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    Joaquim de Carvalho

    Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br

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    Ronnie Lessa recebeu 600 mil reais e comprou imóvel na Barra no ano em que matou Marielle

    Advogados do delegado Rivaldo Barbosa entregaram a Alexandre de Moraes documentos para tentar provar que assassino da vereadora mentiu em delação

    Ronnie Lessa (Foto: Reprodução | Divulgação/PF)

    A defesa do delegado Rivaldo Barbosa apresentou ao ministro Alexandre de Moraes um requerimento para que sejam juntados ao processo sobre o assassinato de Marielle Franco documentos que comprovam a elevação patrimonial do assassino Ronnie Lessa em 2018, ano em que a vereadora foi morta, juntamente com o motorista Anderson Gomes.

    Um dos documentos é a comprovação bancária de que, naquele ano, ele teve créditos em sua conta de quase 600 mil reais. 

    O outro documento consiste na comprovação de que, também em 2018, Ronnie Lessa adquiriu um imóvel de mais de 400 mil reais, na avenida Lúcio Costa, 3.200, casa 57, vizinho à casa de Jair Bolsonaro, no condomínio Vivendas da Barra.

    “Diante do exposto, caracterizada a existência de fato novo, relevante e influente sobre o mérito do presente processo, requer a defesa que os documentos anexos e suas informações sejam considerados no julgamento a ser proferido por essa Colenda 1a. Turma do STF”, destaca a petição protocolada na segunda-feira e que é assinada pelos advogados Marcelo Ferreira de Souza e Felipe Daleprane Freire de Mendonça.

    Esses documentos foram encontrados no relatório de uma investigação da Polícia Civil sobre lavagem de dinheiro no Rio de Janeiro, o Inquérito Policial 901-00434/2019. Nesse inquérito, são indiciados, além de Ronnie Lessa, Dênnis Lessa, irmão do assassino, e Alexandre Motta de Souza.

    Alexandre é o proprietário da imóvel onde a Polícia Civil encontrou 117 componentes de fuzis de uso restrito e acessórios como miras e supressores de ruídos, além de 360 munições e uma arma .22. Tudo isso tinha Ronnie Lessa como real proprietário.

    Já Dennis Lessa foi indiciado por também ocultar patrimônio do irmão. Em 2018, ele transferiu para Ronnie Lessa a casa no condomínio Vivendas da Barra, que havia adquirido em 2015. 

    A escritura foi lavrada no 28o. Ofício de Notas do Rio de Janeiro no dia 27 de novembro de 2018, pelo valor de 432,1 mil reais, inferior aos R$ 850 mil pagos três anos antes. A Polícia encontrou a escritura num dos endereços de Ronnie Lessa, quando fez a operação de busca e apreensão.

    Não fosse essa operação, seria muito mais difícil descobrir essa evidência de evolução patrimonial de Lessa, já que a transação imobiliária não foi averbada no Registro de Imóveis.

    A defesa do delegado Rivaldo Barbosa tem solicitado de Alexandre de Moraes uma série de providências para tentar demonstrar que Lessa mentiu em sua delação premiada. 

    Na semana passada, em resposta a uma dessas providências, a Polícia Federal informou que não encontrou no celular de Rivaldo Barbosa conversas com Marielle Franco. A defesa do delegado, porém, disse que a PF só pesquisou conversas a partir de outubro de 2018, sete meses depois do assassinato da vereadora.

    O próprio Rivaldo, em seu depoimento no STF, disse que tinha um bom relacionamento com Marielle e que, portanto, não tinha interesse em participar de uma trama para matá-la. Os advogados estudam, ainda, se vale a pena recorrer, já que haveria provas mais robustas em favor de seu cliente.

    Uma dessas provas é a evolução patrimonial de Lessa. Outra seria a relação do assassino com o ex-vereador Cristiano Girão, que foi preso depois da CPI das Milícias, que teve o então deputado estadual do Rio de Janeiro Marcelo Freixo como relator, na época assessorado por Marielle Franco.

    A defesa de Rivaldo entende que a Polícia Federal ignorou a linha de investigação que apontaria para Girão como possível mandante. Girão e Lessa são réus no processo sobre a morte do miliciano André Henrique da Silva Souza, o André Zóio, que tinha sido policial. Segundo o processo, Girão contratou Lessa para matar o miliciano rival.

    A evolução patrimonial de Lessa em 2018 é importante porque abre uma dúvida relevante sobre quem, de fato, foram os mandantes do assassinatro de Marielle. Para PF e o Ministério Público Federal, foram o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado Domingos Brazão e seu irmão Chiquinho, ex-deputado federal.

    Lessa disse que os Brazão prometeram a ele vantagem em área que seria ocupada irregularmente. Marielle Franco teria mobilizado movimentos popular para se opor a essa ocupação. 

    A vantagem prometida a Lessa seria o comando de uma milícia nesses locais, por meio da qual lucraria com a venda de proteção e a exploração ilegal de serviços, como transporte e TV a cabo.

    No mundo do crime, entretanto, é difícil acreditar que um matador esperaria para receber no futuro. A lógica e os antecedentes apontam para uma situação muito diferente. Um matador recebe adiantado - pelo menos metade - e não espera por promessa, já que não sabe se estará vivo no dia seguinte ao do crime.

    Veja-se, por exemplo, o que ocorreu com Adriano da Nóbrega, o ex-capitão que morreu numa operação da PM da Bahia.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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