Partidos verdes crescem em meio à onda populista de direita na Europa. Uma luz no fim do túnel?
Embora ainda seja cedo para mensurar o poder de crescimento e consolidação dessa tendência no campo da esquerda, as “ondas verdes” surgem como uma grata surpresa diante de um cenário internacional que lembra muito o período entre-guerras
Criado na década de 1970 na Austrália a partir de uma organização que se reuniu para impedir a drenagem do Lago Pedder para construção de uma hidroelétrica, o primeiro Partido Verde se tornou referência para ativistas ambientais e motivou a criação de partidos com nome e ideologia similares pelo mundo todo, principalmente na Europa.
Tendo como plataforma comum o ambientalismo, os partidos verdes e similares se organizam conforme as características de cada país, transitando entre a centro-direita e a centro-esquerda no decorrer das décadas.
Antes vistos com desconfiança pela esquerda política, devido a posições consideradas conservadoras, os partidos com inspiração “verde” agora se apresentam como importantes aliados ou alternativas para conter o avanço do populismo e a extrema direita, principalmente na Europa. Os números demonstram avanços eleitorais inéditos, que tem conquistado presença significativa nos parlamentos e já almejam até mesmo liderarem governos no Velho Mundo.
Na Alemanha, o partido “Os Verdes” se tornou a segunda força alemã no parlamento da União Européia e freou o crescimento da extrema-direita, além de conseguir relevantes resultados nas eleições municipais. Na França, o “Europa Ecologia - Os Verdes” (EELV), conseguiu eleger prefeitos para algumas das maiores cidades, além de compor a coligação da reeleita prefeita de Paris, a socialista Anne Hidalgo, colocando-se como principal força em ascensão da esquerda francesa. Em Portugal, o PEV (Partido ecologista Os Verdes) e, na Espanha, o ICV (Iniciativa pela Catalunha Verde) compõem os respectivos governos de centro-esquerda, além do “Alternativa Verde” da Áustria, que já esteve no poder em 2016 hoje compõem o governo conservador do Partido Popular Austríaco, são exemplos de uma tendência que parece estar se consolidando no continente europeu.
Isso posto, é preciso refletir as causas e conseqüências deste cenário. A principal estratégia dos grupos de extrema-direita se baseia em atacar seus adversários eleitorais, criando e propagando toda sorte de “fake news” em redes sociais, a fim de deslegitimar não apenas os partidos e correntes políticas tradicionais, mas também a própria ordem democrática, se mostrando como o “novo” capaz de solucionar os problemas nacionais que seriam fruto do próprio “sistema”.
Nesse ínterim, os eleitores que deixam de apoiar os partidos tradicionais de esquerda, passam a enxergar em partidos que não são levados pelos ataques populistas, uma alternativa para depositar seu apoio. Nesse contexto, os partidos verdes com sua ideologia de ambientalismo e sustentabilidade, acabam por herdar tal eleitorado, principalmente entre os jovens. Este processo gera um crescimento do apoio aos verdes, que se tornam opção principalmente por geralmente estarem à margem dos acordos e associações entre os grandes partidos tradicionais. Mas ao mesmo tempo, nesse momento, se posicionam ao lado deles, participando ou podendo criar coligações que garantam a preservação da democracia e dos princípios de estado social.
Embora ainda seja cedo para mensurar o poder de crescimento e consolidação dessa tendência no campo da esquerda, as “ondas verdes” surgem como uma grata surpresa diante de um cenário internacional que lembra muito o período entre-guerras. Mas somente o tempo dirá como se comportarão uma vez no poder e como a esquerda reagirá a cada vez mais bandeiras verdes em um campo onde predominam desde sempre bandeiras vermelhas em diferentes tons.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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