Silas Malafaia, o Profeta do Fogo
'A profecia de Silas Malafaia se realizou', escreve Florestan Fernandes Jr.
Depois da tempestade no sul do país, não veio a bonança. O dito popular não se concretizou e o que vemos hoje é uma seca pior do que a do deserto do Saara. As queimadas estão por todos os lados, são mais de 8 mil focos de incêndio em boa parte do território nacional.
Verdadeiros paraísos ecológicos estão sendo consumidos pelas chamas.
Incêndios, criminosos ou não, avançam sobre o cerrado, o segundo maior bioma do país. Imagens chocantes captadas por satélites revelam o fogo se alastrando por cerca de 500 km de extensão na floresta amazônica. As mudanças climáticas no Brasil estão eliminando biomas e transformando extensas áreas verdes em verdadeiros desertos. Nas últimas quatro décadas, o cerrado perdeu 27% da sua vegetação nativa.
O descaso das autoridades, a ganância do agronegócio e a imbecilidade humana de negacionistas ligados ao fanatismo ideológico de extrema-direita, estão colocando em risco a vida em nosso planeta.
Estamos ultrapassando a passos largos a linha do não retorno.
Quando falo do fanatismo de idiotas, não exagero. Quem se esqueceu do ‘Dia do Fogo’, ocorrido em agosto de 2019, quando fazendeiros, empresários e produtores rurais decidiram organizar uma manifestação criminosa em apoio às políticas de desmonte ambiental do governo Bolsonaro. Investigações da Polícia Federal confirmaram, na época, que esses “empresários” rurais combinaram e realizaram as queimadas em áreas de conservação da floresta amazônica no Pará. Ao todo, foram 1.457 focos de incêndio. Três grupos de extrema-direita foram identificados pela PF.
Alguma dúvida que o mesmo método está sendo utilizado nas queimadas que ocorrem hoje?
Em entrevista ao Boa Noite 247, o ex-ministro do Meio Ambiente Carlos Minc explicou os diversos tipos de queimada que convergem neste mesmo momento. Existem aquelas produzidas por pessoas que colocam fogo no meio da estiagem e do vento, para queimar lixo ou para preparar a terra. Mas segundo Minc, “tem um fogo que é conspiração, que é golpista, bolsonarista. Isso está aliado à impunidade. Daqueles 23 que foram flagrados pela Polícia Federal no Dia do Fogo em 2019, quantos foram presos ou condenados? Nenhum! Então, isso não é Marina e nem Lula. É o judiciário que deu mole pra quem planejou o crime ambiental.”
Essa impunidade acaba incentivando os crimes continuados.
Na campanha de mobilização de bolsonarista no 7 de Setembro passado, o empresário da fé, Silas Malafaia, “conselheiro espiritual” de Jair Bolsonaro, disse em alto e bom som: “No dia sete o Brasil vai pegar fogo! Dias depois, sua profecia se realizou. O fogo estava queimando em vários estados do país, inclusive no estado de São Paulo, onde não é comum incêndio de grandes proporções em áreas de plantio.
No auge das queimadas, o estado governado pelo bolsonarista Tarcísio de Freitas contabilizou mais de 380 focos de incêndio em dezenas de municípios. Imagens de satélite mostraram que o fogo se iniciou em várias regiões do estado no mesmo dia e praticamente no mesmo horário. Imagens feitas em reportagens de televisão e por internautas mostram homens ateando fogo em canaviais, sem qualquer constrangimento, em plena luz do dia. Tudo dentro de um esquema muito bem orquestrado.
Na última quarta-feira (11/9), o fogo começou a consumir parques florestais dentro de grandes cidades como Campinas, Osasco, Barueri e São Paulo. Muito suspeito isso ocorrer no mesmo dia e em regiões diferentes do estado. Na capital paulista, de agosto até a primeira semana de setembro, a Secretaria Municipal de Saúde registrou 1.523 casos de síndrome respiratória aguda grave, piorado pela poluição, e 76 óbitos decorrentes de problemas respiratórios.
A polícia do governo estadual chegou a prender uma dezena de incendiários, que foram soltos sem nada ser esclarecido. Talvez porque no último dia sete, na avenida Paulista, o próprio governador estava no carro de som ao lado de Bolsonaro e do Profeta do Fogo, Silas Malafaia. Pelo jeito, a extrema-direita não se contenta apenas em destruir a praça dos três Poderes, quer também incendiar o país.
Cabe ao governo federal, com a urgência necessária, promover um planejamento junto com estados e municípios para conter as queimadas.
Importante que se tragam a público as investigações da Polícia Federal sobre os “Demônios do Fogo”, assim que estiverem concluídas. O Secretário Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Mário Sarrubbo, disse nesta quinta-feira (12/09) que os responsáveis pelas queimadas devem indenizar a população e restaurar os biomas afetados.
Em meio a esse inferno, eu, que de profeta não tenho nada, digo amém. Que assim seja.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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