“Soledad no Recife” para o cinema
O livro “Soledad no Recife”, que é uma reconstrução ficcional dos últimos dias de vida de Soledad Barrett, receberá uma adaptação para o cinema
Divulgo aqui em primeira mão: o meu romance “Soledad no Recife” vai para o cinema.
A narração franca de um dos crimes mais cruéis da ditadura brasileira cometidos contra Soledad Barrett, e mais cinco bravos executados no Recife, está num projeto em discussão com André Cintra, diretor do longa, editor-adjunto do Portal Vermelho.
O livro “Soledad no Recife”, que é uma reconstrução ficcional dos últimos dias de vida de Soledad, receberá uma adaptação para o filme que denuncia a execução da heroína grávida pela traição do Cabo Anselmo, morta sob torturas por Fleury.
A seguir, um trecho do livro onde a suspeita sobre "Daniel", nome usado pelo Cabo Anselmo no Recife, se agrava.
“- Tenho um problema pra falar contigo.
Problemas não nos faltavam, muitos anos depois continuam com a sua livre dádiva, mas àquela época as árvores do inferno eram mais férteis. Eu me levantei da sala e fiz um sinal para vir a meu quarto. Era um meio de fugir à vigilância cerrada da minha mãe, que, eu sabia, punha-se pelos cantos a nos seguir com seus ouvidos detectores. Entramos no quarto, fechei a porta e liguei o som. Alto.
- Pode falar, externei, em competição com a vitrola.
- Baixe mais, se não eu vou ter que gritar.
- Tem que ser assim. Fale mais perto, aqui.
- É um problema sério. Muito sério, rapaz.
Olhou para os lados por simples tique, porque só nos restavam paredes com uma foto de Lorca. E quase gritou:
- Escute. Houve umas quedas. - E desandou a falar como em jatos de vômito: - Houve três quedas. Todas de pessoas que tiveram ponto comigo. Todas. O que se sabe agora é que todos três estão mortos. Caíram pouco tempo depois do ponto comigo. E agora tem outro, que faltou a um ponto. Eu me encontrei com eles e depois eles sumiram. O que é que acontece? Estão desconfiando de mim. Porra, não pode haver tanta coincidência. Eu me encontro com eles e os camaradas caem. Porra, estão pensando que eu sou policial, entende? Eu, policial, você está me entendendo?!
- E você é?
- Tomar no cu! Vá tomar no cu!!!
- Calma. É só uma pergunta.
- Aqui! Gritou, dedo em riste, como uma faca.
- Preste atenção. Você tem certeza de que fez o ponto e caíram logo depois?
- Claro.
- Mas como se explica? Você deve estar sendo seguido.
- Não pode. Eu tomo todas as precauções. Eu nunca sigo reto. Tomo caminhos sem nexo pra chegar no ponto. Pego ônibus, desço, pego táxi. Entro em uma clínica por uma porta e saio por trás.
- E como se explica?
- Não sei.
- Além de você, quem sabia desses pontos?
- Eu e os camaradas do encontro, claro... Bom, mas só mais uma pessoa. Ele tem que saber, porque ele é quem banca as despesas.
- Quem?
- Daniel.
- Então é ele.
- Não pode. Não pode ser ele. Absurdo!
- Por que não pode? Se não for ele, é você.
- Presta atenção, caralho. Ele é importante.
- Quem? Daniel?
- Sim. Eu sei. Ele já abriu pra mim a importância do trabalho dele.
- É ele.
- Não pode, cara. Não pode. Ele é treinado em Cuba.
- Se não for ele, é você. Escolha”.
Como fala André, “Bora!”. E seguimos em frente.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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