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    Teju Franco

    Músico e compositor

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    Será a hora de ir às ruas?

    Com todos os ataques aos direitos e liberdades, ameaças, intimidações, dossiês, listas, avanços e recuos, medidas provisórias absurdas, e talvez por isso mesmo, quem está nas cordas nesse momento são eles

    O (s) príncipe (s) da escória (Foto: Paulo Pinto/ Agência PT)

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    É uma pergunta que os maiores analistas têm dificuldade de responder, poucos têm certeza, muitos têm dúvidas. Eu transitei entre uma opinião e outra esses dias, fui e voltei várias vezes e, depois de queimar muita pestana, cheguei a uma certeza, mesmo que ela seja frustrante por ir de encontro à minha vontade, revolta e vontade de agir.

    Vamos lá, é difícil, mas dá pra olhar de vários ângulos: embora soe estranho afirmar isso: Quem está nas cordas nesse momento é o governo. Com todos os ataques aos direitos e liberdades, ameaças, intimidações, dossiês, listas, avanços e recuos, medidas provisórias absurdas, e talvez por isso mesmo, quem está nas cordas nesse momento são eles. O Governo Bolsonaro vê sua popularidade esfarinhar dia após dia em velocidade inimaginável, está isolado internacionalmente e internamente, tentando comprar apoio no congresso de maneira atabalhoada, as investigações estão chegando às portas dos seus filhos, o inquérito das fake News é uma bomba de efeito eleitoral, a elite financeira, que financiou e o apoiou até agora, dá sinais de ter desistido dele, vide o manifesto “Todos juntos pela democracia”, Jorge Lemann, Neca Setubal, Marinhos, os donos do mercado não tem mais expectativas com o Bolsonaro e sua fábrica de crises sem resultados. Bolsonaro não entregou nada e não vai entregar, as assinaturas dessas pessoas são as provas cabais que a turma da grana desistiu dele, estamos em deflação, não há plano de condução da economia, Paulo Guedes não sabe o que fazer além de falar em vender coisas, isso não movimenta a economia. Eles estão fazendo políticas sanitárias que nos levarão a um aprofundamento da crise econômica, é fato, quanto mais se negligencia frente a essa pandemia, mais se gasta; mesmo torrando todas as reservas do Lula e da Dilma, eles poderão apenas pagar para subreviver, mas não fazem nem farão a roda do mercado girar. 

    Eles estão desesperados, é visível, e tudo o que sabem fazer é gerar crises e mais crises, à espera do caos de uma convulsão social, para frente ao fracasso da própria governança dizerem – basta, assim não dá, acabou porra. 

    Parece absurdo,  mas não é, tem uma estratégia fantástica nisso, a inversão do jogo das culpas: - não sou eu que sou um incompetente que não sabe governar, é você, seu terrorista, comunista, antifascista que não me deixa governar, não sou eu a ditadura, é a ditadura do judiciário e dos governadores. Dessa maneira simplista e genial ele inverte o jogo e ainda produz o argumento para seu único objetivo, sua ditadura miliciana maquiada, é bom ficar muito atento a isso, mirem-se no exemplo da Bolívia, esse golpe não virá dos quartéis, virá das milícias e das policias, hoje quase uma coisa só, e esse tipo de golpe é muito mais perigoso.

    Isso posto, quem está na cordas são eles, e não nós, ao contrário, nós até agora só comemos pipoca e assistimos a sua autodestruição, eles se dividiram em vários subgrupos , guerrilham, desde então, entre si de maneira violenta, todos contra todos, inquéritos para todo mundo, enquanto nós nos limitamos a ser espectadores dessa ópera bufa, e não digo isso em tom de crítica não, tipo: a esquerda não fez nada; não fez mesmo, e não tinha o que fazer, com a pandemia piorou, o que estava devagar ficou parado, um governo eleito, por mais absurdo que seja, não se dissolve do noite para o dia, as coisas tem seu tempo, mas o desgaste do governo ocorre em ritmo acelerado .

