Robert F. Kennedy Jr. - o idiota útil do lobby de Israel
Kennedy regurgita cada cliché racista, distorção da história e cada comentário humilhante sobre o atraso do povo palestino
Originalmente publicado no website do autor. Traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz com exclusividade para o Brasil 247
O longo pesadelo da opressão dos palestinos não é uma questão tangencial. Esta é uma questão preto-e-branco de um estado colonial impondo uma ocupação militar, uma violência horrorosa e apartheid, apoiado por bilhões de dólares estadunidenses, sobre a população indígena da Palestina. Isto é os todo-poderosos contra os todo-impotentes.Israel usa os seus armamentos modernos contra uma população cativa que não tem exército, nem marinha, nem força aérea, nem unidades militares mecanizadas, nem comando e controle, nem artilharia pesada, enquanto faz de conta que atos de matança por atacado sejam guerras. Os foguetes rudes disparados contra Israel pelo Hamas e outras organizações palestinas de resistência – um crime de guerra, porque visam civis – não são nem remotamente comparáveis com as bombas “bunker-buster” [destruidoras de bunkers] Mark-84 de mais de 900 quilos com um “raio de morte” de quase um metro e que “criam uma onda supersônica de pressão quando explodem”, que foram despejadas por Israel sobre bairros palestinos superlotados, os milhares de palestinos mortos e feridos e a destruição mirada de infraestruturas básicas, incluindo redes elétricas e instalações de purificação de água.Os palestinos em Gaza vivem numa prisão a céu descoberto que é um dos locais mais densamente populosos do planeta. Lhes são negados passaportes e documentos de viagem.A desnutrição é endêmica nos Territórios Ocupados. “Altas proporções” da população palestina são “deficientes em vitaminas A, D e E, que desempenham funções-chave na visão, saúde óssea e funções imunes”, segundo um relatório do Banco Mundial de 2022. O relatório também assinala que mais de 50% das pessoas entre as idades de 6 e 23 anos em Gaza e mais da metade das mulheres grávidas são anêmicas e “mais de um quarto das mulheres grávidas e mais de 25% das crianças entre 6-23 meses de idade [na faixa de Gaza] são anêmicas”.Oitenta e oito por cento das crianças de Gaza sofrem de depressão, após 15 anos do bloqueio israelense, segundo um relatório de 2022 da organização Salve as Crianças [Save the Children] e mais de 51% das crianças foram diagnosticadas com Desordem de Stress Pós-traumático [PTSD – Post-traumatic Stress Disorder] após a terceira maior guerra sobre Gaza em 2014. Apenas 4,3% da água em Gaza é considerada como adequada para consumo humano. Os palestinos em Gaza estão aglomerados em casebres não-sanitários e abarrotados. Eles frequentemente carecem de cuidados médicos. Os índices de desemprego de 46,6% estão dentre os mais altos do mundo.A meta do sionismo, desde antes do início do Estado de Israel, tem sido de desalojar os palestinos da sua terra e reduzir os que sobrarem a uma luta pela subsistência mínima – como assinala o historiador israelense, Professor Ilan Pappe:
Em 10 de março de 1948, um grupo de onze homens, líderes sionistas veteranos, juntamente com jovens oficiais militares judeus, deram os toques finais num plano para a limpeza étnica da Palestina. Naquela mesma noite, foram despachadas ordens militares para as unidades no campo, para se prepararem para a expulsão sistemática de palestinos de vastas áreas do país. As ordens vinham com uma descrição detalhada dos métodos a serem usados para expulsar à força as pessoas: intimidação em larga escala; cercar e bombardear os vilarejos e centros populacionais; atear fogo às casas, propriedades e bens; expulsar os residentes; demolir casa; e, finalmente, plantar minas nos destroços, para evitar que os habitantes expulsos retornassem. Cada unidade foi designada a sua própria lista de vilarejos e bairros a serem visados, de acordo com o plano-mestre – que foi chamado de Plano D (da letra 'daled', em hebraico).
