Racismo só vai dar cadeia no Brasil quando um preto matar um racista
O que combate o racismo, de fato, é a maneira como enfrentamos o problema
Eu pensei bastante antes de escrever sobre o caso do racista Mateus Abreu Almeida Prado, que humilhou e até cuspiu (na frente da polícia) no motoboy Matheus Fernandes, porque quando estamos movidos pela raiva é comum que cometamos excessos. Decidido a falar a respeito do tema, fiquei mais algum tempo pensando e comecei a me questionar sobre os tipos de excessos que um racista deveria ser poupado, ou, se deveria ser poupado de algum. Conclui que não, desde que esses excessos cometidos não ofendessem a outros indiretamente ou pudessem ser julgados posteriormente como lapsos do inconsciente.
Não consegui assistir ao vídeo completo mais do que duas vezes. A primeira foi para ter acesso a notícia e a segunda, para me certificar se tudo que via e ouvia era mesmo real. Não vou me estender muito, nem perder meu tempo falando sobre racismo estrutural, herança escravocrata, efeitos da colonização, privilégios da branquitude e o escambau de Pedro Álvares Cabral. Isso já deu! Na boa! Discurso acadêmico não é o método mais eficaz para se combater o racismo. Pelo menos no Brasil. É importante, é necessário, é cult, bota os pretos graduados na roda dos escarnecedores, mas não combate racismo não. Me desculpem!
O que combate o racismo, de fato, é a maneira como enfrentamos o problema. É preciso ter em mente, que quando lidamos com racistas, não estamos nos relacionando com pessoas que se enquadram no processo civilizatório da humanidade. Portanto, assim como os praticantes de outras delinquências, eles precisam de leis mais duras para se adaptarem a realidade social a qual estão inseridos. Acho que não seria tão radical da minha parte, se eu parafraseasse uma célebre frase dos defensores do bolsonarismo, e dissesse que racista bom é racista morto. Afinal, estamos falando de um bandido, de um criminoso, de alguém nocivo ao convívio social.
Porém, como eu não sou portador do instinto homicida que pontua o raciocínio da maior parte dos adoradores do falso messias, eu não teria coragem de tirar a vida de ninguém. Embora, não condenasse quem o fizesse em legítima defesa da honra pelo racismo sofrido. Pelo contrário, o perdoaria em nome de jesus. Do mesmo jesus que, durante séculos, sempre perdoou os crimes cometidos pelos brancos que os adoravam. Um jesus branco, loiro, de olhos azuis, feito à imagem e semelhança do preconceito dos deuses homens brancos que o criaram. O meu deus é branco e “meu nome está na bíblia”, diria o Mateus rico que humilhou o Matheus pobre, para exaltar a sua supremacia branca.
Esse jesus era capaz de abrigar em sua Igreja, tanto um sacerdote que havia queimado um ser humano na fogueira, como um senhor de engenho que tinha açoitado o seu escavo até a morte. E depois se encontrariam no “céu”, tendo São Pedro como testemunha da sua salvação. Por que esse mesmo jesus não perdoaria um preto que chicoteasse um racista até a morte? Talvez, por não ser possível que oprimido e opressor, tenham o mesmo deus como senhor. Fico imaginando para qual deus os membros da Ku Klux Klan entoavam cantos de glórias e aleluias, enquanto matavam mais um preto. Para o mesmo deus que o colonizador escravocrata obrigava os seus escravizados a rezar, é que não podia ser. Ou pode isso, Arnaldo?
Não! Não pode! Assim como também não pode continuar impune, a repugnância das agressões raciais sofridas pelos pretos nesse país. Se racismo é crime, por que os adeptos desse tipo de modalidade criminal não vão para cadeia? Por que têm a mesma cor de “jesus” ou por que são descendentes dos inventores do deus branco e cúmplice de traficantes de pretos escravizados? Ou alguém acha mesmo que se Jesus, esse sim com “J” maiúsculo, tivesse essa pinta de Thiago Lacerda que os santinhos da Igreja nos apresenta, ele teria sido crucificado? Em se tratando de religião racializada, acho pouco provável.
Racialização esta que sempre privilegiou a supremacia branca. Tanto, que encorajou o racista Mateus Almeida Prado, a bater no braço mostrando a cor da sua pele para o motoboy Matheus Fernandes, e dizer que ele tinha inveja de sua cor e de sua superioridade natural. Tamanho privilégio branco que permite que o aristocrata Almeida Prado, diga ao “favelado” Fernandes que ele nunca terá o que ele tem. É a certeza de quem sabe que a estrutura racista que o beneficia, jamais permitirá que um preto esteja no seu mesmo patamar. E para fazer barba, cabelo e bigode, Mateus, o racista, ainda zombou da lei dizendo que “Pode me denunciar por racismo, que não vai dar em nada” E ele tem razão.
O racismo só vai dar cadeia no brasil, quando um preto sair da presença de Deus, esse com “D” maiúsculo, e mandar um racista pro inferno, biblicamente falando. Até porque, eu não creio que a alma de um racista possa ir para lugar melhor. Nesse dia então, o sol escurecerá e uma legião de anjos nórdicos vestindo uma capa preta com o símbolo dos estados confederados nas costas, tocará suas trombetas às portas do supremo tribunal, anunciando que a justiça do deus da coroa portuguesa está a porta. Todo pescoço se dobrará ao joelho da polícia imperial. Será o dia do asfixiamento final. Não sobrará preto sobre preto.
Está na evangelho de Mateus, o Almeida Prado, artigo 121, artigos de 1 a 5. É a sagrada escritura que apenas pobres e pretos são obrigados a cumprir no país.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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