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    Renato Farac

    Engenheiro Florestal formado pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (ESALQ/USP). Membro do Comitê Central Nacional do Partido da Causa Operária (PCO)

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    Questão do índio: incendiar Borba Gato ou a reforma agrária?

    O identitarismo por trás de uma aparência radical esconde uma luta vazia que beneficia os verdadeiros culpados do massacre no campo

    Acampamento dos povos indígenas em Brasília (Foto: Kamikia Kisedje/Acampamento Pela Vida)

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    Por Renato Farac, DCO

    A votação do Marco Temporal pelo Supremo Tribunal Federal (STF) deixou ainda mais clara a farsa da recente “luta” dos identitários em incendiar estátuas em São Paulo e no Rio de Janeiro.  As sucessivas manobras dos ministros do STF para desmobilizar o movimento indígena que se mobilizou para Brasília e o latifúndio ganhar tempo jogou por terra a política de destruir a estátua de Borba Gato em São Paulo e de Pedro Alvares Cabral e Pero Vaz de Caminha no Rio de Janeiro como forma de luta e de até mesmo trazer o problema do índio para discussão pública.

    Em nenhum momento os responsáveis pela tentativa de incendiar os monumentos conseguiram explicar a situação dos indígenas e muito menos quem são os verdadeiros responsáveis pelos ataques as terras indígenas, aos seus direitos e a violência direcionada a esse setor da população.

    Com discussões vazias sobre “elite” brasileira, sociedade racista e pouco ou nenhum conhecimento da história nacional procuraram explicar os motivos dos conflitos de terra, situação de miséria e extrema necessidade dos indígenas.

    Uma ação eleitoreira e vazia

    Como vimos, os coletivos que “organizaram” a queima de estátuas sequer citaram o latifúndio ou fizeram campanha contra esse setor que oprime e ataca os indígenas hoje e diariamente. A ação serviu apenas para que elementos oportunistas da esquerda pequeno burguesa realizassem uma campanha demagógica e vazia em favor dos povos indígenas.

    Vários parlamentares e os responsáveis pelo incêndio nas estátuas estavam mais interessados em aparecer com interesses eleitorais que denunciar a situação dos indígenas e quem os oprime de fato.

    Isso pode ser comprovado pelo apoio que a direita em São Paulo como o PSDB e MDB, João Doria e Ricardo Nunes, que controlam o estado e a capital tomaram medidas de apoio como discutir a retirada de estátuas e nomes de monumentos para serem reavaliados. Ou seja, tiveram apoio dos setores mais direitistas e contra a população do país nessa discussão. Isso porque não muda e sequer discute a verdadeira situação dos indígenas e dos responsáveis pelos ataques aos seus direitos.

    O problema dos indígenas é o latifúndio

    De maneira direta, a questão fundamental dos povos indígenas é a terra. O processo de proteger os indígenas isolados e sem contato com a civilização moderna e os indígenas que estão em contato e mantém seus costumes e até os indígenas que tomam a decisão de seguir outro caminho esbarra na questão do direito à terra.

    Assim como o trabalhador rural, camponês ou outro tipo de agricultor, a questão da terra é fundamental para seu desenvolvimento social e material. É o fator que permite a sobrevivência e o seu modo de vida. Retirar esse direito leva os indígenas a uma situação de miséria absoluta. Tanto é assim que os indígenas que ainda não possuem suas terras demarcadas ou áreas indígenas com áreas extremamente reduzidas vivem numa pobreza absoluta.

    Essa situação é gerada pelo latifúndio e nada mais. A demarcação das terras indígenas e os ataques contra as terras já demarcadas vem diretamente dos ataques do setor mais atrasado do país: o latifúndio. São os latifundiários que mobilizam sua bancada ruralista no Congresso Nacional, que manipula o judiciário, como estamos vendo o que ocorre no STF e os inúmeros adiamentos na votação do Marco Temporal e nas invasões das terras indígenas com pistoleiros para assassinar indígenas.

    São fatos que ocorrem cotidianamente e a “queima” de estátuas sequer levantou a discussão sobre a reforma agrária necessária para os camponeses e indígenas, e muito menos que são os verdadeiros responsáveis por esses ataques que são os latifundiários.

    Queimar, derrubar ou retirar estátuas nunca tocou e não vai tocar na questão fundiária e na necessidade de uma reforma agrária, apenas desvia o foco das discussões e dos verdadeiros culpados para pessoas que morreram há centenas de anos e que não tiveram papel fundamental no massacre dos indígenas.

    Apenas trouxe discussões duvidosas como “branquitude”, “decolonizar” e, seria o papel fundamental dessa ação, desviar a atenção dos verdadeiros culpados pela situação dos indígenas que é o latifúndio e a direita bancada e financiada por esse setor.

    Em vez de tentar destruir a estátua do Borba Gato é preciso apontar os verdadeiros culpados por dizimar os povos indígenas: o latifúndio, a Polícia, a direita e a justiça (incluindo o STF). Qualquer coisa que tire o foco dessa discussão é mera demagogia e serve apenas para a direita que oprime os povos indígenas continuar sem culpa.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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