Reflexões sobre Marighella, resistência e os desafios da diplomacia brasileira
"Lula e Maduro precisam ter meia hora a sós e resolverão, chega de intermediários"
Hoje, 4 de novembro, trago a memória o assassinato de Carlos Marighella, em SP, e o meu sequestro, com mais duas companheiras, no Rio, pelo coronel Paulo Manhães, e levados para o Doi-Codi da Barão de Mesquita.
O passado continua a ser inspiração de luta, e o presente preocupação por entender que o governo Lula está cercado por fora e minado por dentro, como já afirmei algumas vezes em outros artigos.
As opções para sair do cerco são: aceitar ser o sub-imperialista na América do Sul ou fortalecer o BRICS e a sua liderança nele.
Para desarmar as minas internas é necessário e urgente a reforma ministerial, e passar pente fino em funcionários de carreira de estado, onde quer que seja, do Itamarati às forças armadas, para escolhas de funções de chefia.
Na relação atrituosa com a Venezuela estamos assistindo a uma dupla, Amorim e Vieira, despreparada para os novos tempos de construção de mundo multipolar.
Não querer a Venezuela nos Brics é o cúmulo da estupidez, é remar contra o fortalecimento dos Brics, é fraturar a fraternidade latino-americana.
Às vezes a causa é mais frívola e ficamos à procura de algo mais consistente e complexo. É o caso do comportamento do Brasil em relação à Venezuela, pelo menos aparentemente.
Segundo Amorim, a promessa feita pelo governo de Nicolás Maduro de entregar as atas eleitorais do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que dariam maior transparência às eleições presidenciais venezuelanas, foi o fator que desencadeou o impasse. “A quebra de confiança foi algo grave. Recebemos uma promessa e, no fim, não foi cumprida”, declarou o assessor, ao lembrar que o próprio Maduro havia garantido a entrega dos documentos, mas, até o momento, isso não aconteceu”.
MAIS GRAVE É UM PAÍS DESRESPEITAR A AUTONOMIA INTERNA DE UM OUTRO PAÍS E TRANSGREDIR A SUA PRÓPIRA CONSTITUIÇÃO.
- O artigo 4º da Constituição Federal elenca: Autodeterminação dos povos; Não-intervenção; Igualdade entre os Estados.
Maduro ficou entre manter a palavra dada ao Amorim, segundo o próprio, ou a soberania do país. Optou pela dignidade da soberania do país.
Sobre o bloqueio do Brasil à entrada da Venezuela no Brics, o embaixador admitiu que o governo brasileiro foi contrário por considerar que, no momento, o país não reúne as condições necessárias de ser um representante da América Latina. Como as decisões no bloco são por consenso, o país não foi admitido entre os membros associados.
Quais são essas condições necessárias, o povo de todo o mundo necessita saber, e no Brasil é obrigação, o princípio da publicidade (transparência), regra constitucional da Administração Pública.
"O Brasil não quer uma expansão indefinida (no Brics), o Brasil acha que tem de ser países com influência e possam ajudar a representar a região. E a Venezuela de hoje não preenche essas condições, na nossa opinião", afirmou Amorim.
Celso Amorim representa o governo por delegação do seu amigo presidente, não representa o Estado brasileiro, o qual não usa de parâmetros morais e ressentimentos pessoais nas suas relações entre Estados, tanto que mantém relações com os piores e os melhores países do ponto de vista dos direitos humanos.
Quem representa os interesses do Estado é o seu chefe, no caso brasileiro o presidente, e o Itamaraty, não é um assessor extraordinário.
A vaidade de muitos assessores do presidente tem prejudicado o governo. Amorim tem se metido onde não deve, lembremos que falou que a Comissão Nacional da Verdade era coisa do passado, para ser esquecida, e recebeu o repúdio imediato da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça e de outras 20 entidades engajadas por Justiça de transição.
Amorim é conselheiro, Janja é primeira-companheira, às vezes parecem mais super ministros. E outros que se metem onde não devem e que não foram chamados, como o Múcio, ministro da defesa, dizer que as penas aos golpistas de 8 de janeiro devem ser sopesadas, a dosimetria caberá à Justiça, ele não tem que se intrometer.
Falta ordem na corte.
Prossegue o assessor do Lula: "Talvez ainda não seja possível chegar a uma conclusão", disse ele. "Não estamos fazendo julgamento moral ou político sobre o país em si (Será que não, pergunto eu?). O BRICS tem países com diferentes regimes, e a questão é saber se eles podem contribuir para um mundo mais pacífico pelo seu peso político e capacidade de relacionamento".
"Queremos um BRICS fortalecido, com países que possam realmente contribuir para a paz, pelo equilíbrio", reforçou.
"Temos relações normais com a Rússia e somos contra as sanções"
Declarações contraditórias e confusas: o que é um país em si? É contra sanções e está aplicando uma na Venezuela. Um dos países mais bloqueado e penalizado pelos EUA, merece solidariedade e não intrigas e punições.
