PT: Partido Teocrático
Conectar a fé evangélica às bandeiras do partido é ignorar a laicidade do Estado e fortalecer a teologia do domínio
Depois de Lula ter sancionado o dia da pastora e do pastor evangélico, e do PT ter criado uma cartilha ensinando aos correligionários sobre como lidar com os evangélicos, o partido decide lançar uma série de vídeos com petistas evangélicos visando fortalecer as candidaturas municipais. Sob o título de “Testemunhos de fé e luta”, o projeto pretende conectar a ideologia do partido ao segmento religioso, mostrando aos fiéis que o partido dos trabalhadores tem tudo a ver com a fé evangélica e sua pauta segue os ensinamentos cristãos. Até concordaria com a associação, se a maioria dos evangélicos brasileiros seguissem, de fato, os ensinamentos de Cristo. Algo que, infelizmente, não ocorre.
É lamentável constatar que o maior partido político brasileiro esteja abrindo mão de suas raízes ideológicas por questões eleitoreiras, buscando se aliar ao imperialismo religioso e adaptando-se ao capitalismo do qual a igreja dita cristã passou a ser um de seus braços mais fortes. O apocalipse da esquerda se avizinha, e haverá choro e ranger de dentes quando o projeto de poder evangélico se estabelecer por completo na sociedade brasileira. Pode não parecer, mas ainda se faz necessário lembrar o que o binômio igreja-estado já provocou na história da humanidade. E agora estamos falando de uma igreja muito mais articulada politicamente, com a presença legítima de seus nefastos líderes nos parlamentos e nas cortes de justiça do país.
O Estado laico está cada vez mais sendo desrespeitado, e o retrocesso político e social é galopante. Tanto, que em pouco tempo poderemos estar nos referindo ao PT como um partido de direita e defensor do estado teocrático. O viés identitário grita nesses acenos do PT aos evangélicos. Há quem interessaria esta mudança? Estaria Lula pretendendo ser o líder do ecumenismo político brasileiro? Se for esta a sua intenção, está faltando acenar com a mesma vontade para outras religiões cujos adeptos também votam. Aliás, foram os adeptos das outras religiões e os não religiosos que o elegeram em 2022. A depender da maioria dos evangélicos, já estaríamos vivendo o nosso conto da Aia, tendo Bolsonaro como comandante, Damares Alves como a madre superiora das mulheres parideiras da nação e a bandeira nacional com a inscrição: “Segura na mão de Deus e vai”. Um slogan até atrativo, não fosse os interesses espúrios dos escolhidos pelo “deus” dessa corja fascista.
Ao invés de disputar o diálogo nas periferias, onde a igreja evangélica, a milícia e o tráfico já governam juntos em algumas comunidades, o PT e a esquerda preferem se render a este triunvirato quase institucional, fortalecendo o projeto de poder teocrático e ajudando a viabilizar a teologia do domínio na sociedade. Sem falar no aparelhamento que as igrejas vêm fazendo com as forças de segurança em alguns Estados. São Paulo é um exemplo, onde a Universal de Edir Macedo promove reuniões de aconselhamento espiritual para policiais militares, e as forças de segurança realizam atividades da corporação dentro das instalações da igreja. Estamos assistindo a um experimento social diabólico que destruirá por completo o tecido social brasileiro. A República Brasileira de Gilead é logo ali, liderada por extremistas religiosos sob a ideologia salvadora e redentora de todo pecado e corrupção que a esquerda produziu no país.
Eu já escrevi em outra oportunidade que o próximo golpe contra a democracia será evangélico e terá os militares apenas como força auxiliar do projeto de “restauração da pátria em nome de Deus” E será deflagrado numa “Marcha para Jesus” que, por coincidência, cairá no dia da pastora e do pastor evangélico. Não subestimem os roteiristas da realidade que muitos não querem ou fingem não enxergar. Há quem creia que o aumento do número de evangélicos no país, se deve ao fato de que as pessoas estão buscando a Deus. Não quero entrar no mérito pessoal da proposição, mas é importante considerar que a maioria esmagadora das pessoas que buscam uma igreja, o faz por algum tipo de necessidade ou carência social, pessoal, e, sobretudo, financeira. A teologia da prosperidade não teria seduzido tantos fiéis se eu estivesse errado.
Ninguém buscaria se converter a uma igreja evangélica se tudo estivesse indo bem, se tivesse emprego, se não faltasse comida na mesa, se o dinheiro estivesse dando para sobreviver dignamente, se a saúde estivesse em dia, se a educação fosse eficiente e libertadora, se a segurança fosse garantida, se a cultura e o lazer fossem acessíveis a todos ou se a justiça social fosse a norma diretriz da sociedade em que vivesse. Não que a igreja, embora prometa, possa lhes dar tudo isso, até porque, tem muita gente na igreja evangélica que não tem emprego, educação, saúde, segurança e, principalmente, dinheiro. Uma prova que o pecado a ser combatido é o capitalismo que produz desigualdade e favorece a uns poucos. Entre esses poucos, os empresários da fé, que aumentam o seu patrimônio a cada ovelha que passa a fazer parte do seu rebanho e a contribuir fielmente com o dízimo. O verdadeiro imposto do pecado.
Precisamos de mais politização e menos evangelização, para que as pessoas possam identificar por elas mesmas quais propostas políticas lhe proporcionariam ter vida plena e abundante. Fé em Deus, ainda que seja importante para o fortalecimento existencial e espiritual dos indivíduos, não é política pública e sem ações afirmativas não vai mudar a situação social daqueles que mais precisam. Os mais pobres são aqueles que mais depositam em Deus a esperança de terem uma vida melhor, e se isso não ocorre, é porque talvez Deus não possa estar acima de nação nenhuma, se os seres humanos responsáveis por as governar não estiverem alinhados, de fato, com a sua justiça e com o amor que ele tem igualmente para com todos. Olhem para os principais líderes evangélicos do Brasil e me digam qual deles tem esse compromisso com a sociedade?
Jesus Cristo não se preocupou em acenar aos poderosos e nem fez questão de número de seguidores. Seu ato de fé foi um testemunho político, inclusivo e revolucionário. Foi traído por muitos que o bajulavam e se aproveitavam de sua bondade. Foi crucificado e morreu defendendo a sua ideologia de combate ao projeto de poder político e religioso de sua época. Alguém precisa avisar a Lula que o servo não é maior do que o seu senhor. Se nem Cristo agradou a todos, porque ele acha que agradaria? Precisamos mesmo é do Lula do velho testamento do PT. Este sim, poderia nos trazer a salvação. Volta, Lula!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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