Se Deus tivesse uma voz, seria a de Milton Nascimento
Os grammys passam, mas Milton será eterno!
Engraçado como o americano tem uma soberba sobre si mesmo. Quincy Jones foi o grande homenageado do último Grammy 2025. Um artista maravilhoso, merecedor de todas as reverências, produtor de Michael Jackson e entre outros, que certa vez disse, dentro de sua profunda admiração por Milton Nascimento: “ele é um dos maiores instrumentistas do mundo!”. Bituca e Quincy, além dessa admiração, eram amigos de longa data, tanto que o americano foi creditado em 1987 no álbum “Yauaretê” do brasileiro. Apesar disso, Milton Nascimento, artista celebrado no mundo inteiro, não foi devidamente reconhecido dentro da cerimônia que o indicou. Esperanza Spalding e Milton Nascimento foram indicados à categoria de Melhor Álbum de Jazz Vocal pelo álbum Milton + esperanza, porém, o brasileiro foi barrado a ficar no salão principal, fazendo com que Esperanza fizesse um protesto bonito, porém enfático.
O amor de Esperanza pela música brasileira e pela obra de Milton não é de agora. Ponta de Areia cantado em português por ela, no CD Esperanza, é incrível. Além de grande baixista, respeitada pelo meio do jazz americano, fez uma homenagem muito justa a Milton neste último trabalho, com músicas como "Cais", "Saci" (com Guinga), "Wings for the thought bird" (com Elena Pinderhughes e Orquestra Ouro Preto), "Earth song" (com Dianne Reeves), "Saudade dos aviões da Panair (conversando no bar)” (com Lianne La Havas, Maria Gadú, Tim Bernardes, Lula Galvão), "Um vento passou" (com Paul Simon) e "When you dream" (com Carolina Shorter). Um trabalho lindo, muito bem gravado, merecedor do prêmio.
No seu zelo pelos modos antigos e tentando falar com as novas gerações que celebram a diversidade, valorização dos latinos, erram feio. A justificativa do cerimonial ainda fala sobre isso desta forma: "ficariam nas mesas apenas os artistas que eles queriam no vídeo". Em tempos de redes sociais, onde uma massa revoltada pode mudar o rumo de um contexto, haja visto a polêmica da Karla Sofía Gascón, que foi afastada da campanha do Oscar devido a suas opiniões xenofóbicas, misóginas e preconceituosas, é uma surpresa nenhum pedido de desculpas ao músico brasileiro.
Sabemos que o americano exige os seus costumes, ‘way of life’, que para aceitar o futebol celebrado no mundo todo, teve que aumentar as medidas do gol para entrar no país, afinal o mercado americano têm horror a zero a zero. Sabemos que o time ‘irmãos Wright’ será sempre o inventor do avião, enquanto o mundo é time ‘Santos Dummont’. Sabemos que Milton Nascimento é uma estrela tão grandiosa que está em qualquer lista de maiores timbres de voz que já existiu. Temos que ter a humildade de reconhecer que somos felizes por ter vivido na mesma época que Milton Nascimento e se o Grammy não conseguiu, mesmo tentando mostrar diversidade, colocar ao menos o artista no seu lugar devido, a vida já colocou a lenda no maior posto na história da música. Ele merecia um trono, mas nós só temos gratidão por ele existir.
O que um dia foi um prêmio que celebrava a arte, agora se relega ao domínio do capital. Porque de fato, a cerimônia existe para gerar mais dinheiro ao evento. Uma verdadeira premiação, que se preocupa em formalizar e atestar um grande trabalho só tem sentido para eles se existirem a sua versão nobre, de vestido de gala, com o camafeu que era da avó. E não se fala que a música é democrática, pois o mesmo trabalho é escutado pelo burguês e pelo proletário, amado por gente que às vezes não tem nada de estável ou permanente na vida. Os grammys passam, mas Milton será eterno!
Quem resiste a um Milton Nascimento?
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