Portas abertas

“Não é a pornografia que é obscena. É a fome que é obscena! E enquanto nós não compreendermos isto, que não há o direito, que não há nenhuma razão para que um único ser humano morra de fome. Então, todo o discurso sobre a moralidade pública é um discurso hipócrita” (José Saramago)

Da narrativa apresentada pelos evangelistas sobre o natal de Jesus de Nazaré, principalmente em Lucas 2,7, encontra-se um aspecto central: as portas não se abriram para receber o casal Maria e José em seu momento especial de dar à luz seu menino.

Todas as portas encontraram-se fechadas para aquelas pessoas pobres. A solução encontrada pelo casal foi a de arrumar um espaço num lugar desamparado – um estábulo – para poder receber a novidade de uma criança chegando ao mundo.

Sobre portas fechadas, o texto neotestamentário irá apresentar tantas outras alegorias. Uma delas encontra-se no último dos seus livros, o Apocalipse, o qual se manifesta assim: “eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua casa e cearei com ele”. (Apo 3:20).

Da perspectiva de teólogos latino-americanos, empenhados na reflexão sobre o evento de Jesus de Nazaré a partir da perspectiva dos pobres e oprimidos pela estrutura de poder que impera em nossa região, as portas fechadas significam a manutenção do sistema de exclusão da maioria da população, refletindo a realidade de injustiça que impera em nosso continente. Certamente, se o Jesus histórico juntamente com seu pai e mãe viessem a repetir hoje o evento de Belém, as portas continuariam fechadas à sua pobreza, ao seu clamor e à sua novidade.

Além disso, simultaneamente, o nascimento do Nazareno num estábulo, em função das portas fechadas, para estes teólogos, simboliza a porta aberta da solidariedade de Jesus para com todos os marginalizados do planeta, indicando-lhes sua mensagem de esperança e luta contra todas as formas de opressão econômica, política e social. Derrubar os muros da exclusão, arar campos abertos da igualdade e da fraternidade.

Portas abertas são um convite ousado para atravessar o real e materializar sonhos de corações e mentes fascinados por uma vida nova que inunde de brilho, maciez e de amor profundo a totalidade da existência humana.

Portas abertas flutuam e dançam em campos de estrelas humanas a brilhar com suas energias, cada uma navegando em mapas desimpedidos, espíritos livres desvendando os versos incertos. Num suspiro dos ventos, reagem e lutam juntas, rangendo melodias da justiça e da paz.

Mas a luta entre portas fechadas e portas abertas continua a ser desenvolvida com muita força aqui no Brasil. O ano de 2024 representou resultados bastante significativos, abrindo portas no campo econômico, com o governo do presidente Lula alcançando o menor índice de desemprego da série histórica, além de atingir um crescimento do PIB que deve chegar a 4%.

Mas os representantes das portas fechadas desenvolvem um ataque especulativo contra nossa moeda – o Real – com o objetivo de desestabilizar nosso governo. Além disso, as armas das fake news continuam a ser amplamente utilizadas pela Mídia Corporativa Dominante por meio de mentiras compartilhadas pelas diversas agências de notícias. Afinal, para o capitalismo financeiro o grande negócio não é a produção, mas a crise.

Assim, estejamos preparados para o recrudescimento desta luta em 2025. Atentemos para Herodes que, segundo a alegoria evangélica, mandou assassinar os meninos homens com até dois anos de idade visando liquidar com Jesus e sua mensagem. Não nos iludamos, os representantes das portas fechadas não têm escrúpulos na defesa de sua estrutura de exploração.