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    Jeferson Miola

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    Governo Piñera promoveu locaute de transporte para favorecer candidato da ultradireita

    "A nova ordem quer nascer no Chile, mas a velha ordem esperneia, porque não aceita morrer", escreve Jeferson Miola sobre falta de transporte no dia da eleição

    (Foto: Reuters | Reprodução)

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    Por Jeferson Miola

    O coordenador da campanha do candidato Gabriel Boric/Frente Ampla fez um breve balanço do dia de votação hoje no Chile

    O deputado Giorgio Jackson centrou sua avaliação fundamentalmente no problema da falta de transporte público no país, mas sobretudo na Região Metropolitana da capital Santiago [RMS], realidade que atentou contra o direito à participação da cidadania no exercício do voto.

    Na RMS, que congrega cerca de 40% do eleitorado do país, Gabriel Boric leva importante vantagem sobre o candidato de ultradireita José Antonio Kast, por isso o locaute de transporte público afeta diretamente o desempenho do candidato da Frente Ampla e pode influenciar no resultado de uma eleição disputada voto a voto.

    Jackson foi bastante cuidadoso, para não dizer diplomático, no uso das palavras e evitou responsabilizar diretamente o governo Sebastián Piñera, que apoia o candidato de ultradireita. Importante mencionar que a gestão dos transportes metropolitanos é de responsabilidade do Ministério dos Transportes – portanto, do governo Piñera.

    Giogio Jackson sublinhou o padrão atípico da disponibilidade de ônibus em comparação a pleitos anteriores, e enfatizou que nunca havia acontecido uma redução de metade da frota em dia de eleição.

    O porta-voz da campanha de Gabriel Boric destacou ainda que pela primeira vez o governo nacional não concedeu um bônus para os motoristas de ônibus. Na opinião dele, para desestimular e desincentivar os trabalhadores a conduzirem os ônibus neste dia.

    Jackson disse ainda que nas semanas precedentes, devido à preocupação com a possibilidade de que ocorresse o que hoje ocorreu, a campanha Boric reuniu-se com as autoridades nacionais e apresentou planos de contingência de transporte para garantir o direito da cidadania transladar-se para votar.

    Diante da inação deliberada do governo Piñera, na tarde de hoje várias autoridades municipais disponibilizaram vans para assegurar o deslocamento das pessoas aos locais de votação, como foi o caso do prefeito de Maipú Tomás Vodanovic, do partido Revolução Democrática, o mesmo de Boric, e que integra a Frente Ampla. Confira:

    Trabalhadores do setor de transporte denunciaram o boicote deliberado promovido pelo governo Piñera para favorecer o candidato de ultradireita. Imagens gravadas pelos trabalhadores mostram as garagens praticamente lotadas com ônibus estacionados. Confira:


    Após o balanço do coordenador geral da campanha, parlamentares, constituintes, prefeitos e prefeitas que integram o comando da campanha concederam nova entrevista coletiva. Nesta coletiva, ao contrário da postura diplomática de Jackson, as lideranças aumentaram o tom das críticas e responsabilizaram diretamente o presidente Piñera pelo boicote.

    A deputada Camila Vallejos, do Partido Comunista, disse que não se trata de incompetências, porque são “indiscutíveis as responsabilidades de Piñera”.

    O Chile tem péssimos antecedentes em matéria de lockdown. Na década de 1970, as oligarquias locais, totalmente alinhadas e financiadas pelos EUA, utilizavam a estratégia de desabastecimento, suspensão de transportes e outras vilanias para desestabilizar o governo da Unidade Popular do presidente Salvador Allende. No presente, o lockdown objetiva impedir a vitória de Boric.

    O desapreço pela democracia não é um apanágio exclusivo das classes dominantes chilenas, porque é uma característica atávica da burguesia enquanto classe, que não hesita em lançar mão de métodos fascistas e anti-democráticos ante a perspectiva de perda de poder e de privilégios.

    Isso vem de longe, de tempos memoriais. Odilon Barrot, por exemplo, o 1º ministro de Luís Bonaparte, já dizia: “Alto lá, a legalidade nos mata!”. Ele se referia ao desprezo pela própria legalidade liberal-burguesa quando em contexto de avanço do poder popular.

    A nova ordem quer nascer no Chile, mas a velha ordem esperneia, porque não aceita morrer.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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