Afinal, ninguém desconhece que a Venezuela é alvo do império por causa da imensa reserva de petróleo e outros minerais, e por estar em curso uma revolução anti-imperialista.
Um veto mesquinho, por razões de prepotência, vaidade e subimperialismo.
Parece briga de rua de adolescentes. Que só piora. Quem cuspiu primeiro pisa aqui?
A questão é de Estado, nem de governo e muito menos pessoal de disse-que-disse.
Lula gostava de afirmar que depois da primeira mentira, outras surgem para manter a primeira. Analogamente podemos dizer que após o primeiro erro – pedir as atas e se imiscuir na política interna a pedido da golpista Maria Coralina, outros sucederam para justificar o primeiro.
Em entrevistas, conforme noticiado pela imprensa, Celo Amorim declarou que mantém contato próximo e permanente com a Maria Corina, cidadã golpista que foi impedida de ser a cabeça de chapa pela justiça Venezuela. Ela é ex-deputada, filha de empresários ultraliberais e golpista de carteirinha.
Aderir à política de sanções será uma nódoa na história diplomática do Brasil sob a égide do governo Lula.
Há quem diga que Amorim foi à Venezuela na ocasião da eleição com dois seguranças, mas Maduro não o recebeu. E a partir daí, a política de relações exteriores virou pinimba do assessor do presidente Lula.
A celeridade na tomada da decisão pelo veto, talvez, pode produzir uma complexidade aos próximos encontros do BRICS.
Após a Venezuela lançar um plano de reconquista de Essequibo da Guiana, a relação entre os líderes de ambos os países se estremeceu.
Estavam representando o Brasil nesta reunião do veto, Mauro Vieira e Eduardo Paes Saboia. Este é uma figura com histórico de “flerte constante” com a direita, é atual chefe da Secretaria da Ásia e Pacífico, ex-Chefe de gabinete do governo Michel Temer, e com apoio público do então Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, o senador capixaba Ricardo Ferraço, foram responsáveis pelo sequestro do senador boliviano, Roger Pinto Molina, e o trouxeram para o Brasil.
Foi um veto sem diálogo com a Rússia, que preside atualmente os BRICS, sem oportunidade de ouvir a Venezuela, o que foi considerado uma grande humilhação aos venezuelanos.
Celso Amorim não fala pelo Estado e nem pelo governo, é um assessor, não é um executor da política externa, é para aconselhar o presidente que o escolheu. Deveria se limitar a assessorar e não a executar.
Esta função foi criada para Marco Aurélio Garcia, que desempenhou com descrição e proficiência, sem trazer problemas para o Estado brasileiro.
Por que a mídia corporativa está animada e botando pilha nesse imbróglio Brasil e Venezuela?
Lula em relação ao conflito bélico entre Rússia e Ucrânia afirmou por algumas vezes que quando um não quer dois não brigam, e que para a paz é necessário que os dois queriam, do contrário não é alcançável.
Lula foi seduzido por Biden, naquele colóquio de meia hora sem testemunhas?
Subimperialismo ou estreitar parcerias com a China e demais países dos Brics?
Dilma declarou a favor do Brasil aderir à nova rota da seda. A credibilidade da ex-presidenta, como patriota e defensora intransigente da democracia, dá a sua manifestação caráter de atestado de que é bom para o Brasil.
Amorim em contraditório com a ex-presidenta do Brasil e atual presidenta do banco dos Brics não quer que o Brasil adira a rota da seda, estratégia elaborada pela China? Ou está valorizando o passe? Mas é este o papel de um assessor?
Até aliados dos EUA, como, por exemplo, Portugal e Itália, estão na Nova Rota da Seda. Essa postura de autocensura e medo do Brasil da reação dos EUA demonstra pequenez e alinhamento.
Comentário feito pela chefe de Comércio dos Estados Unidos, Katherine Tai, que aconselhou o governo brasileiro a pesar os riscos de uma eventual adesão à Nova Rota da Seda, projeto global de investimentos liderado pela China.
EUA é um modelo a não ser seguido: concentração de renda, pobreza, dívida pública monstruosa, espírito beligerante, promotor e mantenedor de guerras, promovedor de sanções a outros países, enfim, o xerife imperialista do mundo.
Ser subimperialista desse império não condiz com o espírito nacionalista do povo e contraria a Carta Magna do Brasil.
"Eles dão os nomes que eles quiserem para o lado deles, mas o que interessa é que são projetos que o Brasil definiu e que serão aceitos ou não", disse Celso Amorim em relação a entrar ou não nesse projeto nova rota da seda.
Observem se isso é linguajar diplomático, especialmente ante à história da diplomacia brasileira de moderação, mediação e conciliação.
Só falta o Brasil enviar diplomata para Taiwan.
Lula e Maduro precisam ter meia hora a sós e resolverão, chega de intermediários.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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