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Jean Menezes de Aguiar

Advogado, professor da pós-graduação da FGV, jornalista e músico profissional

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Por que bolsonaristas juram que não são bolsonaristas?

Uma primeira observação é sobre a mentira, ou não, de quem alega ‘não ser bolsonarista

Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

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Em defesa do capitão. Ou, pra não dizer que não falei das flores. (Perdoe-me Vandré).

Como ninguém absolutamente é bolsonarista – sim, muitos idolatram a mitologia, e só reenviam mensagens enaltecedoras, ou carnificiniais sobre Lula, dá no mesmo, mas juram que não são bolsonaristas, e só nos resta acreditar, ou fingir, afinal nossos amigos não poderiam (...) ser ‘mentirosos’-, a conclusão é que não existem bolsonaristas no Brasil.

O gancho da negação é promissor. Outorga direitos paralascivos e paradevassos. Mas como isso é feio, deixemos de lado. E salvemos o capitão, de suas insônias.

Uma primeira observação é sobre a mentira, ou não, de quem alega ‘não ser bolsonarista’. Como a Constituição garante a intimidade e a liberdade do voto, não se ousará adentrar neste quase ‘seer’ heideggeriano, tipo de ser não tematizável. Assim, quem ousará penetrar nestas profundezas? Verdade ou mentira, a negação se torna algo apenas idiossincrático.

Como meio do caminho, consideremos o pensamento lacratista, última moda para quem não produz p*. nenhuma, só reenvia alegorias. Quanta melancolia intelectual. Esse pensamento nasce dum tropeço espasmódico da compreensão contestatória que faz o sujeito reagir em imediatismo não-pensante para copiar e colar uma mensagem reenviada, acreditando, piamente, que provará qualquer coisa. Oh dó. Este parece ser o máximo de conhecimento alcançado aí. Deve haver nestes reenvios um onanismo coletivo em um reenviador massagear as partes do colega do lado e assim sucessivamente ao infinito. O fato é que os reenvios de mensagens geram frissons e parahisterias ideológicos, ainda que não alterem, em absolutamente nada, qualquer estado de coisas.

Um ponto importante é o imediatismo no uso altamente ressalvante do ‘mas eu não sou bolsonarista!’ A rigor, é mais que uma defesa personalista, é quase que uma ameaça ao interlocutor. Que medo! Uma característica que poderia ser investigada aí é a certeza de que quem usa esta admoestação acredita seriamente que o interlocutor é um néscio. Se é para atender a um amigo, ok. Somos analfabetos lisérgicos. Mas em o que as criaturas acreditam é algo muito íntimo e secretizável.

Outra característica epistemologicamente alvissareira é o sentimento de culpa escapado quando alguém ralha ‘mas eu não sou bolsonarista!’ É tipicamente um ser algo que não se quer ser. Bolsonaro teve o grande mérito de explodir o ‘armário’ para a direita enrustida. Sim, ela fazia suas ‘brincadeiras’ pornoideológicas secretamente, entre si, espremida nos armários do comedimento, mas não tinha coragem de negar a Ciência, dizer-se racista orgulhosamente e em público, escancarar homofobia em palanques etc. Nenhum político pós-ditadura conseguiu tamanha proeza. E veja que vários tentaram, timidamente. O armário era de madeira boa. Precisou do poderoso capitão, um político originário do baixo-clero para alforriar o ultraconservadorismo violento e vingativo, o ultra pieguismo que se alia a um neopentecostalismo fundamentalista. E mais, a ponto de tudo chegar a um ruptural 8/1, que, de novo, e nada surpreendentemente, negam ter existido. Que povo ‘inteligente’, ou, que marasmo pensante...

Buscando qualquer possibilidade de explicar o porquê bolsonaristas negam sê-lo, há variáveis interessantes. Uma possibilidade é a timidez com a ultrarradical direita, afinal ela assusta – mas seduz não é? Confesse!- quem apenas era modicamente da direita ‘normal’. Outra explicação é um padrão cultural de se mentir os preconceitos e as discriminações. Como muita gente foi educada sendo preconceituosa – isto é Brasil!-, mas sabendo que tinha que mentir no quesito, ao encontrar uma direita radical vibrante, praticamente nazista em tudo – olha que Disneylândia ideológica!- vive o drama de rejeitar sua educação ‘polida’, ou de ‘bom tom’, ou como na música Senhas, da tesuda Adriana Calcanhoto, chamada de ‘bom gosto’, para rasgar a fantasia e correr para a Parada do Orgulho Gay, ops, parada do orgulho bolsonarista.

Mas corre por fora o fortíssimo sentimento de que se dizer bolsonarista é algo ruim. Aí há algo de paradoxal. Quem ama/idolatra Jesus, Alá, Maomé, Buda, Deus e Iemanjá não tem qualquer pudor em assumir. É estranho quem ama e idolatra exatamente igual a Bolsonaro, fugir, como o lógico Diabo foge da cruz, de assumir. Há aí psicanálises secretas que só Freud descubra.

Fica o mistério em aberto. Adoradores, amantes e devotos do capitão, paradoxalmente não se dizem bolsonaristas. É até uma ingratidão para com o líder, ou coach ideológico. Será por causa dos crimes que ele é investigado e aí teria ‘cedida’ a fé no sujeito? Será por medo de, após eventual condenação criminal transitada em julgado, estar-se ligado a um condenado? Estas entranhas são muito profundas para um artiguinho destes.

Registre-se a ingratidão dos bolsonaristas raízes, assumidos e verdadeiros, ou dos que apenas se dizem ‘ligeiramente’ da direita, e que, ávidos, correram para o colo capitão, que negam ser bolsonaristas.

Esta é uma ingratidão dos próprios apaixonados, todos viuvinhas do 8/1. E como este artigo obedece à verdade-porquê do título, e é em polida ‘defesa’ do capitão, admita-se, Bolsonaro não merecia esta negação tão ‘verdadeira’ de seus próprios neolibertos do armário.

* Porcaria! (jamais seria a outra forma, muito mais viva, poética e jovem de ser dita).

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