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      Marcelo Zero

      É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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      Possível "propina" saudita pode ter sido caso de afinidade entre dois párias globais

      De qualquer modo, há mais diamantes entre o céu e a terra do que supõem as nossas relações bilaterais

      Jair Bolsonaro, durante encontro Bilateral com o Principe Herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed Bin Salman (Foto: Alan Santos/PR)

       Só para esclarecer. 

       A refinaria Landulpho Alves foi vendida paro o Grupo Mubadala – fundo financeiro de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, pelo valor (bem baixo- cerca da metade do valor de mercado) de US$ 1,6 bilhões. Não foi vendida, portanto, para a Arábia Saudita.

       Mas o Brasil e a Arábia Saudita fecharam parcerias em investimentos que podem resultar no desenvolvimento de projetos de até US$ 10 bilhões. O Fundo de Investimento Público saudita (PIF) estará a cargo desses prováveis investimentos.

       O acordo para facilitar esses investimentos foi assinado em 29 de outubro de 2019 pelo então presidente Jair Bolsonaro, que estava em visita à Arábia Saudita, e pelo príncipe Mohammed bin Salman. 

       Entretanto, os investimentos ainda não aconteceram em grande parte porque os sauditas exigem assinar um acordo para evitar a dupla tributação com o Brasil. Esses acordos, como o nome indica, evitam que os investimentos sejam tributados duas vezes: no Estado que investe e no Estado que recebe os investimentos (no caso, o Brasil).

       Também pode ter pesado a postura pró-Israel do governo Bolsonaro. Mas o obstáculo principal é a assinatura do acordo para evitar a dupla tributação.  

       É possível, ainda, que a eventual “propina” seja mais motivada pela política. Mohammed bin Salman está fazendo de tudo, há algum tempo, para limpar a sua imagem mundial, muito arranhada pelo episódio do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi. 

       O episódio macabro, ocorrido em 2018, tornou Mohammed bin Salman um pária mundial, que não recebe muitas visitas internacionais e que também não é convidado para grandes eventos.

       Vale ressaltar, por exemplo, que os países europeus rejeitaram veementemente qualquer participação de Mohammed bin Salman na Cúpula Árabe-Europeia realizada no Egito, em 2021, porque ele violou os direitos humanos.

       Na época em que enviou o “presente” para Michelle Bolsonaro, Mohammed bin Salman já estava há mais de 2 anos sem receber visitas importantes, e, segundo algumas fontes, havia preocupação com sua saúde psicológica (https://saudileaks.org/en/psychological/). 

       Enfim, pode ter sido um caso de afinidade entre párias globais.  De qualquer modo, o episódio é muito estranho e merece uma séria investigação. Há mais diamantes entre o céu e a terra do que supõem as nossas relações bilaterais.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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