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    José Reinaldo Carvalho

    Jornalista, editor internacional do Brasil 247 e da página Resistência: http://www.resistencia.cc

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    Sérvia: contrarrevolução “colorida” a serviço do imperialismo

    O que está acontecendo na Sérvia é mais um episódio de contrarrevolução colorida instrumentalizada por forças imperialistas ocidentais que têm por alvo a Rússia

    Protesto em Belgrado - 15/03/2025 (Foto: Reuters)

    Por José Reinaldo Carvalho - As manifestações de rua, apoiadas por ONGs financiadas por interesses ocidentais, fazem parte de um roteiro já conhecido em outras "revoluções coloridas": mobilização de setores urbanos, pressão midiática e um discurso de falsa moral sobre liberdade e direitos humanos para explicar a erosão de um governo que não segue os ditames de Washington e Bruxelas. A Sérvia é um ponto geopolítico estratégico, com sua posição nos Bálcãs e sua ligação histórica com a Rússia. Desse modo, o Ocidente busca isolar Belgrado de Moscou e forçar uma orientação em direção ao alinhamento com a OTAN e a União Europeia.

    O que está em jogo na Sérvia é uma tentativa de consolidar a hegemonia do imperialismo ocidental sobre os Balcãs e isolar a Rússia. O conflito na Sérvia não está relacionado com a  luta em defesa de valores democráticos. Do ponto de vista da Sérvia, trata-se do direito de um país decidir seu próprio destino sem interferência externa. É uma batalha entre soberania e subordinação, ao imperialismo ocidental. 

    Após o início do conflito na Ucrânia em 2022, a pressão sobre a Sérvia se intensificou. A Sérvia se opôs à linha do imperialismo ocidental contra a Rússia, manteve contratos estratégicos de abastecimento de gás e energia com empresas russas e continuou a promover uma política de neutralidade militar, recusando-se a entrar na OTAN, postura que irritou profundamente os centros de poder em Washington e Bruxelas, que passou a ver no presidente Vučić um obstáculo às suas pretensões balcânicas. 

    O respaldo histórico e cultural entre a Sérvia e a Rússia também não pode ser ignorado. Ambos os países têm laços religiosos (a fé ortodoxa), uma visão de mundo euroasiática e uma memória comum de resistência contra a hegemonia ocidental. Não faz muito tempo, em 1999, a Sérvia foi bombardeada pela OTAN. O alinhamento estratégico de Belgrado com Moscou não é apenas pragmático, mas reflete uma identidade geopolítica e civilizacional que o Ocidente tenta apagar ou reconfigurar através de pressões de todo o tipo. Nesse contexto,

    Os atuais acontecimentos em Belgrado determinarão o futuro da soberania sérvia e o equilíbrio de poder nos Balcãs. Se Vučić ceder à pressão ocidental, a Sérvia pode se tornar mais uma peça submissa no tabuleiro da OTAN, com sua política externa subordinada aos interesses euro-atlânticos. Se resistir, Belgrado poderá emergir como um pólo de soberania e cooperação multilateral, reforçando os laços com Moscou, Pequim e outras potências do Sul Global. A questão fundamental, portanto, não é “democrática”, mas geopolítica. Trata-se de definir se a Sérvia continuará sendo um Estado soberano ou se será absorvida pela estrutura imperialista. 

    A Sérvia, portanto, enfrenta um dilema estratégico que vai além das simplificações ideológicas impostas pelo discurso ocidental. A narrativa de uma luta entre “democracia” e “autoritarismo” é apenas um instrumento de manipulação política para justificar a ingerência externa e o realinhamento geopolítico imposto. A verdadeira questão em jogo é se Belgrado manterá sua posição sóbria e independente, preservando seus laços históricos com a Rússia e adotando uma política externa independente, ou se cederá à pressão das potências euro-atlânticas, tornando-se mais uma peça subserviente na arquitetura militar e econômica da OTAN e da União Europeia.

    Se Belgrado resistir com firmeza, contornar com habilidade a atual crise, não cair na provocação, poderá consolidar um novo eixo de soberania e cooperação na região, fortalecendo o campo multipolar e desafiando o projeto hegemônico do Ocidente nos Bálcãs.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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