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Joaquim de Carvalho

Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br

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Representante do Departamento de Estado afirma que esteve no Brasil para discutir sanções contra o Irã

Itamaraty confirma o encontro, mas não fala em sanção. Embaixador iraniano diz que decisão brasileira sempre foi soberana, sem ceder à “máxima pressão" dos EUA

Abram Paley e Abdollah Nekounam Ghadirli (Foto: Divulgação | Joaquim de Carvalho)

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Um representante do Departamento de Estado dos Estados Unidos esteve no Brasil esta semana para falar a respeito de sanções contra o Irã.

Abram Paley, enviado especial adjunto para o Irã desde março de 2023, foi quem divulgou os encontros, em uma postagem na rede X.

“Acabo de regressar do Brasil, onde tive reuniões construtivas com autoridades sobre as nossas preocupações sobre as atividades desestabilizadoras do Irã e dos seus representantes na região, a aplicação de sanções, a cooperação contra a luta contra a proliferação e os nossos objectivos comuns de não-proliferação”, escreveu.

A expressão não-proliferação diz respeito ao tratado sobre armas nucleares. O Irã desenvolve tecnologia nuclear, mas o governo de Teerã afirma que é para fins pacíficos, diferentemente dos EUA, que tem o maior arsenal de artefatos nucleares e até já usou duas bombas contra a população civil, no Japão.

No final da tarde desta sexta-feira, a postagem do representante do Departamento de Estado tinha sido vista por 5 mil pessoas, com 14 curtidas e nove compartilhamentos.

A repercussão foi relativamente pequena, mas entre os que acessaram o tuíte está o embaixador do Irã no Brasil, Abdollah Nekounam Ghadirli, que mencionou a postagem no café da manhã que teve com jornalistas na manhã desta sexta-feira.

Eu estava presente como representante do Brasil 247.

O embaixador falou da postagem no contexto do movimento que os EUA fazem para prejudicar o Irã. Ghadirli chamou esse movimento de “máxima pressão”.

O embaixador lembrou que o Brasil não comercializa equipamentos nucleares com o Irã e, portanto, nenhuma sanção se justificaria.

O Brasil exporta para o Irã alimentos, sobretudo carnes e grãos.

Sobre a expectativa do governo iraniano a respeito da posição do Brasil em relação à pressão norte-americana, Ghadirli disse:

“Tem que perguntar para os brasileiros”.

Perguntei ao Itamaraty se tem conhecimento dessas reuniões, quais foram as autoridades brasileiras contactadas e o que, exatamente, foi conversado. Por fim, se o Brasil pode impor sanções ao Irã. A resposta foi sucinta. “A propósito de sua consulta, informa-se que o Embaixador Carlos Duarte, Secretário de África e Oriente Médio do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, recebeu, na última segunda-feira, 17 de junho, o sr. Abram Paley, Enviado Especial dos EUA para o Irã. No encontro, trataram da situação no Oriente Médio”, informou o Itamaraty

O embaixador iraniano, por sua vez, disse que as relações entre Brasil e seu país são baseadas na justiça e que o governo brasileiro “sempre foi soberano em suas decisões”.

Em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a Petrobras a abastecer dois navios iranianos, que vieram ao Brasil com carregamento de uréia (fertilizante agrícola) e voltou com carga de milho.

O governo dos EUA protestou e dois senadores republicanos chegaram a defender retaliação ao Brasil, em razão das sanções unilaterais impostas pelos norte-americanos contra o Irã.

Em fevereiro do ano passado, dois navios de guerra do Irã foram autorizados pelo governo Lula a atracarem no porto do Rio de Janeiro.

Novamente houve protesto do governo norte-americano, mas o Brasil manteve sua posição e, por isso, o governo Lula foi elogiado por dois ex-embaixadores do Brasil nos EUA, Rubens Barbosa e Rubens Ricupero.

“O Brasil aceita imposição de sanções desde que sejam aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU. Sanções unilaterais, do ponto de vista do Brasil, são ilegais, sejam comerciais, sejam políticas”, afirma Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice).

Ricupero, por sua vez, afirmou que a entrada de navios de guerra estrangeiros, normalmente, não representa um conflito. “É operação, como se diz nos meios militares, de se mostrar a bandeira”, declarou.

Ricupero e Barbosa afirmaram que a recusa em receber os navios poderia ser vista como uma atitude de hostilidade ao Irã. “O Brasil não tem interesse em fazer isso, o País exporta muito para o Irã”, observou Ricupero.

O embaixador também falou nesta sexta-feira sobre o comércio bilateral, que triplicou nos últimos anos. “E vai aumentar”, disse. Apesar da pressão dos EUA?, perguntei. “Apesar da pressão dos EUA”, respondeu.

O café da manhã do embaixador com os jornalistas ocorreu no momento em que o Irã decidiu isentar de visto os brasileiros que queiram permanecer até duas semanas no antigo país persa.

O governo iraniano quer intensificar o turismo de brasileiros e também mostrar que seu país é muito diferente do que diz a mídia ocidental, muito influenciada pelos EUA.

“Nosso país tem uma história de civilização milenar. As atrações históricas são um legado mundial, pertencem a toda a humanidade”, disse.

Ele afirmou que as agências internacionais de notícia influenciadas pelos EUA transformam “pequenos incidentes” em movimentos amplos.

Ele disse que quem visita o Irã tem outra visão.

O jornalista Paulo Miranda, fundador e presidente da TV Comunitária em Brasília, que participou da entrevista com o embaixador, esteve no Irã há alguns anos e disse que, de fato, o país é muito diferente do que a mídia ocidental mostra.

“Achei a entrevista (do embaixador) muito boa no sentido de incentivar o brasileiro a conhecer o Irã. Eu aconselho que o brasileiro vá conhecer. É um país lindíssimo, muita história, história mesmo, desde 506 antes de Cristo”, disse.

“É um país lindíssimo, belo, um povo acolhedor, comunicativo, você não pode beijar as mulheres, mas elas vêm conversar com você. E você pode conversar com elas numa boa. A maioria da população de lá fala inglês, é uma questão de educação muito forte. As mulheres estão no mercado de trabalho. Nas universidades, as mulheres são maioria”, disse.

Segundo ele, a população dos países vizinhos fazem tratamento de saúde lá, por conta das modernas técnicas de medicina. E a engenharia é de ponta.

“As sanções econômicas todas contra o Irã não funcionaram, porque o Irã passou a desenvolver todas as suas tecnologias, o avanço na medicina e tudo mais”, contou.

Pasárgada, imortalizada nos versos de Manuel Bandeira, fica no Irã, e Paulo Miranda conheceu. Para ir até lá, não precisa ser amigo do rei.

Até porque o Irã, como frisou o embaixador, é um país que realiza eleições regularmente. Um país islâmico e democrático, não uma monarquia, como existia no passado.

A próxima eleição está marcada para 28 de junho, para a escolha do presidente que sucederá Mohammad Mokhber, que morreu em acidente de helicóptero no dia 19 de maio.

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Segue a postagem do representante do Departamento de Estado dos EUA na rede X:



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