    Quem estuda as estratégias do fascismo sabe que a espinha central é gerar a insatisfação e a miséria, criar o caos, concentrar renda,  armar-se fortemente e por a culpa em um inimigo, eles tiram tudo da sociedade mas dão um inimigo para ela odiar e guerrear. Foi isso quem sempre buscaram e não “tá rolando”, colando, até agora. E quanto mais demora, mais aparece a bunda do lado de fora dos ineptos e incompetentes, são um bando de malucos, ideologia pode ser um bom apelo à militância ignorante mas não enche a barriga do mercado e eles, governo, sabem que estão sendo abandonados pelos seus financiadores. Por isso subiram o tom de maneira articulada, até Mourão se apresentou, como disseram - na pele de Mourão.

    Agora, voltemos as luzes para nós, esqueçamos um pouco deles. Desde que o processo golpista iniciou fomos para as ruas dezenas de vezes, algumas delas com grandes adesões, outras nem tanto. Movimentos, sociais, sindicatos, estudantes, professores, conseguimos juntar multidões dentro do nosso campo, isso adiantou alguma coisa, impediu algo, obteve algum resultado?  Não, a resposta é não, absolutamente não mudou nada, não vai ter golpe, teve, mexeu com Lula mexeu comigo, mexeu nada, Ele não, ele sim. Em determinados momentos eu sentia, mas não admitia, que sair com aquelas pessoas gritando palavras de ordens nas ruas e dançando ciranda não convencia nem a nós mesmos. Como falar para a própria bolha, sem poder parar máquinas, sem nenhum tipo de poder de pressão, sem os demais setores da sociedade.

    Fechando, é consenso que um presidente só cai quando amplos setores da sociedade desejam a sua queda, é a turma do Lemann (por isso tem que dar a mão para eles também, sim), é a classe media golpista, é a direita e a centro direita, é a esquerda e a centro esquerda; esquerda só não derruba presidente. A esquerda sozinha só faz apanhar da polícia, como um amigo bem observou hoje, a polícia só para quando vê a burguesia à sua frente, eles morrem de medo da burguesia, na esquerda eles descem o cacete. “Matematicatizando”: se quando conseguíamos reunir multidões dentro do nosso campo não mudamos nada, o que, agora, com essa pandemia e subgrupos bem menores vamos lograr?

    - ah, vamos defender nossos direitos como disse um amigo.

    Que direitos, se eles já nos levaram todos sem dar um tiro, nem jogar uma bomba de gás. O único direito que não sabemos se restou é votar, falar e se manifestar, e este último estão querendo criminalizar em uma inversão de valores bizarra.

    Será que até isso vamos perder por não saber esperar quando agir?

    Companheiros, eles estão se desgastando na velocidade da luz, o cenário à frente deles é tétrico e sem saída, temos que ir para as ruas quando tivermos toda a sociedade com a gente e não apenas para marcar presença com o risco altíssimo de estarmos fornecendo o argumento que tanto esperam para consumar seu plano de tutelar a democracia, aquela que de democracia quase não tem mais nada.

    Muita calma nessa hora companheiro, é perceptível que apesar de louco, o homem não é o estupido que parece, há tempos ele vem aliciando as casernas e principalmente as polícias com benesses generosas, do soldado raso aos generais, dos PMs aos delegados. Esse homem é perigoso e sabe o que faz nessas questões militares, ele nasceu dos porões das corporações em plena ditadura, ele fala a língua dessa gente, sabe negociar com eles, é obvio e assustador o que estamos vendo, ele tem as milícias, os aquartelados e generais, e as polícias sob o comando dele, governadores de todo o país estão se queixando que as policias não estão obedecendo ao seu comando, não é um nem dois. 

    Prestem muita atenção, companheiros, todo os poderes armados do país estão alinhados com esse homem louco, mesmo que todos os demais poderes estivessem contra, e não estão, o que prevaleceria no final, a ordem judicial ou o fuzil?

    Não é hora para heroísmos e poesia revolucionária, é hora de cabeça fria, medir os passos, antecipar-se, saber o momento disso e daquilo. O que adianta nesse tabuleiro pequenos grupos de opositores nas ruas nesse momento é a pergunta que deve ser feita. Isso vai levar a sociedade consigo? – não, não vai. Vai restituir algum direito perdido? – não, não vai.