Uma vez que o plano foi finalizado, levou-se seis meses para completar a missão. Quando esta acabou, mais da metade da população nativa palestina, mais de 750 mil pessoas, foram desalojadas, 531 vilarejos foram destruídos e 11 bairros urbanos foram esvaziados dos seus habitantes.
Estes fatos políticos e históricos, os quais eu reportei a respeito, como uma pessoa que fala o árabe, durante sete anos, quatro deles como Chefe do Bureau de Oriente Médio para o The New York Times, são difíceis de ignorar. Mesmo à distância.
Eu observei soldados israelenses insultando meninos em árabe nos alto-falantes dos seus jipes blindados no campo de refugiados de Khan Younis, em Gaza. Os meninos, com cerca de 10 anos de idade, então jogaram pedras contra um veículo israelense. Os soldados abriram fogo, matando alguns e ferindo outros. No léxico israelense, isto se chama de crianças atingidas em fogo cruzado. Eu estava em Gaza quando os jatos de combate F-16 despejaram bombas de fragmentação de ferro de 450 quilos sobre bairros densamente populosos. Eu vi os cadáveres das vítimas, incluindo crianças, enfileirados em linhas arrumadas. Isto foi chamado de um ataque cirúrgico a uma fábrica de bombas. Eu vi Israel demolir casas e edifícios de apartamentos para criar zonas-tampão entre os palestinos e as tropas israelenses. Eu entrevistei famílias destituídas acampadas nos destroços das suas casas. A destruição é chamada de demolição de casas de terroristas. Eu pisei sobre os destroços bombardeados de escolas, bem como de clínicas médicas e mesquitas. Eu ouvi a alegação de Israel que foguetes errantes ou fogo de morteiros palestinos causaram estas e outras mortes, ou que os lugares atacados estavam sendo usados como depósitos de armas ou lugares de lançamentos de foguetes. Juntamente com todos outros repórteres que eu conheço e que trabalharam em Gaza, eu jamais vi qualquer evidência de que o Hamas usa civis como “escudos humanos”. Ironicamente, há evidências de que as forças militares israelenses usam palestinos como escudos humanos – o que a Corte Suprema de Israel considerou como ilegal em 2005.Há uma lógica perversa no uso da Grande Mentira - Große Lüge – por parte de Israel. A Grande Mentira alimenta as duas reações que Israel busca provocar – racismo entre os seus apoiadores e terror entre as suas vítimas.Há um pesado preço político a se pagar por desafiar Israel – cuja interferência aberta no nosso [dos EUA] processo político torna os protestos mais mornos sobre a política israelense ser um desejo de morte política. Os palestinos são pobres, esquecidos e estão sozinhos. E é por isso que o desafio ao tratamento de Israel com os palestinos é a questão central enfrentada por qualquer político que alega falar pelos vulneráveis e os marginalizados. Opor-se a Israel tem um custo político que poucos, incluindo Robert F. Kennedy Jr., estão dispostos a pagar. Porém, se você se opõe, isso o destaca como alguém que coloca princípios acima de conveniências, que está disposto a lutar pelos miseráveis da Terra e, se necessário, a sacrificar o seu futuro político para conservar a sua integridade. Kennedy falha neste teste crucial de coragem política e moral.Ao invés disso, Kennedy regurgita cada mentira, cada cliché racista, cada distorção da história e cada comentário humilhante sobre o atraso do povo palestino que é vendido pelos elementos mais retrógrados e de extrema direita da sociedade israelense. Ele vende o mito que Pappe chama de “Israel de Fantasia”. Isto sozinho basta para desacreditá-lo como um candidato progressista. Isto questiona o seu julgamento e a sua sinceridade. Isto o torna mais um mercenário do Partido Democrata que dança conforme a música macabra que o governo de Israel toca.Kennedy jurou defender “o caso moral de Israel”, que é o equivalente a defender o caso moral para o apartheid da África do Sul. Ele repete, quase textualmente, os pontos de fala do livro de propaganda israelense, que foi editado pelo pesquisador de opinião pública e estrategista político republicano Frank Lutz. O estudo de 112 páginas, marcado “não para distribuição nem publicação”, que foi vazado para a revista Newsweek, foi encomendado pelo Projeto Israel. O mesmo foi escrito em seguimento à Operação [militar israelense] Chumbo Fundido [Operation Cast Lead] em dezembro de 2008 e janeiro de 2009 – quando 1.387 palestinos e nove israelenses foram mortos.
