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    Mario Vitor Santos

    Mario Vitor Santos é jornalista. É colunista do 247 e apresentador da TV 247. Foi ombudsman da Folha e do portal iG, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasilia da Folha.

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    Suspeita no bolsonarismo: o coma político de Jair nem se consumou, mas Tarcísio já está desligando os aparelhos

    "Apesar dos gestos públicos de Bolsonaro, Tarcísio é visto como oportunista: ambicioso que antecipa o fim e já calcula como herdar tudo", diz Mario Vitor

    Tarcisio de Freitas e a martelada na B3 (Foto: Reprodução/Uol)

    Cresce no bolsonarismo mais fiel, em declarações dadas nas manifestações, a avaliação de que o governador Tarcísio de Freitas se revela como indigno de crédito como herdeiro político de Bolsonaro.

    O setor mais orgânico não sente sinceridade e compromisso desinteressado com a causa. Em palavras e atos, o governador paulista é visto como um pretendente de Penélope no Palácio de Ítaca, aproveitando-se das agruras de Ulisses para tomar sua esposa e de seu reino.

    Apesar dos esforços públicos do próprio Bolsonaro, Tarcísio é visto como um oportunista, aquela pessoa ambiciosa que, diante de um parente em coma, ainda antes do desfecho, já está dizendo aos médicos que desliguem os aparelhos enquanto faz as contas para pegar tudo para si.

    Agora foi o próprio marqueteiro de Tarcísio, Pablo Nobel, quem veio a público para lançar o nome do governador como candidato a presidente. Veja bem: o estrategista político do governador o está lançando para presidente.

    Obviamente, essas coisas são precedidas de profissão de fé inabalável na candidatura de Jair Bolsonaro, inelegível.

    E aí a trama engrossa. O estrategista (ou o governador?) já tem até calendário e chapa!

    Em setembro deste ano, diz Nobel, Bolsonaro vai preso. Tarcisio então espera (ou faz o "luto" (até 31 de março de 2026, afirma Nobel. Espera o quê? Espera para lançar a candidatura de Tarcísio, que na verdade ele, Nobel-Tarcisio está lançando agora, de forma pública, em extensa e detalhada, portanto planejada, entrevista ao jornal carioca O Globo.

    Mais ainda, o Nobel do marketing político já tem até a chapa, com seu chefe Tarcísio na cabeça e Michele Bolsonaro (a própria "Penélope") na vice e mais Guilherme Derrite para governador de São Paulo.

    O que falta então para a própria cria política de Bolsonaro transformá-lo num morto em vida? Se isso não é suficiente para indignar a quem arriscou a pele diante dos quartéis, o que será? Para o toque final, revelador do que está a vista de todos, Nobel diz que Tarcísio "tem diálogo com Alexandre de Moraes" (a própria nêmese de Bolsonaro) para logo enfeixar a traição com um lema digno de uma lápide: "Isso é habilidade política".

    Ou seja, no comício Tarcísio espanca o Supremo. Nos bastidores, tem trânsito com o inimigo. Não espanta que o bolsonarismo desanime diante da provável condenação de seu líder. Mais difícil será vencer a apatia num quadro em que a perspectiva de um golpe, da tomada do poder, seja substituída por mais uma campanha presidencial, agora sob o signo da suspeita aos olhos do bolsonarismo mais fiel.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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