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    Reimont Otoni

    Deputado federal (PT-RJ), vice-líder do PT na Câmara e membro da Comissão de Trabalho

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    Para que nunca mais aconteça

    "Precisamos mostrar esse passado à sociedade, em nome das mulheres e homens perseguidos por uma ditadura que torturou e assassinou opositores", diz Reimont

    (Foto: Evandro Teixeira)

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    A memória é ferramenta indispensável à Democracia.

    Eu era pouco mais do que um bebê quando o golpe militar-empresarial de 1964 iniciou uma ditadura de 21 anos no Brasil. Não tenho qualquer lembrança daquele 1º de abril, quando eu tinha pouco mais de três anos de idade e fazia as primeiras grandes descobertas da infância, na então bem pequena Conceição do Mato Dentro, em Minas Gerais, onde nasci.

    Quando a ditadura terminou, em 1985, eu era um homem de 24 anos e estava no seminário. Daquele período, trago muitas lembranças e memórias da história do nosso país. Mesmo as mais tristes, carrego comigo e transmito aos que me acompanham, convido à reflexão sobre elas, luto por reparações e por justiça, um preceito civilizatório indispensável para a construção social.

    Lembro a tensão que vivíamos na Igreja. Entre as mais de 50 mil vítimas da intolerância política, estima-se que mais de 300 foram religiosos e religiosas, sendo 13 assassinados e centenas de presos, em uma lista que incluiu os bispos Dom Aloísio Lorscheider, então bispo da Diocese de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, e secretário-geral da CNBB; Dom Pedro Casaldáliga, bispo da Prelazia de São Felix do Araguaia, no Mato Grosso; Dom Alano Pena, então bispo da Prelazia de Marabá, no Pará; de Dom Estevão Avelar, então bispo de Conceição do Araguaia, também no Pará; Dom Waldir Calheiros, então bispo da Diocese de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, e Dom Adriano Hipólito, bispo da Diocese de Nova Iguaçu, também no Rio.

    Lembro do compromisso e da resistência desses e de tantos outros, na luta contra a ditadura, em defesa dos mais empobrecidos, em defesa de uma sociedade justa, igualitária, democrática e fraterna.

    A memória é uma ferramenta indispensável à Democracia, não podemos apagá-la.

    Precisamos lembrar e mostrar esse passado à sociedade, em nome das mulheres, homens e até mesmo crianças perseguidas por uma ditadura que prendeu, demitiu, torturou, exilou, assassinou seus opositores e desapareceu com centenas de vítimas, que jamais puderam ser veladas e enterradas. Uma ditadura que subjugou o Congresso, implantou a censura e o arrocho salarial, calou sindicatos e levou o país à bancarrota.

    Precisamos mostrar a verdadeira face da ditadura e combater o seu poder de sedução junto aos mal informados.

    Neste dia 1º de abril de 2024, estarei junto com a Marcha da Democracia que sairá do Rio de Janeiro até Juiz de Fora, em Minas Gerais, percorrendo um caminho inverso ao das tropas golpistas de 1964, celebrando a vida dos que sobreviveram e homenageando os que tombaram. É o nosso dever-cidadão, em defesa da Memória, da Verdade e da Justiça. E também em defesa da Democracia.

    A tragédia de 1964 tentou se repetir em 2023 e mantém seus olhos compridos e garras afiadas, sempre à espreita. O nosso escudo mais poderoso é a História, é conhecer e divulgar a História.

    Precisamos falar e falar e falar sobre isso, sempre e ainda uma vez, para que nunca mais aconteçam nem primeiros de abril, nem oitos de janeiro.

    Sem anistia para golpistas!

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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