O documento de estratégia é o mapa de como os políticos israelenses e seus lobistas vendem Israel. Ele expõe o amplo hiato entre o que os políticos israelenses dizem e o que eles sabem ser a verdade. Ele é feito sob medida para dizer ao mundo exterior, especialmente aos estadunidenses, o que eles querem ouvir. O documento é leitura obrigatória para qualquer um que tente lidar com a máquina de propaganda israelense.
Por exemplo: o documento sugere que se conte ao mundo externo que Israel “tem direito a ter fronteiras defensáveis”, mas aconselha que os israelenses se recusem a definir quais deveriam ser estas fronteiras. Ele aconselha os políticos israelenses a justificar a recusa de Israel e permitir que 750 mil palestinos e seus descendentes – que foram expulsos do país durante a guerra de 1948 – retornem para casa, apesar que o direito de retorno seja garantido sob a lei internacional, ao referir-se a este direito como uma “exigência”. Ele também recomenda que se argumente que os palestinos buscam fazer migrações de massa para ocupar terras dentro de Israel. Ele sugere que se mencionem as centenas de milhares de judeus refugiados vindos do Iraque, da Síria e do Egito, que fugiram do anti-semitismo e da violência no mundo árabe depois da criação do estado judaico. O documento recomenda que se diga que estes refugiados também “abandonaram propriedades”, essencialmente justificando o pogrom israelense pelos pogroms que os estados árabes executaram após 1948. Ele recomenda que se culpe a pobreza dos palestinos às “nações árabes” que não proveram “uma vida melhor para os palestinos”.
O que é o mais cínico sobre o documento é a tática de expressar uma falsa simpatia pelos palestinos, os quais são culpados pela sua própria opressão.
“Demonstre Empatia para AMBOS os lados!”, diz o documento. “A meta das comunicações pró-israelenses não é simplesmente fazer que as pessoas que já amam Israel sintam-se bem sobre aquela decisão. A meta é ganhar novos corações e mentes para Israel sem perder o apoio que Israel já tem”. Ele diz que esta tática “desarmará” o público.
Eu duvido que Kennedy tenha lido ou ouvido falar do documento de Luntz. Mas ele alimentado com colherzinha na boca sobre os pontos de fala e ele, inocentemente os cospe de volta. Israel só quer a paz. Israael não se engaja em tortura. Israel não é um estado de apartheid. Israel dá direitos políticos e civis aos árabes israelenses que eles não têm em outras partes do Oriente Médio. Os palestinos não são deliberadamente visados pelas Forças de Defesa Israelenses (IDF – Israeli Defense Forces). Israel respeita as liberdade civis e os direitos de gênero e de casamento. Israel tem “o melhor judiciário do mundo”.
Kennedy faz outras alegações, como a sua bizarra declaração que a Autoridade Palestina paga a palestinos para matar judeus em qualquer lugar do mundo, juntamente com falsificações da história elementar do Oriente Médio – as quais são tão absurdas que eu as ignorarei aqui. Porém, eu listo abaixo exemplos que provavelmente podem furar o seu apego egoísta à “Israel de Fantasia”.
Apartheid
O relatório da ONU de 2017: “As práticas israelenses com relação ao povo palestino e a questão do Apartheid” conclui que Israel estabeleceu um regime de apartheid que domina o povo palestino como um todo”. Desde 1967, enquanto um povo, os palestinos tem vivido naquilo que o relatório se refere como tendo quatro “domínios”, nos quais os fragmentos da população palestina são ostensivamente tratadas de maneira diferente, mas têm em comum a opressão racial que resulta do regime de apartheid.
