteriores), e se tornou uma das principais figuras dos Verdes no governo Scholz.

    Habeck é conhecido por seu compromisso com a sustentabilidade e pela defesa da transição energética. Desde o início da guerra na Ucrânia, ele tem sido um dos defensores mais ativos das sanções contra a Rússia e da redução da dependência de combustíveis fósseis. Ele também busca um papel mais ativo da Alemanha em negociações de paz no Oriente Médio, com foco na solução do conflito israelense-palestino. Apoia a ideia de que aimigração de trabalhadores qualificados é urgentemente necessária para a economia alemã. O que inclui não ter que esperar anos por um visto e reconhecimento das qualificações profissionais sejam realizados com maior brevidade. Sua campanha apela a eleitores progressistas e ambientalistas, prometendo acelerar a transformação ecológica da Alemanha.

    Christian Lindner (FDP)

    Christian Lindner, economista de 46 anos, é o líder do Partido Democrático Liberal (FDP). Ele ingressou na política em 1995, aos 16 anos, como membro da Juventude Liberal. Em 2000, foi eleito para o parlamento estadual de Renânia do Norte-Vestfália, e em 2013 assumiu a liderança nacional do FDP, ajudando a reconstruir o partido após uma derrota histórica nas eleições de 2013. Pela primeira vez desde a fundação da República Federal da Alemanha (RFA) em 1949, o partido não conseguiu ultrapassar a cláusula de barreira de 5% dos votos válidos para entrar no Bundestag (Parlamento Federal).

    Como Ministro das Finanças da Alemanha (2021-2024), foi o principal defensor da Schuldenbremse (freio da dívida), insistindo no retorno à disciplina fiscal após as crises da pandemia e da guerra na Ucrânia. Sua postura rígida gerou conflitos dentro da coalizão governamental, especialmente com o SPD e os Verdes, que defendiam mais investimentos públicos. A crise orçamentária de 2023-2024 intensificou essas tensões, e sua insistência na austeridade foi um dos fatores que levaram à sua demissão em novembro de 2024. Ele apoia as sanções contra a Rússia, mas alerta para seus impactos econômicos. Em relação ao conflito na Palestina, Lindner adota uma postura pró-Israel, mas defende soluções diplomáticas para evitar uma maior escalada. Sua candidatura foca no fortalecimento da economia, na inovação tecnológica e na defesa de uma política fiscal rigorosa.

    Heidi Reichinnek e Jan van Aken (Die Linke)

    O Die Linke apresenta uma candidatura conjunta com Heidi Reichinnek e Jan van Aken, representando diferentes gerações e visões dentro do partido. Heidi Reichinnek, socióloga de 35 anos, atualmente é deputada no Bundestag e presidente da organização de mulheres do Die Linke. Ela representa uma geração progressista dentro do partido e é conhecida por sua defesa de questões de gênero, justiça social e igualdade de oportunidades. Sua campanha busca atrair eleitores jovens e progressistas, com foco em reformas sociais como o aumento do salário mínimo, a regulamentação de aluguéis e a implementação de políticas inclusivas para mulheres e minorias.

    Jan van Aken, de 62 anos, é biólogo e ex-inspetor de armas biológicas nas Nações Unidas, além de ter sido deputado no Bundestag entre 2009 e 2017. Ele representa a ala mais tradicional do Die Linke, com um foco maior em questões internacionais, ambientais e de segurança global. Sua experiência internacional reforça a credibilidade do partido em temas como desarmamento, diplomacia e justiça climática. Com essa dupla candidatura, o Die Linke tenta ampliar seu apelo eleitoral, conciliando as demandas de eleitores mais jovens e progressistas com as expectativas de um público mais tradicional e preocupado com questões globais. A estratégia busca destacar a pluralidade de ideias dentro do partido e sua capacidade de abordar uma ampla gama de temas nas eleições de 2025.

    Voto Presencial: A Forma Predominante de Participação

    Embora o voto por correspondência (Briefwahl) tenha ganhado popularidade ao longo dos anos, o voto presencial ainda é a forma predominante de participação nas eleições alemãs. A maioria dos eleitores prefere comparecer pessoalmente às urnas no dia da eleição, reforçando o envolvimento direto no processo democrático.

    O voto presencial ocorre em locais de votação espalhados por todo o país, organizados de forma eficiente para garantir o acesso dos eleitores. Cada cidadão registrado recebe informações detalhadas sobre onde e como votar, incluindo o horário de funcionamento das seções eleitorais, que geralmente vão das 8h às 18h. Esse formato é amplamente valorizado por garantir o sigilo absoluto do voto em cabines protegidas, além de ser visto como uma tradição democrática importante. A presença física no local de votação simboliza o compromisso cívico dos eleitores e a transparência do processo eleitoral.

