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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    Participar de manifestação não pode. Mas de genocídio pode?

    "A população não está ligando para a relação Pazuello-Forças Armadas. A sensação geral é a de que, por enquanto, está tudo dominado. Mandem Pazuello para a reserva, livrem-se dos seus maus modos e passem a pensar no que fazer com Bolsonaro", diz Moisés Mendes

    O general e o capitão desfilando no Rio (Foto: Reproudução)

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    A presença de Eduardo Pazuello ao lado de Bolsonaro, no desfile dos motoqueiros no Rio, preocupa os militares. É o que os jornalões informaram, com suas fontes encobertas, logo depois da manifestação.

    Dizem que a aparição de Pazuello causa apreensão pelas questões política e disciplinar e que por isso ele deve ser mandado para a reserva. Mas um ato desse porte é algo que não deveria preocupar, e vamos mostrar os motivos mais adiante.

    Pazuello não deveria estar ali, segundo o Estatuto dos Militares e Regulamento Disciplinar do Exército. Vamos ver que, no contexto dos desatinos da pandemia, a performance, que teve até discurso, não parece tão grave.

    Primeiro, é estranho que o alto comando do Exército esteja preocupado com Pazuello numa manifestação, se ele fez coisa muito pior como ministro da Saúde. O militar é acusado de ter participado, por ações e por omissão, de um genocídio.

    Mesmo assim, a imagem das Forças Armadas parece estar blindada. Altos oficiais foram expulsos há pouco do comando das três armas e do Ministério da Defesa, por se negarem a ser cúmplices de blefes de golpe, e não aconteceu nada de mais grave.

    Uma evidência de que a imagem das Forças Armadas talvez não sofra danos irreparáveis é a última pesquisa do Datafolha sobre a presença dos militares no governo.

    A pesquisa saiu no sábado. É a terceira em que o instituto da Folha pergunta se os militares devem ocupar cargos no governo.

    A amostragem mostrou que 54% dos entrevistados são contrários à presença dos militares e que 41% são favoráveis. Exatamente um ano atrás, 52% eram contra e 43% eram favoráveis.

    A contrariedade mudou muito pouco, apenas dois pontos, mesmo depois da demissão do ministro da Defesa, Fernando de Azevedo e Silva, dos três comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica, e das confusões com Pazuello.

    Em abril de 2019, na primeira pesquisa, no quarto mês do governo Bolsonaro, apenas 36% consideravam a presença dos militares negativa e 60% aprovavam a participação.

    É natural, com os desgastes que os militares sofreram no governo (mais de uma dúzia de generais foi mandada embora por Bolsonaro), que o apoio de 60% tenha caído para 43% de 2019 para 2020.

    Mas não caiu quase nada de 2020 para 2021. E a pesquisa deste ano foi feita menos de dois meses depois da limpeza no comando militar em 30 de março. É quase o mesmo tempo desde a demissão de Pazuello em 15 de março.

    Pazuello ficou um ano no Ministério da Saúde, saiu como um dos responsáveis pelo genocídio, e a pesquisa não mostra nenhum grande abalo na imagem dos militares no governo Bolsonaro.

    O eleitor médio se mostra indiferente aos estragos que Pazuello promoveu como ministro e pela sua proximidade com Bolsonaro. E a crise da demissão dos comandantes também parece algo distante da população.

    É provável até que Pazuello não tenha mais sua imagem pessoal associada à imagem das Forças Armadas. Pazuello pode ter passado a ser um ente à parte.

    Quando ele aparece de máscara na manifestação no Rio e tira a máscara quando se aproxima de Bolsonaro, Pazuello arranja um jeito de bater continência para o tenente.

    Pazuello respeita Bolsonaro, sem máscara, como o sujeito exige, e talvez não esteja nem ligando para o que os jornais chamam genericamente de “cúpula do Exército”. Bolsonaro mandou embora todas as cúpulas das três armas e tudo continuou como antes.

    É provável que a imposição de Bolsonaro se sobreponha a eventuais temores de militares da ativa. Que poder têm esses militares para manifestar desconforto com a militância de Pazuello, com suas mentiras na CPI e com a adesão absoluta e incondicional aos comandos da extrema direita no poder?

    São perguntas que ninguém sabe responder direito, nem os que que estão dentro da baleia. Que poder têm os militares desconfortáveis com o genocídio diante do poder de Braga Netto ou dos filhos de Bolsonaro?

    É ruim, é vexatório, é uma vergonha histórica, mas talvez os altos comandos não consigam fazer nada que impeça o acesso de Pazuello, mesmo como ex-ministro, aos eventos com Bolsonaro.

    Talvez seja o caso de relaxar um pouco, de não levar tudo tão a sério. O que o Datafolha diz com a última pesquisa é que ninguém deve se estressar muito com imagem das Forças Armadas.

    A população não está ligando para a relação Pazuello-Forças Armadas. A sensação geral é a de que, por enquanto, está tudo dominado. Mandem Pazuello para a reserva, livrem-se dos seus maus modos e passem a pensar no que fazer com Bolsonaro.

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    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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