Estes domínios são:
1. Lei civil, com restrições especiais, governam os palestinos que vivem como cidadãos de Israel;
2. Lei de residência permanente governando os palestinos que vivem na cidade de Jerusalém;
3. Lei militar que governa os palestinos, incluindo aqueles em campos de refugiados, vivendo desde 1967 sob condições de ocupação beligerante na Cisjordânia e na Faixa de Gaza;
4. Política de impedir o retorno dos palestinos, sejam refugiados ou exilados, que vivem fora do território sob controle de Israel;
Em 19 de julho de 2018, a Knesset (parlamento) israelense votou “para aprovar a Lei Básica da Nação-Estado Judaico, consagrando constitucionalmente a supremacia judaica e a identidade do Estado de Israel como a nação-estado do povo judaico”, explicou o grupo de liberdades civis de Haifa, Adalah explicou. Esta é a lei suprema em Israel, “capaz de sobrepor-se a qualquer legislação comum”.Em 2021, o grupo israelense de direitos humanos B'Tselem publicou o seu relatório intitulado “Um regime de supremacia judaica do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo: Isto é apartheid”.
O relatório diz:
Na área inteira entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão, o regime israelense implementa leis, práticas e violência estatal planejada para cimentar a supremacia de um grupo – os judeus – sobre um outro – os palestinos. Um método-chave para alcançar esta meta é executar uma engenharia de espaço diferente para cada grupo.
Os cidadãos judaicos vivem como se a área inteira fosse um único espaço (excluindo a Faixa de Gaza). A Linha Verde (fronteiras pré-1997) nada significa para eles: seja que eles vivem a oeste dela, dentro do território soberano de Israel, ou a leste dela, em assentamentos não formalmente anexados a Israel, é irrelevante para os seus direitos ou o seu status.
Por outro lado, onde vivem os palestinos é uma questão crucial. O regime israelense dividiu a área em diversas unidades, as quais ele define e governa de maneiras diferentes, concedendo aos palestinos direitos diferentes em cada uma destas unidades – todas as quais são inferiores comparadas aos direitos proporcionados aos cidadãos judeus.
O relatório acrescenta: “Desde 1948, Israel ocupou mais de 90% da terra dentro do seu território soberano e construiu centenas de comunidades judaicas, no entanto sequer uma para os palestinos (com exceção de diversas comunidades para concentrar a população beduína, depois de desapropriá-los da maior parte dos seus direitos de propriedade)”, diz o relatório.“Desde 1967, Israel também promulgou a sua política nos Territórios Ocupados, desapropriando os palestinos de mais de 2.000 quilômetros quadrados, sob vários pretextos. Em violação da lei internacional, Israel construiu mais de 280 colônias na Cisjordânia (incluindo Jerusalém Leste) para mais de 600 mil cidadãos judeus. Israel inventou um sistema de planejamento separado para os palestinos, planejados basicamente para evitar a construção e o desenvolvimento e não estabeleceu uma única nova comunidade palestina”.
Mirando nos Civis
Ao contrário das alegações de Kennedy de que “a política das forças militares israelenses sempre é de atacar somente alvos militares”, a mira deliberada das forças militares israelenses e outros ramos do aparato de segurança de Israel contra civis e infraestruturas civis têm sido extensivamente documentados por organizações israelenses e internacionais.O relatório Goldstone de 2010, que tem mais de 500 páginas, investigou os 22 dias de ataques aéreos e por terra de Israel sobre Gaza ocorreram entre 27 de dezembro de 2008 e 18 de janeiro de 2009. O Conselho de Direitos Humanos da ONU e o Parlamento Europeu endossaram o relatório.
O ataque israelense matou 1.434 pessoas, incluindo 960 civis, segundo o Centro Palestino para os Direitos Humanos. Mais de 6.000 casas foram destruídas ou danificadas, deixando atrás de si algo em torno de US$ 3 bilhões em destruição numa das áreas mais pobres da Terra. Três civis israelenses foram mortos por foguetes despejados dentro de Israel durante o ataque.
