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    Vijay Prashad

    Historiador, editor e jornalista indiano. Escritor e correspondente-chefe da Globetrotter. Editor da LeftWord Books e diretor do Tricontinental: Institute for Social Research.

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    Por que os israelenses bombardeiam casas palestinas no meio da noite?

    Bombas às 4h têm como objetivo maximizar o terror e expulsar civis

    Palestinos sofrem sob ataques constantes dos sionistas (Foto: Gisele Federicce)

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    Publicado originalmente por Globetrotter em 27 de novembro de 2024

    Às 22h da noite de 28 de outubro de 2024, a força aérea israelense atingiu um prédio de cinco andares em Beit Lahiya, na região norte de Gaza. O norte de Gaza tem sido bombardeado pelos israelenses desde 8 de outubro de 2023. Não houve trégua para os moradores desta cidade, que fica ao norte do campo de refugiados de Jabaliya. Nos primeiros meses dos bombardeios, Sahar (42 anos) fugiu da área com seu filho de 11 anos e o restante de sua família. Isso aconteceu, contou ela à Human Rights Watch, “por causa do bombardeio excessivo a casas civis, que matou famílias inteiras.”

    Asma (32 anos) deixou Beit Lahiya em direção à supostamente segura área de al-Mawasi. “Vivemos em um desastre”, diz. “Estamos sem esperança, famintos e cercados.”

    A família Abu Nasr não deixou Beit Lahiya. De fato, grande parte da família estendida buscou abrigo no prédio familiar, acreditando que a sua localização em uma área residencial poderia oferecer alguma imunidade aos ataques israelenses. Na noite de 28 de outubro de 2024, havia 300 pessoas vivendo nos 10 apartamentos do prédio. Era apertado, mas eles se sentiam seguros.

    Quando o míssil atingiu o prédio às 22h, destruiu a escadaria, bloqueando qualquer possibilidade de fuga, exceto pelo térreo. Muhammed Abu Nasr (29 anos) morava no térreo com sua esposa e filhos. Eles pularam o muro do perímetro e foram para a casa de um vizinho. Mais tarde, Muhammed contou à escritora Asil Almanssi: “Não dormi a noite toda, pensando nos meus pais, meus irmãos, meus sobrinhos e sobrinhas. Como pude deixá-los e fugir? Será que fui realmente um covarde, um traidor? Esses pensamentos me atormentaram, e eu não sabia se tinha feito a coisa certa ou não.”

    Mas era a única coisa que ele poderia ter feito. Permanecer em um prédio com a escadaria destruída seria insensato. Famílias presas no prédio ligaram para a Defesa Civil de Gaza. Não havia nada que pudesse ser feito por elas até a manhã seguinte. Elas arrumaram as suas malas e esperaram pelo amanhecer, quando esperavam ser resgatadas dos andares superiores do prédio danificado.

    Então, como se já tivessem previsto isso durante toda a noite, às 4h os israelenses atacaram novamente o prédio residencial. Desta vez, atingiram o núcleo dos apartamentos. Muhammed Abu Nasr, agora na casa de um vizinho, ouviu “uma explosão mais alta do que qualquer coisa que já tinha ouvido. Parecia que um terremoto havia sacudido toda a área, com o chão tremendo violentamente e partes das paredes da casa onde eu estava desabando.” Foi uma bomba enorme. Muhammed ouviu a sua família pedindo ajuda e gritando que havia corpos entre eles. Não havia nada a fazer. Aeronaves israelenses preenchiam o céu. Outro ataque era possível.

    Quando os socorristas começaram a remover os escombros, encontraram sobreviventes, feridos com pernas quebradas e pulmões perfurados. Mas também descobriram que mais de 100 pessoas da família Abu Nasr haviam sido mortas. Foi um massacre horrível de uma família em uma área residencial bem conhecida. Carroças e ombros fortes levaram os feridos ao Hospital Al-Helou, um hospital de maternidade que sofreu ataques israelenses em novembro de 2023, mas que agora permanece parcialmente funcional. Foi no hospital que Asil Almanssi ouviu Bassam Abu Nasr (cinco anos), o único sobrevivente de sua família imediata, dizer repetidamente: “Eu quero o meu pai.” Mas o seu pai havia sido morto pelos israelenses.

    Por que às 4h?

    Durante a Grande Guerra (1914–1919), ambos os lados usaram aeronaves para transportar bombas que poderiam ser lançadas em alvos inimigos, incluindo áreas residenciais. Essas aeronaves não tinham dispositivos de navegação muito bons, mas seus adversários também não tinham nada além de holofotes para localizá-las no céu. Voar com bombardeiros lentos à luz do dia os exporia a caças rápidos. Por isso, voavam sob a cobertura da escuridão à noite.

    Após a Grande Guerra, o primeiro-ministro britânico Stanley Baldwin disse a verdade sobre o uso de bombardeios aéreos: “O bombardeiro sempre vai conseguir chegar ao alvo. A única defesa é no ataque, o que significa que você tem que matar mais mulheres e crianças mais rapidamente do que o inimigo, se quiser se salvar” (10 de novembro de 1932).

    As palavras de Baldwin vieram sete anos após outras duas potências europeias (Espanha e França) incentivarem mercenários dos Estados Unidos a bombardear a cidade marroquina de Chefchaouen em plena luz do dia durante a Guerra do Rif (1921–1926). Os pilotos estadunidenses realizaram 350 bombardeios. O objetivo não era atingir alvos militares, mas causar angústia psicológica.

    Essa lógica continua viva em Gaza. Bombas às 4h têm como objetivo maximizar o terror e expulsar civis. A devastação é tamanha que 1.000 famílias palestinas já foram exterminadas completamente.

    Algo impensável

    Mesmo diante desse genocídio, muitos palestinos se recusam a sair de Gaza, pois isso significaria abandonar a Palestina, sendo parte da Nakba permanente iniciada em 1948. Eles permanecem, suportando os bombardeios noturnos que exterminam famílias inteiras.

    Como disse Suleiman Salman al-Najjar, que perdeu a família em um ataque israelense: “Algo impensável agora é nossa realidade.”

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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