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    Breno Altman

    Breno Altman é diretor do site Opera Mundi e da revista Samuel

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    Pelé é o grande soberano da história

    Pelé conquistou mais seguidores do que Cristo, Alá ou Marx. Sua genialidade dentro das quatro linhas inundava o planeta de felicidade, escreve Breno Altman

    Pelé (Foto: Reprodução/Twitter/Emmanuel Macron)

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    Breno Altman, 247 - Sua coroa é simbólica. Nunca liderou Estados e nações. Jamais exerceu o poder político ou comandou exércitos. Mas ninguém na história da humanidade teve mais súditos, que diante dele se ajoelhavam, em cinco continentes, para agradecer ou celebrar o espetáculo virtuoso.

    Pelé conquistou mais seguidores do que Cristo, Alá ou Marx. Era um simples futebolista, incapaz de resolver as dores e os dramas dos povos. Sua genialidade dentro das quatro linhas, porém, inundava o planeta de felicidade. Quando o lendário camisa dez estava em campo, as multidões se sentiam parte de um momento sublime.

    Não há comparação possível com qualquer outro jogador ou atleta. Vai além de números e façanhas, por si só inigualáveis. Fez mais de mil gols, conquistou três Copas do Mundo, chutava à perfeição com ambas pernas, era um cabeceador mortal, driblava como se fosse um mágico, foi o autor de passes antológicos e jogadas inesquecíveis, tinha um preparo físico que antecedeu em meio século as modernas tecnologias atuais. Sua estatura esportiva está muito além do que nossos olhos tenham visto antes ou depois.

    O que realmente importa, contudo, não pode ser registrado apenas em dados ou imagens. A soberania de Pelé reside no fato que ele se tornou o mito fundacional do futebol moderno, transformado em esporte de massas sob a vanguarda e o talento do grande craque.

    A estrela do Santos, antes dos dezoito anos, liderou a seleção que iria sacudir, com o triunfo no campeonato mundial de 1958, o complexo de inferioridade que tangia o Brasil a um autorretrato melancólico, de um gigante sem vez e servil às potências mundiais. Aquele time lancetou o “complexo de vira-latas”, como o dramaturgo Nelson Rodrigues chamava essa quase irresistível tendência nacional de cultuar o estrangeiro.

    Filho de seu tempo e de sua classe, em um país brutalmente racista e desigual, sua biografia não se encontra com as lutas populares. Tampouco está marcada por uma consciência política mais clara e comprometida. Os efeitos de sua arte sobre a psicologia social, no entanto, superam largamente os limites pessoais que não conseguiu ou não desejou romper.

    Acima de todos, foi Pelé quem mostrou aos brasileiros mais ferrados e marginais que eles também tinham direito à alegria. Um sentimento que seria espraiado mundo afora, através das partidas e torneios que disputou em dezenas de países da África, Ásia e América Latina, além da Europa.

    Fez-se soberano negro, diante de quem todos se curvavam, em um mundo de monarcas e colonizadores brancos. Incalculável o que isso pode ter representado para milhões e milhões de jovens encurralados pelo racismo, ainda que o exemplo não viesse acompanhado pelo discurso politizado.

    A verdade é que o Rei do Futebol ocupa, no esporte, um lugar semelhante ao de Dante e Cervantes na literatura, ou de Shakespeare na dramaturgia, ou de Da Vinci nas artes, ou de Einstein nas ciências. Seu legado transcende habilidades e feitos, protegendo-os do tempo e do progresso, porque representa uma ruptura estrutural, um divisor de águas, a existência de um antes e um depois.

    Quem chega a esse estado da arte, torna-se eterno.

    Edson Arantes do Nascimento morreu no dia 29 de dezembro de 2022. Mas Pelé é imortal.

    Publicado originalmente no Opera Mundi

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    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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