As revelações-chave do relatório incluem que:• Numerosas instâncias de ataques letais israelenses contra civis e objetos civis foram intencionais, incluindo aqueles com o objetivo de espalhar o terror, que as forças israelenses usaram civis palestinos como escudos humanos e que tais táticas não tinham quaisquer objetivos militares justificáveis.• As forças militares israelenses engajaram-se em matanças deliberadas, torturas e outros tratamentos desumanos de civis e causaram deliberadamente extensas destruições de propriedades, sem qualquer necessidade militar, executadas arbitrariamente e ilegalmente.• Israel violou o seu dever de respeitar a população de Gaza a um padrão de vida adequado, incluindo acesso a alimentos, água e habitação adequados.Em 14 de junho deste ano, B'Tselem reportou que “Altas autoridades israelenses” são “criminalmente responsáveis por ordenar conscientemente” ataques aéreos que se “esperava que causassem danos a civis, incluindo crianças, na Faixa de Gaza”.
Ao contrário do mito propagado por Kennedy, por relatórios e investigações, feitos tanto pela ONU quanto por grupos de direitos humanos, domésticos [estadunidenses] e internacionais, cobrindo rotineiramente violações suspeitas ou conhecidas executadas por militantes palestinos quando eles investigavam crimes de guerra.
No mês passado, a especialista da ONU sobre a situação de direitos humanos nos territórios palestinos ocupados desde 1967, a advogada internacional italiana e acadêmica Francesca Albanese apresentou o seu relatório para o Conselho de Direitos Humanos da ONU – que é uma leitura muito sinistra.
A privação da liberdade tem sido um elemento central da ocupação israelense desde o seu início. Entre 1967-2006, Israel encarcerou mais de 800 mil palestinos nos territórios ocupados. Apesar de ter os seus picos durante os levantes palestinos, a encarceração se tornou uma realidade cotidiana. Mais de 100 mil palestinos foram detidos durante a Primeira Intifada (1987-1993), 70 mil durante a Segunda Intifada (2000-2006) e mais de 6.000 durante a 'Intifada da União' (2021). Aproximadamente 7.000 palestinos, incluindo 882 crianças, foram presos em 2022. Atualmente, quase 5.000 palestinos, incluindo 155 crianças, estão presos por Israel, 1.014 deles sem qualquer acusação, nem julgamentos.
Tortura
Entre 2001 e 2019, foram registradas cerca de 1.200 reclamações “alegando violências nos interrogatórios executados pelo Shin Bet [a Agência Israelense de Segurança], segundo o Comitê Público Contra a Tortura em Israel.“Nenhuma acusação foi apresentada”, reporta o comitê. “Isto é mais uma ilustração da completa impunidade sistêmica desfrutada pelos interrogadores do Shin Bet.
Os métodos coercitivos incluem abuso e humilhação sexual, espancamentos, posições corporais estressantes impostas por horas e interrogatórios que duravam até 19 horas, bem como ameaças de violência contra familiares.
“Eles disseram que matariam a minha esposa e as crianças. Eles disseram que cancelariam as permissões da minha mãe e da minha irmã para tratamentos médicos”, disse um dos sobreviventes em 2016. “Eu não conseguia dormir, porque, mesmo quando eu estava na minha cela, eles me acordavam a cada 15 minutos … Eu não conseguia distinguir a diferença entre o dia e a noite … Eu ainda grito no meu sono”, um outro disse em 2017.O Relator Especial da ONU sobre Tortura, Nils Melzer, expressou “a sua máxima preocupação” após uma decisão feita pela Corte Suprema de Israel el 2017 que isentou os agentes de segurança de serem sujeitos a investigações criminais, apesar do seu indiscutível uso de “técninas coercitivas de pressão” contra um detido palestino, Assad Abu Gosh. Ele chamou a decisão de uma “licença para torturar”.
