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    José Reinaldo Carvalho

    Jornalista, editor internacional do Brasil 247 e da página Resistência: http://www.resistencia.cc

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    PCdoB: 100 anos de luta por direitos do povo, democracia, independência nacional e socialismo

    Primeira parte de artigo sobre o partido mais antigo do Brasil. Um século de existência, um partido das lutas do presente, voltado também para o futuro

    (Foto: Divulgação)

    Por José Reinaldo Carvalho - O Partido Comunista do Brasil completa 100 anos de existência. Fundado a 25 de março de 1922 como Seção Brasileira da Internacional Comunista (SBIC), à qual adere com a aceitação das suas 21 condições estatutárias, surge da unificação dos diferentes grupos comunistas, herdeiros de correntes socialistas e anarquistas europeias ligadas à intensa imigração ocorrida no país entre finais do século 19 e inícios do 20, quando começava a desenvolver-se o incipiente capitalismo nacional, herdeiro do escravismo colonial.

    Os primeiros anos de existência, durante os quais adotou a sigla PCB, foram marcados pela tentativa de implantação no movimento sindical, quando a luta social era considerada caso de polícia, de propaganda rudimentar das ideias socialistas e do ideal comunista, e de inserção na vida política. Em 1925 lançou o jornal A Classe Operária. Em 1927 criou o Bloco Operário Camponês que disputou eleições  legislativas municipais e estaduais e lançou a candidatura do operário Minervino de Oliveira à Presidência da República em 1930. 

    A existência de uma vanguarda política vinculada às aspirações fundamentais dos trabalhadores, originada da luta de classes e que desde sempre adotou como programa máximo a conquista do poder político para construir o socialismo no Brasil, nunca esteve desvinculada da realidade nacional nem das lutas democráticas e patrióticas emergentes em nossa sociedade. Mesmo quando cometeu erros graves, como o de se alhear de acontecimentos tão marcantes na vida do país, por exemplo a Revolução de 1930, o partido dos comunistas brasileiros nunca deixou de estar fortemente impregnado pelo caráter nacional e democrático das lutas sociais do povo.  

    A fundação do Partido Comunista do Brasil, naquele longínquo 25 de março de 1922 correspondeu a uma necessidade objetiva do desenvolvimento das lutas sociais em nosso país, fez parte do ambiente de mobilizações democráticas e renovação cultural que contagiaram a classe operária da época, a intelectualidade, os setores médios e os militares patrióticos. Está inscrita na mesma cadeia de acontecimentos do qual fizeram parte a greve geral de 1917, a Semana de Arte Moderna de 1922 e as revoltas tenentistas. O Partido Comunista do Brasil nasceu em solo pátrio, deitou raízes na vida nacional e ao mesmo tempo nasceu com inspiração internacionalista, malgrado as insuficiências teóricas dos primeiros anos.

    A fundação do Partido Comunista guardou também relação direta com os acontecimentos mundiais do início do século 20, sendo o mais importante de todos a Grande Revolução Socialista de Outubro na Rússia de 1917, que deu origem ao primeiro Estado dos trabalhadores sob a liderança do partido comunista. Como a maioria dos partidos comunistas do mundo, quase todos existentes e em pleno funcionamento nos dias de hoje, o Partido Comunista do Brasil é um fruto daquela época de transformações revolucionárias que iriam marcar indelevelmente o século como o século das revoluções socialistas e das lutas pela libertação nacional e social, o século das lutas operárias, das lutas anticoloniais, pela democracia, a justiça social e a paz. É por isso que os comunistas brasileiros comemoraram com o mesmo júbilo o centenário da Revolução de Outubro, há cinco anos. Não por passadismo, dogmatismo, falta de espírito crítico e autocrítico, ou resistência a aceitar a derrota do socialismo no Leste Europeu em finais do século 20 e a necessidade de "ressignificá-lo", mas para realçar que os partidos que desfraldam e empunham sem tremer as mãos a bandeira do socialismo, da luta-anti-imperialista, da libertação nacional e social, são os legítimos herdeiros daquelas tradições revolucionárias fundadoras, portadores dos mesmos princípios e ideais e continuadores de suas lutas, mesmo em condições totalmente distintas. Foi esta convicção que manteve os comunistas brasileiros no campo do Movimento Comunista Internacional até os dias atuais.

    Partido de memoráveis lutas

    Durante um século, o partido dos comunistas brasileiros atravessou diferentes etapas em um prolongado e aturado processo de implantação na vida política e social do país. Protagonizou momentos gloriosos, lutas memoráveis e escreveu seu nome na história das lutas do povo brasileiro. Demonstrou ser um partido comprometido com as grandes causas nacionais e populares, com as conquistas do povo, os direitos sociais dos trabalhadores das cidades e do campo, a democratização do país no pós-Segunda Guerra Mundial, a Assembleia Constituinte de 1946, a vitória na luta contra a ditadura, a conquista da anistia, a Constituinte de 1987-88, os governos progressistas liderados por Lula e Dilma. 

    Ainda que sofrendo reveses, o Partido assumiu heroicamente batalhas radicais, que embora derrotadas, expressavam também o espírito de luta do povo e mostravam a disposição dos comunistas de aceitarem o percurso de caminhos difíceis em momentos históricos cruciais: a insurreição nacional libertadora de 1935, quando o fascismo se implantava na Europa e assomava por aqui, e a Guerrilha do Araguaia (1972-1975), em plena ditadura militar fascista. 

    A trajetória de construção do partido dos comunistas enfrentou dificuldades objetivas relacionadas com o reacionarismo do Estado brasileiro. O Partido foi golpeado e vitimado por ações de terrorismo de Estado, por políticas de extermínio conduzidas por governos ditatoriais. Pagou o elevado preço da clandestinidade e da perda em combate ou sob tortura e frio assassinato nos cárceres de centenas de militantes e quadros dirigentes. Foi um baluarte da luta pela liberdade.  

    Com toda a legitimidade, os militantes e quadros do PCdoB comemoram o transcurso do centenário da fundação do Partido. Também os amigos nacionais e internacionais, os companheiros de viagem, os aliados circunstanciais, patriotas e democratas de diferentes convicções ideológicas, compartilham com os comunistas a alegria de chegar aos 100 anos, saudando fraternalmente e desejando maiores vitórias a uma organização política que deitou tantas raízes no solo nacional e deixou tantas marcas na vida política e cultural do país ao longo de uma trajetória acidentada mas ininterrupta. Por qualquer ângulo de que se mire a história, não há como separar a vida republicana brasileira das lutas sociais e, desde os primeiros anos da década de 1920, da influência e do papel exercidos pelo Partido Comunista do Brasil. Desde sua fundação até os dias de hoje, foi enorme, em alguns casos decisiva, a presença, a influência, a direção dos comunistas nas lutas e vitórias dos trabalhadores e do povo brasileiro. 

    Em outra coluna publicarei a segunda parte deste artigo 

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    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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