    Voto por Carta: Uma Alternativa Crescente

    Apesar da predominância do voto presencial, o voto por correspondência continua a ganhar espaço, especialmente entre eleitores que buscam maior conveniência. Ele pode ser solicitado sem necessidade de justificativa e é amplamente utilizado por pessoas que enfrentam dificuldades para comparecer fisicamente às urnas, como idosos, eleitores em viagem ou com questões de saúde.

    O voto por carta é considerado seguro e possui diversas medidas para garantir sua integridade. Apenas eleitores registrados podem solicitá-lo, e o material de votação é enviado diretamente ao endereço cadastrado. Cada cédula é acompanhada por um formulário de declaração (Wahlschein), que exige a assinatura do eleitor, confirmando que o voto foi preenchido pessoalmente. As cédulas são colocadas em um envelope secreto antes de serem enviadas, garantindo o sigilo do voto. A contagem dos votos por correspondência é feita sob supervisão pública, com representantes de diferentes partidos presentes para acompanhar o processo. Apesar de preocupações pontuais, como atrasos postais, o sistema tem um histórico confiável e desempenha um papel importante para aumentar a participação eleitoral em um cenário tão competitivo como o de 2025.

    O que dizem as pesquisas?

    Wahlrecht.de
    Estatísticas. Foto: Wahlrecht.de

    Os eleitores alemães enfrentam escolhas difíceis em 2025, com cada candidato apresentando propostas distintas para lidar com crises internacionais e desafios internos. O futuro do país será decidido em um contexto de incertezas globais, onde questões como economia, sustentabilidade, fake News, política externa e imigração desempenham papéis centrais.

    As pesquisas recentes divulgadas pelo Wahlrecht no dia 29 de janeiro de 2023, o site também disponibiliza dados atualizados sobre resultados eleitorais, apontam para uma vitória apertada de Friedrich Merz, candidato da CDU/CSU (Union). Segundo a última pesquisa divulgada pelo com aproximadamente 29% das intenções de voto, consolidando sua posição como o favorito. Em segundo lugar aparece a AfD (Alternativa para a Alemanha), com 23%, evidenciando o crescimento significativo da extrema direita. O SPD (Partido Social-Democrata), de Olaf Scholz, ocupa o terceiro lugar com 15%, seguido pelo Bündnis 90/ Die Grünen de Robert Habeck, com 13%.

    Partidos menores enfrentam dificuldades para superar a cláusula de barreira de 5% (Sperrklausel). Pois nas pesquisas o percentual de votos tem oscilado entre 3% e 6%. O BSW (Bündnis Sahra Wagenknecht) aparece com 6%, o FDP (Partido Democrático Liberal) com 3%, e o Die Linke com 5%. Outros partidos somam cerca de 5%. Esse cenário reflete um quadro eleitoral fragmentado, onde a concorrência por votos é intensa. Como na Alemanha o voto não é obrigatório, a taxa de comparecimento este ano será um fator decisivo para os resultados finais.

    Possibilidades de Coalizão

    As eleições de 2025 apresentam um cenário político fragmentado, tornando indispensáveis as negociações para a formação de coalizões. Se for consolidada a vitória CDU/CSU no próximo pleito é possível prever possíveis alianças. A coalizão mais provável seria uma aliança entre CDU/CSU, SPD e Bündnis 90/ Die Grünen. Essa aliança ampla uniria os dois maiores partidos e o Bündnis 90/ Die Grünen, garantindo estabilidade política e governabilidade. Outra possibilidade viável é a coalizão tradicional entre CDU/CSU e SPD, uma combinação que historicamente já governou a Alemanha e que dependeria de concessões significativas em temas econômicos e sociais.

    Uma alternativa seria a aliança entre CDU/CSU e Bündnis 90/ Die Grünen, conhecida como “coalizão Jamaica” (preto e verde). Apesar de possível, essa combinação pode enfrentar desafios devido a diferenças ideológicas, especialmente em questões climáticas e econômicas. Coalizões menores, como CDU/CSU com o FDP, ou alianças envolvendo a AfD, têm chances muito reduzidas, devido à fragmentação política e ao isolamento da extrema-direita no cenário eleitoral.

    Portanto, o futuro Bundestag dependerá de amplas negociações e acordos que equilibrem estabilidade política e interesses partidários, destacando o possível papel central da CDU/CSU nas próximas negociações.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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