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    Fernando Horta

    Fernando Horta é historiador

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    Só Conan pode salvar a Argentina

    Macri vai tentar manter um governo títere deixando para Milei as “pautas de costumes” e, quem sabe, andar de jet-ski em Santa Catarina

    Milei Macri (Foto: Reuters)

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    Passados menos de uma semana da eleição de Javier Milei para presidência da Argentina já é possível ver um desenho de sua política. Acho que “desenho” é um termo muito educado para o que vemos até agora, o melhor termo seria um “borrão”. Depois da catarse inicial, Maurício Macri começou a cobrar a fatura dos quase 6 milhões de votos a mais que Milei teve no segundo turno. Depois de ter três ou quatro “indicações” para ministros negadas pelo infantil Milei, Macri utilizou a conhecida força bruta política: dos 257 deputados, Milei tem apenas 38 e 7 senadores dos 72.

    Dada a famosa “correlação de forças”, Macri emplacou as indicações-chave para Ministro da Economia e para o Banco Central, que – ao que parece – não vai mais ser fechado. Mesmo para um “Estado mínimo” o controle sobre a moeda e as ferramentas de macropolítica são questões que as elites não aceitam abrir mão. A estapafúrdia ideia de que o Banco Central argentino poderia ser fechado e que haveria uma “dolarização” na economia já foram deixadas de lado pelo indicado de Macri Luís Caputo. Caputo foi ministro da economia e presidente do Banco Central da Argentina durante o famigerado governo Macri.

    A música parece ser a mesma que estava tocando no Brasil entre 2018 e 2020. Bolsonaro, eleito, ganhou uma parte do Brasil para brincar com suas indicações. Guedes, Moro e o general Santos Cruz asseguravam a elite que o fascista brasileiro “seria contido”. Na argentina, Macri opera esse papel de fiador de Milei. Milei que se diz “anarco-capitalista” e que – como ficará claro em pouco tempo – é um fascista evidente. Como todo fascista, ele não aceita dividir poder e o reinado de Macri deve perdurar apenas até Milei conseguir criar as mesmas milícias que são características em todos os regimes fascistas.

    Esse período de confiança de que as instituições vão “controlar” o fascismo deveria, inclusive, ser descrito como característica do fascismo e não um mero “erro de interpretação” já que ocorreu de forma idêntica com Hitler, Mussolini, Bolsonaro e etc. Na prática, a Argentina está na mão de um fascista em processo de fortalecimento, sendo tutorado por um neoliberal que já teve a oportunidade de arruinar a Argentina uma vez. Sendo bem-sucedido.

    Os conflitos sobre o poder devem ser acirrar. Macri vai tentar manter um governo títere deixando para Milei as “pautas de costumes” e, quem sabe, andar de jet-ski em Santa Catarina. Os assuntos “sérios” serão levados pelos adultos. Nesse período, Milei vai às ruas e para a internet com ajuda de sua irmã, a “Carluxa” de lá. Enquanto a economia seguir matando argentinos de fome, Milei vai aumentar o poder de sua imagem de “antissistema” e o ódio social se aliará à promessa fascista de partilha dos poderes de Estado. O caminho argentino será como o brasileiro. Se é verdade que não teremos uma pandemia, mais de 140% de inflação ao ano já são condição suficiente para desespero dos mais pobres.

    Entre o neoliberalismo de Macri, acionando um boneco de ventríloquo e o fascismo em crescimento de Milei, os argentinos deveriam pedir ajuda a Conan. O cachorro-conselheiro de Milei, mesmo que morto, parece o ser com mais senso de realidade entre todos os tomadores de decisão que se apresentam no país platino. Se Conan conseguir convencer Milei de que todos precisam comer, ter tempo para passear e pegar sol e um lugar aquecido para dormir, o cachorro-espírito conselheiro já terá feito mais pela população argentina do que os indicados por Macri.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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