Presidente não elege prefeito
Eduardo “Paes e amor” desponta como o grande vencedor dessa eleição
Muita gente achava que o PT ia dar um baile nos outros partidos na eleição municipal porque, afinal, o presidente da República é o petista número 1, fundador do PT, tido e havido como o melhor presidente depois da redemocratização, no mínimo, o mais popular, sem dúvida, e na história só empata com Getúlio Vargas, um presidente experiente, bem avaliado nas pesquisas, não teria erro, o PT ia dar uma lavada e seria um termômetro para 2026, o PT ia mostrar a sua força e assim a reeleição de Lula estaria garantida.
Mas faltou combinar com os eleitores.
Na principal cidade do país, onde o PT nasceu, o PT decidiu abdicar da candidatura, pela primeira vez, resolveu apostar todas as fichas num candidato do PSOL, aceitou ficar só na vice, e todo mundo sabe que o ou a vice só apita alguma coisa quando o titular renuncia ou morre, eu achei estranho porque desde o início Lula e o PT decidiram que a principal batalha contra Bolsonaro seria em São Paulo, o mais coerente seria reproduzir aqui a aliança que levou Lula ao Planalto, uma aliança à direita, mas no caso de São Paulo, Lula e o PT fecharam uma aliança à esquerda.
Se Boulos ganhar, será uma vitória do PSOL; se perder, derrota de Lula.
Bolsonaro montou no MDB
O irônico é que Bolsonaro também não tem cavalo próprio nessa corrida, fez uma aliança à sua esquerda (não dava para ir mais à direita), com o MDB, partido que, aliás, tem três ministérios no governo Lula, e que foi o grande inimigo da ditadura, da qual Bolsonaro é “tiete” até hoje, vejam só que confusão na cabeça do eleitor, mas quando apareceu um cara mais parecido com ele, de extrema-direita, e seus liderados deram a entender que o trocariam pelo cara moderado do MDB, ele também ficou balançado, tergiversou, ficou com um pé em cada canoa, abandonou Nunes, só voltou agora que as pesquisas dão Nunes garantido no segundo turno, ou seja, se Nunes ganhar não vai dar para dizer que foi uma vitória de Bolsonaro.
Na ex-capital da República, Bolsonaro apostou num bolsonarista raiz, tão raiz que está na mira da Polícia Federal e do STF, e está tomando uma goleada do atual prefeito, Eduardo “Paes e amor”, que fugiu da polarização como o diabo da cruz, não quis ser abençoado nem pelo presidente atual, muito menos pelo ex-, se dá bem com Lula, mas amigos amigos, negócios à parte, não quis chapa com PT e o PT, por sua vez, ficou sem candidato próprio, alguns petistas foram apoiar o candidato do PSOL, mas Paes é pule de dez, é o grande vencedor dessa eleição, dado o tamanho e a importância do Rio, não será surpresa se mirar o Planalto em 2026 (se Lula não puder) ou em 2030, quando Lula não poderá mais, será o candidato dos eleitores que cansaram da polarização e vai tentar, é claro, ser o candidato de Lula. (Presidente não elege prefeito, mas elege presidente.)
O melhor pupilo de Kassab
“Paes e amor” é o mais bem sucedido pupilo de Gilberto Kassab, “nem de esquerda, nem de direita, muito pelo contrário”, que no passado cheirava a alienação ou oportunismo, mas agora parece antídoto contra esse antagonismo doentio incrustrado nas redes sociais.
Paes está mostrando que é pelo centro que se vence a extrema-direita, não pela esquerda. Quando, é claro, se trata de urnas e não de armas.
Nas outras 26 capitais, o PT não está fora do jogo em Cuiabá (21%), Porto Alegre (31%), Aracaju (14%) e Cuiabá (21%) e só lidera em Goiânia (22%), com o PSD nos calcanhares (21%). E é só. Nem no Nordeste, tido como principal reduto de Lula, onde teve votação estrondosa, sempre que vai é recebido com festa a coisa melhora.
Em Salvador, está dando o União Brasil (66%) no primeiro turno. Em Teresina, o União Brasil (46%) ganha do PT (37%). Em Natal, 44% PSD vs. 14% PT. Em João Pessoa, deve dar primeiro turno do PP (53%). Em Maceió, o PL (74%), é pule de dez. No Recife, o PSB (74%) já levou.
2024 NÃO É 2026. Se a gente levar em conta que quem está no Planalto tem o poder de ganhar as eleições municipais, ou deveria ter, o presidente Lula sai mal nessa foto, ele e o PT, e pode haver muitas explicações, uma delas, que me ocorre agora, é que o PT muitas vezes parece mais preocupado com a situação na Ucrânia ou em Gaza do que no Brasil, e os eleitores não querem saber se o PT assinou um tratado de cooperação com o Partido Comunista Chinês, querem que sua vida na cidade seja menos sofrida, estão preocupados com os problemas do dia a dia, essas coisas tão simples e tão complexas como ficar horas espremido nos ônibus, ou morar em ruas mal iluminadas, ou o lixeiro não passar, ou a escola com salas que têm goteira, que parecem triviais, os eleitores não querem resolver o problema do mundo, e sim os do seu quarteirão.
Se as urnas confirmarem as pesquisas, os bolsonaristas vão dizer que foi derrota de Lula, mas o fato é que presidente não apita na vida das cidades, está muito longe dos municípios, lá em Brasília, nem deveria entrar em campanha municipal, para não se desgastar inutilmente, tem que se guardar para batalhas maiores, como a sua sucessão.
A eleição municipal não tem nada a ver com a federal.
O eleitor pode não votar no candidato de Lula em 2024, mas votar em Lula em 2026.
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