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    Jeferson Miola

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    Prioridade da esquerda é impedir eleição de títere do Bolsonaro para comando da Câmara

    "Impedir a eleição de Arthur Lira significa colocar um freio nas pretensões do Bolsonaro e limitar o alcance fascista-militar que já tutela o judiciário e planeja dominar a Câmara", analisa Jeferson Miola

    Deputado Arthur Lira (PP-AL) cumprimenta o presidente Jair Bolsonaro (dez.2018) (Foto: Reprodução Facebook/Arthur Lira)

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    Nos últimos dias a oposição de esquerda e centro-esquerda ao governo genocida dos militares definiu uma tática antifascista para a disputa da presidência da Câmara dos Deputados [o PSOL ainda não se decidiu a respeito].

    Três pontos materializaram o entendimento comum: [1] integrar a frente parlamentar para derrotar o candidato do Bolsonaro, [2] apresentar propostas sobre a gestão da Câmara e as urgências nacionais, e [3] disputar o 1º turno com candidatura própria.

    Esta tática, entretanto, ficou comprometida com a evolução da conjuntura. PCdoB, PDT e PSB se inclinam a apoiar Baleia Rossi já no 1º turno, sendo acompanhados por parte dos/as 54 deputados/as do PT e, possivelmente, também do PSOL.

    A aposta numa candidatura própria da esquerda bancada por setores do PT com o PSOL teria, assim, um caráter puramente demarcatório, o que é bastante complicado numa conjuntura como a atual, de avanço do controle fascista-militar das instituições.

    Com estas debilidades que são antecipadamente conhecidas, esta candidatura pode acabar beneficiando a eleição do Arthur Lira já no 1º turno. Lira, como se sabe, é pilar central do plano do Bolsonaro para a difícil travessia que será a 2ª metade do seu mandato.

    O governo entrou de cabeça nesta eleição por meio do uso ilegal da máquina e do emprego de meios corruptos para comprar votos e colocar seu títere no comando da Câmara.

    Impedir a eleição de Arthur Lira significa colocar um freio nas pretensões do Bolsonaro e limitar o alcance fascista-militar que já tutela o judiciário e planeja dominar a Câmara.

    Neste contexto de relação de forças desfavorável e da urgência do enfrentamento ao fascismo, a tarefa central da oposição é obstruir a marcha bolsonarista sobre as instituições e impedir a hipertrofia do seu poder, mesmo que isso signifique votar em Baleia Rossi, um expoente do golpista e canalha MDB que jogou o Brasil no precipício.

    Sem alimentar ilusões, é preciso cobrar publicamente que Baleia Rossi assuma compromisso com a proporcionalidade dos partidos de oposição na Mesa, nas Comissões e nas relatorias de projetos; que priorize as agendas urgentes para o povo brasileiro negligenciadas pelo governo, como a vacinação universal, a garantia de renda mínima, a reconstrução econômica, a soberania nacional; e que não faça como seu padrinho Rodrigo Maia, que autocraticamente engavetou todos pedidos de abertura de processo de impeachment do Bolsonaro.

    Baleia tem de ser cobrado a submeter à decisão soberana do Plenário os pedidos bem fundamentados de impeachment, como são quase todos aqueles engavetados por Maia.

    Nesta circunstância histórica de avanço fascista, aprofundamento do regime de Exceção e de escalada militar, seria inconsequente a esquerda adotar uma política demarcatória que poderá ter como consequência a conquista do comando do Legislativo por um títere do regime.

    Em 30 de janeiro de 1933 Hitler arrancou do presidente da Alemanha Paul Von Hindenburg a indicação para o cargo de Chanceler [Primeiro-Ministro].

    Algumas semanas depois, em março de 1933, depois da reunião secreta de Hitler em 20 de fevereiro para confirmar o apoio político e financeiro de empresários alemães [Bayer, BASF, Siemens, Opel, Telefunken etc] nas eleições legislativas, o Partido Nazista passou a exercer o domínio total do poder [a reunião de 20 de fevereiro de 1933 está magistralmente retratada no livro “A ordem do dia”, de Eric Vuillard].

    A evolução catastrófica que se sucedeu à hipertrofia do poder nazista é por demais conhecida.

    Como escreveu o professor de ciência política da UNB  Luis Felipe Miguel no seu facebook sobre a necessidade da esquerda ter de optar por um canalha golpista para derrotar o candidato do Bolsonaro: “É bonito? Não é, não. Mas a política não é recomendada para quem tem estômago fraco. Nunca foi”.

    No caso concreto, até mesmo estômagos veganos terão de digerir a ideia de ter de engolir um cetáceo …

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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