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Omar Ocampo

Pesquisador do Programa sobre Desigualdade e o Bem Comum e está no Institute for Policy Studies desde 2020. Seu trabalho foca em desigualdade de renda e riqueza, acessibilidade habitacional e aviação privada. Seus outros interesses de pesquisa incluem democracia econômica e política colombiana. Antes de ingressar no IPS, Ocampo trabalhou no setor sem fins lucrativos em serviços humanos e sociais. Ocampo possui mestrado em relações internacionais pela American University no Cairo. Sua tese abordou a política do petróleo internacional e a intervenção militar na Líbia. Atualmente, reside em Miami.

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Tarifas do 'Dia da Libertação' concentrarão ainda mais a riqueza

As tarifas implementadas hoje e os cortes de impostos que virão não cumprirão as promessas de Trump

O presidente dos EUA, Donald Trump, faz comentários sobre tarifas no Rose Garden na Casa Branca em Washington, D.C., EUA, 2 de abril de 2025 (Foto: REUTERS/Carlos Barria)

Publicado originalmente no Inequality.org em 3 de abril de 2025

As políticas comerciais de Trump têm sido extremamente imprevisíveis nos primeiros dois meses de seu segundo mandato presidencial. Prazos para implementação de tarifas surgiram e foram adiados sem nenhuma lógica aparente, deixando o comércio internacional em suspenso.

Essa volatilidade foi um pesadelo para os investidores do 1% mais rico, mas eles agora têm um pouco mais de clareza graças à inauguração do chamado “Dia da Libertação” de Trump — um pacote abrangente de tarifas retaliatórias impostas a todos os produtos importados de parceiros comerciais que supostamente prejudicam as exportações dos EUA por meio de seus próprios regimes regulatórios.

Porém, essa classe de indivíduos de alto patrimônio líquido não tem motivos para ficar nervosa ou ansiosa. Eles estão prestes a obter ganhos financeiros de longo prazo porque têm recursos para se adaptar adequadamente e tomar decisões que expandem o seu capital, sem mencionar os benefícios econômicos que receberão do corte de impostos atualmente em discussão na pauta republicana.

O mesmo não pode ser dito sobre a classe trabalhadora. A aplicação indiscriminada de impostos sobre todos os bens importados é um ataque flagrante aos seus padrões de vida.

E isso acontece porque a guerra comercial de Trump é uma guerra de classes, projetada não para revitalizar a manufatura estadunidense, mas para enfraquecer a tributação progressiva.

O governo Trump argumentou que a implementação de tarifas é crucial para inaugurar uma nova era de prosperidade nos EUA. O governo dos EUA espera que o seu regime tarifário gere um enorme aumento na receita fiscal, disponibilizando trilhões de dólares para o governo federal nos próximos anos. O dinheiro arrecadado poderá então ser usado para reduzir o déficit e pagar a nossa dívida nacional sempre crescente.

Os cofres do governo ficarão tão cheios de receita — segundo esse argumento — que o IRS (Receita Federal) poderá ser abolido e substituído por uma nova agência, o Serviço de Receita Externa. Os impostos de renda federais gradualmente se tornarão obsoletos e serão jogados no lixo da história, para nunca mais serem ressuscitados.

Especialistas e observadores já refutaram muitos dos argumentos centrais apresentados por Trump e seus aliados. A aplicação não-estratégica de tarifas não tornará a manufatura estadunidense grande novamente, e a matemática não sustenta as estimativas de receita fantásticas do governo federal.

Para impulsionar a manufatura doméstica, as tarifas precisam ser implementadas e direcionadas a indústrias com demanda relativamente baixa, mas em crescimento. Tecnologias renováveis e veículos elétricos são dois exemplos clássicos. Caso contrário, as tarifas sobre bens altamente competitivos inflacionarão preços e colocarão corporações estadunidenses em desvantagem contra concorrentes estrangeiros.

Além disso, esses impostos de importação não serão pagos por empresas ou países estrangeiros. As tarifas serão pagas por cidadãos e residentes dos EUA, e tornarão uma série de bens de consumo importados mais caros, pressionando ainda mais o orçamento das famílias da classe trabalhadora. Uma estimativa indica que o “Dia da Libertação” reduzirá a renda disponível da família média em pelo menos US$

1.600 e ateˊUS$ 2.000. Em resumo, não enriquecerá os nossos cidadãos.

Preços mais altos podem aumentar os lucros corporativos se os níveis de consumo permanecerem constantes, mas não há garantia de que essa receita extra será investida na expansão da capacidade produtiva do país. Os lucros corporativos dispararam nos últimos 50 anos, e esses ganhos não foram investidos na manufatura doméstica, mas sim distribuídos para sustentar remunerações excessivas de executivos, pagamentos de dividendos a acionistas e recompras recordes de ações.

As tarifas, na verdade, exacerbam o problema já existente da desigualdade extrema. Quando a fatia econômica dos ricos aumenta, eles usarão esses novos recursos para extrair mais riqueza da classe trabalhadora por meio da aquisição de ativos críticos, como habitação residencial e infraestrutura essencial — como usinas de energia —, muitas vezes por meio de private equity e gestoras de ativos.

Essas gestoras de investimento raramente melhoram a qualidade dos serviços prestados, mas aumentam os preços para garantir maior rentabilidade a seus clientes ricos.

A única maneira de reverter a deterioração dos nossos padrões de vida e a concentração extrema de riqueza é taxando os ricos e aumentando a disponibilidade e o acesso a bens públicos.

As tarifas implementadas hoje e os cortes de impostos que virão não cumprirão as promessas de Trump de equilibrar o orçamento, impulsionar investimentos na manufatura, aumentar receitas ou criar empregos com salários dignos. Isso não ajuda nem beneficia a classe trabalhadora, mas transferirá ainda mais da sua riqueza e renda arduamente conquistada para o topo.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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