Abu Gosh “supostamente foi sujeito a maus-tratos, incluindo espancamentos, sendo jogado contra paredes, tendo o seu corpo e dedos dobrados e amarrados em dolorosas posições estressantes e privação de sono, bem como ameaças, abusos verbais e humilhações. Exames médicos confirmam que o Sr. Abu Gosh sofre de várias lesões neurológicas resultantes da tortura que ele sofreu”.
Liberdades Civis
Nas eleições de novembro de 2022 em Israel, uma coalizão teocrática de extrema direita, nacionalista e abertamente racista assumiu o poder. Itamar Ben-Gvir, do partido ultra-nacionalista Otzama Yehudit, “Poder Judaico”, é o Ministro de Segurança Nacional. Otzma Yehudit é formado por antigos membros do partido Kach, do rabino Meir Kahane, que foi proibido de candidatar-se à Knesset [parlamento israelense] em 1988 por esposar uma “ideologia similar ao nazismo” que que incluía a defesa da limpeza étnica de todos os cidadãos palestinos de Israel, bem como de todos os palestinos vivendo sob a ocupação militar israelense. A sua nomeação, juntamente com outros ideólogos de extrema direita, incluindo Bezalel Smotrich, o Ministro das Finanças, alija efetivamente as velhas figuras sionistas liberais que costumavam defender Israel – de que ela é a única democracia do Oriente Médio, que busca um acordo pacífico com os palestinos numa solução de dois estados, que não há lugar para o extremismo e o racismo na sociedade israelense e que Israel deve impôr formas draconianas de controle sobre os palestinos para evitar o terrorismo.Reporta-se que a nova coalizão de governo está preparando uma legislação que seria usada para desqualificar quase todos os membros palestinos/árabes da Knesset de servir no parlamento israelense, bem como banir os seus partidos de concorrerem nas eleições. As recentes “reformas” judiciais estripa a independência e a supervisão das cortes de justiça israelenses. O governo também propôs fechar a Kan, a rede pública de radiodifusão, apesar disso ter sido alterada para consertar as suas “falhas”. Smotrich, que se opõe aos direitos LGBTQ e se refere à sí próprio como um “homofóbico fascista”, disse na terça-feira passada que ele congelaria todos os fundos de financiamento para as comunidades palestinas de Israel e de Jerusalém Leste.Israel promulgou uma série de leis para cercear as liberdades públicas, para rotular todas as formas de resistência palestina como terrorismo e classificar os apoiadores dos direitos dos palestinos, mesmo se estes forem judeus, como antisemitas. A emenda de uma das principais leis de aparthei de Israel, a “Lei de Comitês de Vilarejos”, concede a bairros com até 700 domicílios o direito de rejeitar pessoas que queiram se mudar para estes a fim de “preservar o tecido” da comunidade. Israel tem mais de 65 leis que são usadas para discriminar direta ou indiretamente contra cidadãos palestinos de Israel e dos Territórios Ocupados.A lei israelense de Cidadania e Entrada em Israel impede que cidadãos palestinos de Israel se casem com palestinos da Cisjordânia e de Gaza.Os casamentos inter-religiosos também estão proibidos em Israel.Como explica Jacob N. Simon, que serviu como presidente da Sociedade Legal Judaica na faculdade de direito da universidade do estado de Michigan:
A combinação de exigências relacionadas a linhas de sangue para ser considerado como judeu pela Corte Rabínica Ortodoxa e a restrição de casamantos que exigem cerimônias religiosa demonstram a intenção de manter a pureza de raça. Na sua essência, isto não é diferente do desejo de se ter arianos de sangue puro na Alemanha nazista, ou os brancos de sangue puro das regras de Jim Crow [leis discriminatórias] do sul dos EUA.
Aqueles que apoiam estas leis discriminatórias e abraçam o apartheid israelense estão cegos pela ignorância voluntária, pelo racismo ou o cinismo. A sua meta é de desumanizar os palestinos, de defender um chauvinismo judaico intolerante e de engodar os inocentes e os crédulos para justificar o injustificável. Kennedy, desprovido de uma bússola moral e de um sistema de crenças enraizado em fatos verificáveis, não só falhou com os palestinos, ele falhou conosco [os estadunidenses].
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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