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    Helena Chagas

    Helena Chagas é jornalista, foi ministra da Secom e integra o Jornalistas pela Democracia

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    Pobrezinho do Ciro!

    "O candidato do PDT tem o direito de dizer o que quiser na tentativa de ganhar votos, mas deve arcar com as consequências", adverte Helena Chagas

    Candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

    Então vamos combinar assim: o Ciro Gomes pode chamar o Lula de ladrão, atacar o Alckmin como socialista radical - e ter seus posts retuitados pelos ministros bolsonaristas - mas torna-se um sujeito sensível e muito magoado quando o petista faz "uma campanha odienta" pelo voto útil para ganhar no primeiro turno. Coitadinho do Ciro!

    Vamos e convenhamos, o candidato do PDT tem todo o direito de dizer o que quiser na tentativa de ganhar votos, mas deve arcar com as consequências de suas escolhas. A principal delas, no momento, é ser ou não instrumento de forças que querem, de qualquer jeito, forçar a realização de um segundo turno - no qual já se sabe de antemão que ele não estará. 

    Antes de tudo, Ciro está, ainda que involuntariamente - pessoalmente, não acredito que seja de outra forma - fazendo o jogo de Jair Bolsonaro, cujo único objetivo deve ser adiar a derrota por um mês. Uma senhora ajuda, a julgar  pelos posts do general Heleno, do ministro Fabio Faria e de outros bolsonaristas de quatro costados reproduzindo falas recentes do pedetista.

    Uma outra camada de comprometimento de Ciro - e esta nada acidental - parece ser com o establishment, no qual se inclui a grande mídia, em seu esforço para forçar a realização de um segundo turno de qualquer maneira. Esse pessoal não tem mais ilusões quanto à reeleição de Bolsonaro, e nem a quer. Mas deseja ter um Lula mais dócil e flexível a negociações com os setores mais conservadores - o que ficaria mais difícil com uma acachapante vitória em primeiro turno.

    Boa parte da mídia vem comprando a versão do Lula "odiento" que, pessoalmente, está fazendo campanha pelo voto útil para tirar votos do pobrezinho do Ciro - como se isso não fosse do jogo, qualquer jogo eleitoral, ou se tolhesse a vontade do eleitor.

    Visão equivocada também por infantilizar a menosprezar a capacidade de discernimento de quem vota, dentro daquele que parece ser o movimento principal da maioria da sociedade brasileira neste momento: livrar-se do fascismo, derrotar o bolsonarismo.

    Como dissemos acima, cada um é responsável por suas escolhas e, a partir delas, ocupará seu papel para a posteridade. O Ciro administrador competente e político de biografia correta, apesar de genioso, ainda tem chances de correr e pular no bonde certo da história.

    Se não o fizer, pode ficar na dramática situação dos políticos que são bypassados pelo próprio eleitorado - até porque ninguém é dono de ninguém, e quem decide se haverá voto útil ou não é quem vota. Para Ciro, isso pode ser o fim.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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