    A pandemia não consegue nem garantir as multidões que a esquerda levantou em alguns momentos, esses grupos menores são suficientes para emparedar o congresso? – não, não são. Ah, mas temos que começar uma hora, sim, mas é agora?

    A pergunta que fica é: o que vamos lograr indo para as ruas nesse momento?

    O confronto que eles tanto provocaram e esperam ansiosamente para arrombar as portas das instituições e dizer:

    - olha, assim não dá, isso está um caos, vocês não nos deixam governar, precisamos restituir a ordem.

    E aí cabe muito bem ressaltar o trabalho da grande imprensa brasileira, durante anos, satanizando a política, estimulando as rupturas institucionais do poder judiciário e do MP, cooptando juízes e procuradores nessa balburdia em que levaram todas as instituições à descrença, ao ponto do país eleger um Jair Messias Bolsonaro à presidência da república. 

    Lula deve dar a mão a qualquer um para defender a democracia, mas acerta em cheio em não aceitar que eles definam a narrativa, eles que nos levaram a isso, a narrativa pertence aos que de fato lutaram quase sozinhos para tentar defender a democracia e não para os poderosos que de tudo fizeram para frauda-la, isso é absurdo, é só o que faltava: saírem como heróis da tragédia que criaram. Lula dá, e dará a mão a qualquer um, como sempre fez, desde que a voz da democracia venha da boca dos que realmente acreditam e a respeitam.

    Portanto, companheiros, abdiquem das ruas por enquanto, esperem a burguesia se juntar a nós, falta pouco, muito pouco, eles estão se matando entre si, vejam a situação de Bolsonaro e Moro nesse momento: respectivamente extrema direita e direita, ambos na mira da justiça e pegando-se entre si. Vejam os bilionários abandonando o navio, vejam o isolamento internacional do país, a situação de Trump e Bolsonaro, vejam o congresso dividido e mal articulado, vejam a falta de rumo e direção, vejam essa pandemia e o que ela infelizmente devolverá ao governo Bolsonaro, um pouco mais de paciência companheiros, não vamos dar a única carta possível a esses facínoras perigosos e ineptos:

    - o confronto, a guerra pra chamar de sua, defender a pátria dos comunistas e terroristas. 

    Deixem-os se defenderem-se de si mesmos mais um pouco, falta pouco, muito pouco, para a lesada burguesia pular do barco, saibamos perceber esse momento.

    Ele é um louco, mas soube atiçar como ninguém os quartéis e as policias. Vocês viram as cenas em Curitiba?, os PMs estavam irados, pessoas andavam pelas calçadas pacificamente e eles corriam com bastões para espanca-las, eles levaram vários infiltrados profissionais, são homens fortes, treinados que sabem como fazer, não acredito que possam ser isolados de uma multidão e controlados como ouvi aconselharem.

    O que de real essas manifestações limitadas pela pandemia podem lograr agora? Vários companheiros tossindo sob o gás de pimenta espalhando perdigotos farão mais pessoas saírem de suas casas?Não creio, creio que daremos  apenas o que eles querem: o confronto, o argumento para meter o pé na porta. 

    Eles sabem que estão sem saída, que estão sendo abandonados mais e mais por todos os setores que os levaram e os sustentaram até agora no poder.

    Não forneçamos a única saída que eles têm nesse momento. A hora vai chegar e não é agora, sabe a música do Vandré, aquela que precipitou o AI5? Quem sabe faz a hora, não espera acontecer, em 68 eles não souberam, precipitaram as coisas com arroubos de heroísmo revolucionário, Vandré sumiu, não ficou no Brasil para lutar e arcar com as consequências, terceirizou isso, hoje é uma figura ininteligível que canta em clubes militares, lembram-se daquele que era “O que é isso, companheiro?” Esse lutou, se arrependeu, se vendeu, hoje está na horda que ajudou de alguma maneira eleger esse velho inimigo. 

    Mudemos a música então, à luz da história:

    “ Quem sabe espera a hora de fazer acontecer.”

    Teju Franco 05/06/2020

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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