Quem vai assinar a nova Carta aos Brasileiros?
O que o ex-presidente Lula disse, ao fim e ao cabo, é que, desta vez, a "Carta ao Povo Brasileiro" terá de ser "escrita" pelo mercado. Quem perderá mais neste estica-e-puxa será uma incógnita, mas ao não confrontar Bolsonaro e nem de sinalizar ao mercado, a candidatura do ex-presidente perde duas oportunidades
Pesquisa da XP Investimentos mostrou crescimento de Bolsonaro tanto na receptividade de investidores ao seu nome quanto na crença de que ele poderá ganhar. A marcha dele ao centro segue acelerada e eficiente.
Se realmente anunciar seu economista-chefe, Bolsonaro entrará num game novo, o de discutir propostas concretas para a solução econômica brasileira, o que pode lhe render mais pontos, para a tragédia dos tucanos, cuja unidade segue distante do horizonte. No entanto, se bem confrontado pela esquerda, por meio de soluções exequíveis e previsíveis, poderá desidratar.
A hora ´é agora, pois Bolsonaro é o único outsider que provou não ser uma bolha ou uma pele de establishment.
Lula caiu na intenção de voto dos jovens ( 60% dos eleitores de Bolsonaro já são desta categoria). Uns podem creditar à falta um discurso mais socialista. Outros propugnarão generalidades sobre dialogar com os jovens. Contudo, o que lhe falta é confrontar Bolsonaro.
Apesar de não parecer, na cronometragem do jogo eleitoral deste instante, Lula tem vantagem na correlação de forças, pois quando o assunto é infraestrutura, a grande maioria vincula o tema à geração de empregos, educação e saúde e metade defende expandir despesas para isso. Em geral, o brasileiro discorda de teses conservadoras e a última pesquisa do IBGE revelou que 26,8 milhões de brasileiros estão sem emprego ou trabalhando menos do que gostariam ou poderiam.
Concretamente, todas as PECs aprovadas por Temer estão sob júdice de 2018 e os dados de desempenho fiscal, emprego e crescimento não tem força para produzir, a curto prazo, nenhuma melhora na popularidade do governo e, consequentemente, no potencial de um candidato reformista liberal.
Lula mandou recados ao mercado na semana retrasada: Sabe que ele não é de extrema-esquerda porque já o viram governar, tem excelentes índices relevantes ao monetarismo para mostrar de seu legado, dará preferência à produção e não à especulação, não trabalhará com privatizações e reformas sob as bases atuais e no ritmo como são tocadas, se “ninguém” aceita aumento de impostos para financiar a solução fiscal, mas há Refis para geral, então a isenção tributária vai começar pelo salário mínimo.
O que o ex-presidente Lula disse, ao fim e ao cabo, é que, desta vez, a “Carta ao Povo Brasileiro” terá de ser “escrita” pelo mercado.
Quem perderá mais neste estica-e-puxa será uma incógnita, mas ao não confrontar Bolsonaro e nem de sinalizar ao mercado, a candidatura do ex-presidente perde duas oportunidades: a) testar a possibilidade de antecipar um cenário de vitória em primeiro turno nas pesquisas, agregando apoios da direita moderada - ainda mais com o PSDB enrolado em guerras intestinas - e dos que ávidos para derrotar o “fascismo”; e b) antecipar a projeção de sua imagem como o estabilizador para atores-chave das instituições (imaginem o impacto de pesquisas do mercado mostrando crença na vitória de Lula com a Bolsa pontuando nem que fosse em uma média justa com o período 2003-2010?)
Para tal, bastam dois conceitos-chave: regulação política da economia em prol da justiça social e a do estado em prol da responsabilidade fiscal, devidamente reiterados.
A imprensa noticiou que o ex-presidente Lula buscou demover o líder do MTST, Guilherme Boulos, a lançar seu nome à presidência pelo PSOL. A pergunta que não quer calar, sendo isto verossímil, é por quê?
Boulos na disputa fechará a conta de todos os relevantes partidos de esquerda terem candidatos, enquanto isso Lula ganha mais liberdade para se movimentar, sem estar acorrentado a esta ou aquela idiossincrasia sobre alianças, programa e narrativa.
Não há semelhanças entre as origens do Impeachment e a crise da social-democracia na Europa. Aliás, no principal país do Velho Continente, a Alemanha, o Partido Social Democrata (SPD) deu a mão à Angela Merkel para formar um gabinete, recuando da posição oposicionista. Novas eleições poderiam abrir mais oportunidades para a extrema-direita, que voltou ao parlamento, fato inédito desde 1945.
Pelo visto, não é só no Brasil que saídas consistentes exigirão coalizões consistentes. É Coisa de grandes nações. Ou, então, que haja uma vitória eleitoral significativa, impossível no contexto hodierno nacional se apenas se reforçar a polarização.
Por outro lado, articulações “esquerdo-criativas”, como o Podemos espanhol, seguem batendo prego no sabão, sonhando com o dia em que serão realmente alternativas de poder. Nada contra, só a distinção entre idealpolitik e wishful thinking.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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