Reflexões filosóficas de um analfabeto em filosofia
A primeira indagação que nos vem à mente quando nos propomos discutir o significado da vida é: qual é a finalidade que nos impulsa ao longo da existência
A decisão de escrever algumas linhas sobre este tema foi tomada após uma conversa amistosa que tive com alguns amigos de religião evangélica. Como todos poderão comprovar ao seguir adiante na leitura do texto, trata-se de um assunto profundamente relacionado com questões filosóficas.
Mas, se eu não passo de um analfabeto em termos de filosofia, por que estou me aventurando a abordar esta pauta? Bem, é que após refletir por um momento sobre o que havíamos debatido na conversa já citada, cheguei à conclusão de que todos temos alguma coisa a dizer a respeito de nosso entendimento do mundo e as razões que nos motivam, ou desmotivam, a viver. Por isso, tomei a ousadia e estou tentando expressar aquilo que consigo discernir dentro da escuridão em que estou perambulando.
A primeira grande indagação que nos vem à mente quando nos propomos discutir o significado da vida é: qual é a finalidade que nos impulsa ao longo de nossa existência como seres humanos? Embora possa parecer algo passível de receber uma resposta simples e rápida, na verdade, trata-se de uma das mais misteriosas questões sobre as quais a humanidade vem se debruçando ao longo do tempo.
Com base em meu analfabetismo filosófico, sinto-me impelido a dizer que esta questão se deriva de uma capacidade dotada exclusivamente pelos seres humanos, em contraposição a todos os demais seres vivos, pelo menos dentro do escopo da vida como nós a conhecemos em nosso planeta. E a capacidade à qual me refiro é a de raciocinar, de poder refletir sobre o passado, analisar o presente e projetar sua reflexão ao futuro.
Assim, no exercício dessas faculdades exclusivas, o ser humano se dá conta da efemeridade de sua existência como indivíduo. E, ao adquirirmos consciência de que nosso destino inescapável é a morte, tendemos a entrar em angústia e desespero. Passamos a procurar maneiras de ir além daquele ponto final que sabemos que chegará. Portanto, desde sempre, uma das preocupações que têm marcado a humanidade é a busca de uma maneira que nos permita sobrepassar um limite que se apresenta como intransponível, ou seja, como dar continuidade a nossa existência depois da chegada da morte.
Então, ainda ao amparo de meu reduzidíssimo embasamento filosófico, tenho a impressão de que é esta certeza da finitude da vida individual de cada ser humano o que deu vazão ao surgimento das religiões. Em meu entender, a essência de todas as correntes religiosas é a busca de caminhos que possam conduzir-nos à desejada vida eterna. Sem esta preocupação central, grande parte da base de sustentação de todas as religiões se esvairia.
Embora todos os outros animais também temam a morte, seu comportamento diante da mesma é derivado tão somente de seus instintos, e não de meditações reflexivas a respeito da questão. Por isso, eles não vivem dominados pela preocupação e pelo temor em razão da efemeridade da vida individual dos integrantes de cada espécie. Em consequência, nenhum outro animal além do ser humano cultua sentimentos religiosos.
Contrariamente ao que alguns poderiam deduzir a partir do que escrevemos mais acima, meu ponto de vista como partidário de uma abordagem não idealista da sociedade não descarta de modo algum uma projeção de nossos sentimentos ao futuro. Talvez, o grande diferencial entre nossa maneira de sentir e entender o mundo em contraposição à dos espiritualistas se deva a como enxergamos nossa transposição da barreira sinalizada por nossa morte física individual.
Para um materialista vinculado a uma perspectiva de justiça social, o prolongamento de nossa vida ad eternum se alcançará com a convicção de que nossa atuação durante o curto lapso de nossa passagem individual por aqui está sendo dedicada à luta para que a vida como um todo seja garantida para muito além do curto espaço de tempo que demarca nossa presença individual em nosso planeta. E isto se aplica tanto a homens e mulheres como à natureza como um todo.
Portanto, os adeptos de uma análise materialista da sociedade que se identificam com as perspectivas das classes trabalhadoras, que não vivem em função do trabalho alheio, entendem que a continuidade da vida após a morte pessoal não pode ter um caráter individualista, nem egoísta. Nós aspiramos que a vida de nossa gente atual seja o melhor possível, mas também desejamos que as gerações vindouras possam viver em condições dignas e em plena solidariedade. Nossa projeção ao futuro ultrapassa as limitações de nossa individualidade. Cultivamos a confiança de que vamos continuar existindo enquanto estivermos vivendo em confluência harmoniosa entre nós mesmos e com o meio em que estamos inseridos.
Assim, o idealismo de um materialista social pretende ser uma prova de grandeza e altruísmo, uma convicção baseada na crença de que vale a pena lutar para que os seres humanos se mantenham presentes, em condições de justiça e dignidade, num mundo onde não haja crianças desamparadas, nem pessoas passando fome ou sofrendo outras carências básicas. Acreditar e se empenhar para que isto se torne realidade é o que pode dar um sentido à vida de um lutador sincero pelas causas mais sublimes da humanidade.
É desta maneira que almejamos construir nossa rota no rumo da eternidade. E por este caminho poderão transitar todas as pessoas imbuídas da mesma boa vontade, independentemente de que tenham ou não religião, sem importar sua origem racial ou nacional.
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