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André Del Negri

Constitucionalista, professor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).

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‘Tempos bolsonaros’

Drummond se enganou, a luta mais vã não é com as palavras. A energia mais desperdiçada é contra o segredo de Estado

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Há tempos que governantes usam o segredo (que vem do latim “secretu”, “separado”, “escondido”, “ocultado”) para docilizar massas. É que decisões a portas fechadas criam zonas de silêncio que distanciam atos decisórios da crítica geral, até o assunto cair no esquecimento coletivo.

Passo ao Brasil. Aqui, de entrada, já cabe dizer que o arranjo daquela macabra reunião de abril de 2020, a famosa “reunião da boiada”, que escancarou as posições antirrepublicanas do presidente da República e seu conselho de asseclas, o governo resolveu decretar sigilo de 15 anos sobre o vídeo da convenção ministerial (aqui). 

Não custa aproveitar a ocasião para aumentar o exemplário sobre o secretismo. O Exército decidiu impor sigilo de 100 anos ao processo administrativo contra o general Eduardo Pazuello (ex-ministro da Saúde), que subiu num palanque onde o presidente da República discursava em ritual eleitoral, sendo que militar da ativa é proibido de expressar opinião política (leia aqui).

Quando nada pior parecia possível, a barbárie aumentou. O presidente Bolsonaro, em transmissão ao vivo pela internet (17.jun), disse que vacinas contra Covid são experimentais e não trazem eficácia; imunidade mesmo só para quem já contraiu o vírus. O pior vem depois. Disse que a contaminação é “até mais eficaz” (aqui). E olhem que ele disse isso num contexto em que o país chegava à marca de meio milhão de mortos e apenas 12% de imunizados.  

Na pior crise sanitária da história brasileira, com o chefe do Executivo a bombardear a confiança na vacina, o governo entendeu que o cartão de vacinação do presidente Bolsonaro deverá ficar em sigilo por 100 anos (clique aqui para ler). Por quê?

Enfim, enfrentar o panorama, hoje, é, sobretudo, suportar a falta de garantias. Eis porque é preciso refletir no contrafluxo. A propósito, quantos foram os eleitores de Bolsonaro? Consultando aqui e ali, dou aquele toque de leve: foram 49 milhões de votantes. E há os omissos. Esses contam também. E são muitos. Algo em torno de 42 milhões que anularam ou abstiveram do voto nas eleições de 2018. Todos esses números participaram desse projeto de morte. E essa página da história não pode ser esquecida. 

Não é impróprio desejar que quem ficou neutro e os que elegeram o pior presidente da República desde a redemocratização, e cooperaram indiretamente para o escolhido encher a Esplanada de assessores e ministros negacionistas, que essa massa, em 2022, ou agora, já, saia da mediocridade imaculada. A chance é única!

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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