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    Rodrigo Vianna

    Jornalista desde 1990. Passou por Folha, TV Cultura, Globo e Record; e hoje apresenta o "Boa Noite 247". Vencedor dos Prêmios Vladimir Herzog e Embratel de Jornalismo, é também Mestre em História Social pela USP. Blogueiro, integra a direção do Centro de Estudos Barão de Itararé.

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    Qual o impacto político do aumento da gasolina?

    "Lula pode ter criado ruído com a Classe C, que depende de carro e moto para sobreviver", alerta Rodrigo Vianna

    Luiz Inácio Lula da Silva e um posto de gasolina (Foto: ABR)

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    Na teoria, pareceu uma solução criativa e tecnicamente respeitável: a equipe econômica, sob comando do ministro Fernando Haddad, achou uma forma de trazer os impostos de volta para os combustiveis, atendendo à necessidade de responsabilidade fiscal mas ao mesmo tempo adotando critérios de cuidado ambiental e social.

    Quais foram esses critérios? 

    Diesel e gás de cozinha seguem com imposto zerado até o fim de 2023. Com isso, evita-se o impacto que a alta de preço do diesel poderia ter sobre os fretes - que acaba por se disseminar por preços variados da economia. E ao mesmo tempo, atende-se à demanda dos mais pobres que já pagam hoje cerca de cem reais (às vezes mais que isso) por um botijão de gás (no período Bolsonaro, algumas famílias voltaram a usar lenha pra cozinhar, diante da alta do gás - também atrelado aos preços internacionais, por obra da chamada PPI adotada logo após o Golpe de 2016 contra Dilma).

    Por outro lado, os impostos voltaram, sim, à gasolina e - em escala muito menor - ao etanol. Uma forma de mostrar "responsabilidade ambiental" - explicou a equipe de Haddad. Afinal o etanol é combustível mais limpo e deve ser incentivado.

    Tudo muito civilizado, e de acordo com parâmetros racionais.

    Acontece que a imensa maioria dos brasileiros que depende de carro ou moto para trabalhar usa mesmo a boa e velha gasolina. A previsão de Haddad era que a alta de preços seria pequena - cerca de 30 centavos por litro.

    Faltou combinar com os donos dos postos, que diante da boataria do aumento chegaram a acrescentar até 1 real em cada litro de gasolina. O impacto na bomba já foi sentido, e a impressão geral é de que a comunicação do governo não chegou lá na ponta.

    Lula, afinal, prometera frear os aumentos seguidos de gasolina - "abrasileirando" os preços dos combustíveis. Ou seja, a ideia é enterrar a nefasta PPI, adotada no período Temer/Bolsonaro..

    Por que o governo não esperou essa mudança estrutural na paridade de preços internacional - que depende da nova configuração do Conselho da Petrobras, ainda indefinida - antes de "reonerar" os preços?Ah, porque a boa prática econômica indica que o bolsonarismo agiu de forma irresponsável, tirando arrecadação do governo em 2022 para tentar ganhar a eleição, e agora seria hora de reorganizar a bagunça herdada de Guedes e sua trupe.

    Hum...

    O aumento da gasolina certamente não terá impacto gigante, mas abre uma cunha de mal estar social junto à classe C - que trabalha com aplicativos e motos de entrega de comida e depende fortemente da gasolina para sua atividade.

    O discurso ambiental (que levou o governo a onerar menos o etanol) tem aderência junto à juventude e a alguns setores médios tradicionais. Mas não entre esses grupos da Classe C - que em 2022 se dividiu entre bolsonarismo e Lula, tendendo mais para o primeiro.

    Por que criar esse atrito antes de 90 dias de governo? Para mostrar-se confiável junto ao "mercado"? Não parece uma boa estratégia política. Até porque o mercado não gostou de outra medida do governo nessa área: o novo imposto sobre exportação de oléo cru, que servirá para compensar a ausência de taxação sobre diesel e gás de cozinha.  

    Lembremos que em 2013 os 20 centavos na tarifa de ônibus e metrô pareciam algo insignificante e abriram uma crise política grave.

    2023 não é 2013. Mas Lula e a comunicação do governo precisam sentir mais o pulso das ruas. No caso da gasolina, o que pareceu uma solução extremamente engenhosa pode ter criado uma primeira rachadura junto a eleitores que escolheram o petista em outubro - mas não tem afinidade ideológica para manter-se ao lado do governo ao sentir no bolso o impacto do aumento da gasolina, que Lula prometera controlar.    

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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