Rubem Fonseca sempre foi um mistério para mim
"Tenho um apreço muito especial pela obra de Rubem Fonseca, falecido, hoje, aos 94 anos. O escritor, no entanto, sempre foi um mistério para mim", conta Leando Fortes, do Jornalistas pela Democracia. "Só muito anos mais tarde fui saber de seu perfil reacionário, apoiador da ditadura militar. Talvez por conta desse passado, e a especulação não é minha, Rubem Fonseca tenha optado em desaparecer do mapa", completa
Por Leandro Fortes, para o Jornalistas pela Democracia
Tenho um apreço muito especial pela obra de Rubem Fonseca, falecido, hoje, aos 94 anos. O escritor, no entanto, sempre foi um mistério para mim.
Eu tinha 15 anos quando botei a mão em um exemplar do "Lúcia McCartney", descoberto, meio ao acaso, numa prateleira de uma biblioteca pública de Copacabana, em 1981. Eu estava estudando no Rio, morando com meu pai, pela primeira vez na vida, e ele me estimulava muito a ler e ir ao cinema - naquele ano, rodei, quase sempre sozinho, todas salas de cinema da zona sul vendo filmes de Hitchcock, Peter Sellers, Mazzaropi, além de ter encarado "E o vento Levou..." e "Gandhi" naquelas sessões com intervalos no então monumental Cine Roxy.
Os contos de Rubem Fonseca, que passei, dali em diante, a devorar com sofreguidão, provocaram um impacto cultural na minha alma de menino, principalmente pela violência não narrada, implícita, capaz de despertar um certo instinto sádico ao mesmo tempo espantoso e desconfortável.
Só muito anos mais tarde, logo após ler o perturbador "Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos", fui saber de seu perfil reacionário, apoiador da ditadura militar, diretor do IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais), organizador da base ideológica para o golpe de 1964.
Desde então, optei em não fuçar nada sobre a vida dele, para não perder a admiração que construí, ainda adolescente, a partir da obra do autor. Mais ou menos o que fiz em relação a Jorge Luiz Borges e Nelson Rodrigues.
Talvez por conta desse passado, e a especulação não é minha, Rubem Fonseca tenha optado em desaparecer do mapa e virar uma espécie de Greta Garbo da literatura brasileira. Ao longo das últimas quatro décadas, praticamente não fez aparições públicas nem deu entrevistas.
Eu, por exemplo, só fui conhecer-lhe o rosto depois do advento da internet.
Por sorte, ainda há livros de Rubem Fonseca que ainda não li.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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