Pazuello consegue irritar ao mesmo tempo senadores e militares
“Além do desrespeito ao protocolo sanitário, o ex-ministro também infringiu o regulamento militar pois, como general da ativa, não poderia participar de ato político sem autorização dos seus superiores hierárquicos”, destaca o colunista Ribamar Fonseca, que lembrou participação de Eduardo Pazuello em ato bolsonarista no Rio de Janeiro
No auge da fúria privatizacionista do governo Fernando Henrique o saudoso Itamar Franco fez o seguinte comentário: “Nesse ritmo só vai sobrar o pau da bandeira”. A História se repete. O governo Bolsonaro vai privatizar a Eletrobrás, está vendendo a Petrobras esquartejada, já privatizou aeroportos e loteou a Amazônia, tudo com a autorização da Câmara dos Deputados sob o comando de Artur Lira. E já há rumores de que o capitão também planeja privatizar os rios brasileiros, o que obrigará os pescadores ao pagamento de pedágio. Nesse ritmo, se Bolsonaro permanecer no cargo até o final do mandato não vai sobrar nem o pau da bandeira, o que significa que se ele não for afastado o mais rápido possível, depois de 31 de dezembro de 2022, o Brasil será apenas uma lembrança no mapa da América do Sul: simplesmente vai desaparecer com o que sobrar da população dizimada pelo coronavírus.
O presidente Bolsonaro já demonstrou, diversas vezes, que não está nem um pouco preocupado com as milhares de mortes provocadas pela pandemia da covid. No último domingo provocou mais uma vez aglomerações, sem o uso de máscaras, desfilando com motoqueiros no Rio de Janeiro. E na manifestação contou com a presença do seu fiel escudeiro Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, que, contrariando o que disse à CPI, estava sem máscara e sorridente ao lado do chefe. Além do desrespeito ao protocolo sanitário, o ex-ministro também infringiu o regulamento militar pois, como general da ativa, não poderia participar de ato político sem autorização dos seus superiores hierárquicos. Como vai ser convocado para novo depoimento na CPI da Covid, por conta das suas escandalosas mentiras, ao comparecer ao ato Pazuello acabou fornecendo munição para os membros da comissão e desta vez, ao que parece, não terá a proteção do HC do Supremo.
Indiferente à situação da pandemia no Brasil, com mais de 400 mil mortos, Bolsonaro continua promovendo aglomerações e desfilando, ora montado num cavalo ou numa moto, em busca de aplausos, como se fosse um pop star. Ele provavelmente acredita que com esses desfiles convocados por ele mesmo está ampliando a sua popularidade e, consequentemente, garantindo mais votos para as eleições do próximo ano, o que evidencia a sua completa alienação porque todas as pesquisas mostram que ele está em queda livre, bem atrás de Lula na preferência do eleitorado. E se não aparecer outro Sergio Moro para forjar processos e retirar o ex-presidente da sucessão presidencial, o capitão estará com seus dias contados no Palácio do Planalto, onde entrou por um aborto do sistema democrático. Ele deve achar, no entanto, a julgar por suas frequentes declarações invocando a força militar, que conseguirá se manter no poder pelas baionetas das Forças Armadas, mas na verdade não tem o apoio da tropa.
Ele se esforça para parecer apoiado pelas Forças Armadas, inclusive levando o atual ministro da Defesa, general Braga Neto, a fazer discurso do palanque armado para a manifestação de Brasília que, organizada por empresários do setor agropecuário, reuniu um punhado de apoiadores que pediam intervenção militar. Tudo orquestrado por ele mesmo. A presença de Braga Neto, no entanto, longe de representar união da tropa em torno do seu nome, na realidade acabou ampliando o racha entre os militares que não admitem o envolvimento das Forças Armadas em política e, muito menos, nas maluquices do capitão. Alguns generais da reserva, como Santos Cruz e Paulo Rocha, por exemplo, já se manifestaram contra a presença de militares nessas manifestações, condenando inclusive a iniciativa do ministro da Defesa.
Depois da motocada de domingo, com a participação de Pazuello, que mais uma vez evidenciou o desprezo de Bolsonaro pelas milhares de vidas perdidas, cresceu a indignação popular contra o comportamento irresponsável do Presidente que, ao que parece, pretende mesmo afrontar o país ao provocar aglomerações e dispensar a máscara. Prova disso é que usou máscara na posse do novo presidente do Equador. Como consequência, o seu afastamento tomou conta das ruas, onde o povo pede o seu impeachment, com o apoio de artistas e intelectuais. Ele provavelmente está confiante no presidente da Câmara, Arthur Lira, e no “Bolsolão” que, mantido pelo orçamento secreto, lhe assegura os votos de que precisa para manter-se no cargo. Infelizmente a maioria dos integrantes da atual Câmara dos Deputados, uma vergonha para o país, não se importa com os danos à Nação e à morte dos seus eleitores, resultado dessa política desastrosa do capitão, estando mais preocupada com os seus próprios interesses. Foi a pior composição da Câmara Baixa em toda a história da democracia brasileira, razão porque a grande maioria não deverá voltar na próxima legislatura.
Parece que se depender de Artur Lira, sem nenhuma disposição para levantar-se de cima dos mais de 100 pedidos de impeachment que deram entrada na Câmara desde a gestão de Rodrigo Maia, Bolsonaro não deixará o Planalto antes de 31 de dezembro de 2022, apesar dos crimes de responsabilidade praticados e comprovados pela CPI da Covid. Portanto, a não ser que seja afastado por decisão do Supremo Tribunal Federal ou do Tribunal Superior Eleitoral, possibilidade aparentemente remota, ele vai continuar desfilando todo fim de semana sobre os cadáveres da pandemia. Como já se fantasiou de vaqueiro e motoqueiro, desfilando montado em cavalo e moto, é possível que no próximo final de semana se apresente como skatista, ciclista, surfista ou qualquer outra coisa que lhe permita reunir um punhado de irresponsáveis sem máscara. Na próxima vez, no entanto, não deverá ter Pazuello ao seu lado, pois o general deverá ter sido punido pelo Exército, por ter violado o seu regulamento, e pela CPI, por ter mentido. Pelo menos é o que os acontecimentos prenunciam.
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