Submissão aos EUA, injustiça com a China, desrespeito ao Brasil
"Pandemia se vence com informação e cooperação, não com ignorância e xenofobia", escreve a ex-presidente Dilma Rousseff em artigo
País mais severamente atingido pelo coronavírus, a China conseguiu superar a fase aguda da epidemia depois de enorme sacrifício de seu povo, com milhares de perdas humanas e grande esforço de seus cientistas e pesquisadores. Agora, passou a oferecer sua experiência e, sobretudo, seus profissionais e equipamentos médicos para outros países que passaram a sofrer com a doença.
A China enviou à Itália, que se tornou o maior foco da epidemia do COVID-19, um avião carregado com especialistas, 17 mil quilos de equipamentos para terapia intensiva, dezenas de milhares de testes e 500 mil máscaras de proteção. Fez o mesmo tipo de doação à Espanha, Holanda, Bélgica e Portugal. A União Europeia recebeu da China 50 toneladas de equipamentos, 2 milhões de máscaras cirúrgicas e 500 mil testes.
“A China não esqueceu” disse a representante da UE, lembrando que países da Europa ofereceram ajuda aos chineses quando eles eram o principal foco da doença. “Cada gota d´água que nos dão, retribuiremos com uma fonte”, respondeu o governo chinês, justificando o apoio agora oferecido.
O nome disso é cooperação e solidariedade. É o que distingue os humanos dos vírus. Os humanos que fazem jus a esta condição sabem que precisam trocar informação e apoio, e que é com cooperação global, não com xenofobia, que se vence o inimigo invisível. A maioria dos governos entende isso, mas alguns têm se mostrado incapazes de perceber a gravidade da situação e optado pelo isolacionismo. Por pura arrogância e cegueira geopolítica, como os Estados Unidos de Trump, ou apenas por subserviência e preconceito, como o Brasil “dos Bolsonaros” e de um chanceler sem noção alguma de diplomacia.
Trump só pensa em si mesmo, na sua reeleição e nos seus possíveis eleitores, e por isto afastou os EUA de qualquer cooperação global. Culpa a China para encobrir sua incompetência diante da crise do coronavírus nos EUA, país mais rico do mundo e sem sistema público de saúde. Os Bolsonaros fazem o mesmo, por seu alinhamento geopolítico automático ao presidente americano, a ponto de insultar o povo e o governo chineses, reproduzindo a teoria sem base científica alguma que levou Trump a chamar o coronavírus de “vírus chinês”. Cientistas de todo o mundo afirmam que o coronavírus tem origem numa zoonose. A família Bolsonaro não se importa se é uma fake news o vírus ter sido fabricado em laboratório, como Trump inventou, Só um terraplanista vulgar e xenofóbico para acreditar nesta mentira. Tanto quanto não se importam que, agredindo os chineses, os Bolsonaros estejam ofendendo um povo amigo, um governo parceiro e o nosso grande aliado comercial.
O filho do presidente insulta os chineses, cria uma crise diplomática grave e Bolsonaro, em vez de acalmar os ânimos, repete a fake news, como fez na saída do Palácio do Alvorada: “A gente ouve falar há dois meses que o virus nasceu na China”. Não nasceu, e o presidente sabe que está mentindo. O anticomunismo de Bolsonaro, macaqueado do anticomunismo de Trump, faz com que o Brasil culpe pela epidemia a sua maior vítima e o país que soube superar a crise e oferecer ajuda humanitária ao mundo.
O discurso de ódio dos Bolsonaros instigou seus seguidores desmiolados a fincarem placas na frente da embaixada chinesa com ofensas de baixo calão ao país. O que se deve esperar é que o governo chinês entenda que são atitudes isoladas de um governo em estado de quarentena cognitiva. Felizmente, os governadores do #ConsórcioNordeste tomaram a iniciativa de reafirmar a admiração dos brasileiros pelos chineses e pedir ajuda daquele país aos seus estados para enfrentar a epidemia. Que se imponha a urgência do combate ao coronavirus, a anos luz de ser apenas uma “gripezinha”, que os demais poderes exijam seriedade, transparência e eficácia nessa ação de controle e impeçam a inércia desse ignorante e perigoso governo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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