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    Daniel Quoist

    Daniel Quoist, 55, é mestre em jornalismo e ativista dos direitos humanos

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    Terraplanismo? O único debate do Governo Bolsonaro

    Considero muito incipiente - e espalhafatoso - o presente debate sobre ‘terraplanismo’, de forma que o encaro como clássico “ladrão de tempo”, aquele que desvia nossa atenção do que realmente importa

    Pois é, a pseudo polêmica da “terra plana” vem se somar às várias conspiratas:
    — dos Iluminatti;
    — dos ETs de Roswell;
    — dos “moais” gigantes da Ilha de Páscoa, afirmam que estes teriam sido ali colocados por “deuses astronautas”;
    — dos misteriosos desaparecimentos de navios e aeronaves no chamado triângulo das Bermudas;
    — dos que não acreditam que o homem, há 50 anos (9/7/1969), teria chegado à lua e, menos ainda, nela pisado, e tudo não passando de mais um esforço de propaganda dos EUA, em plena guerra fria, para se sobressair em relação aos avanços verificados pela conquista do espaço por parte da então existente URRS;
    — de que Anastasia, a caçula do Czar Nicolau Romanov, estaria ainda viva;
    — de que João Paulo I fora envenenado por cardeais por se mostrar disposto a excomungar clérigos pedófilos da Igreja Católica; além de centenas de outras.

    Considero muito incipiente - e espalhafatoso - o presente debate sobre ‘terraplanismo’, de forma que o encaro como clássico “ladrão de tempo”, aquele que desvia nossa atenção do que realmente importa.

    E no estágio e condições em que se dá, tendo como mais fulgurante estrela o onipresente Olavo de Carvalho, autoproclamado filósofo por correspondência e considerado o Rasputin dos Bolsonaro, o terraplanismo nada mais se afigura que polêmica FAKE, estéril e contraproducente, uma vez que, caso remotamente viesse a ser comprovada tal teoria (?), absolutamente em nada alteraria o desenrolar dos acontecimentos e, menos ainda, a ordem natural dos planetas, por assim dizer.

    Portanto, o assunto não passa de diversionismo mal-ajambrado (cientificamente aloprado), algo que toma de assalto e reverbera em redes sociais de leigos donos de mentes desocupadas, servindo tão somente para catapultar aos holofotes (nem que seja pelo patético da coisa em si) alguns de seus defensores (Olavo de Carvalho, Bolsonaros Kids, Ernesto Aráujo e seus colegas da trupe de ministros de Estado) e, no fundo mesmo, tem o (de)mérito apenas de nos desviar do que realmente importa, do que está a exigir a atenção mundial para temas como:
    — Buscar soluções duradouras para os graves problemas, desafios e dilemas que pra fazem face à humanidade
    — Maneiras e planos visando saciar a fome de 1/3 da raça humana;
    — Criação e fortalecimento de sistema multilateral de instituições internacionais que estejam aptas a garantir uma paz mundial firme e duradoura para 7,5 bilhões de seres humanos;
    — Destinação de investimentos financeiros, humanos e materiais de grande monta — e no contexto de uma concertação internacional — para a descoberta e criação de medicamentos e tratamentos eficazes para debelar a ocorrência de multiplicidade de cânceres;
    — Adoção de programas mundiais que impeçam a crescente desertificação de expressivas extensões de terras planeta afora;
    — Programas e técnicas de  dessalinizacao da água do mar, de modo a saciar a sede de muitos países que vivenciam o flagelo que é a escassez de água potável, e também solucione graves problemas para a produção de alimentos em escala planetária.

    E são temas candentes a par com muitos outros, como os relacionados ao terrorismo, às guerras biológicas, à segurança pública.
    A propósito, no tocante à da dessalinização, desde os anis 1970, Israel conseguiu alguns progressos, mas nada ainda digno de nota, em larga escala e que possa superar a dicotomia custos/benefícios.

    Claro que, no caso de se constatar que alguns dos laureados com o Nobel de Física, por exemplo, e também, ao menos uma dúzia de cientistas de renome e com produção científica de valor inquestionável virem a avalizar, defender com evidências — e estudos científicos de peso — a presente querela do “terraplanismo”, por ser desde sempre avesso a dogmatismos, serei eu um dos que alegremente retrocederão, deixando assim de crer no corrente sistema heliocêntrico e aderindo ao antigo sistema geocêntrico, colocando na lata de lixo da História personagens como Galileu Galileu, Copérnico, Isaac Newton, Albert Einstein, Carl Sagan, Stephen Hawking... e centenas de outros luminares da Ciência.

    Vídeos pululam na Web a tratar de terraplanismo  como algo sério. Mas estes, a meu ver, pecam pela falta de profundidade, e ausência de um mínimo verniz academicista, chegando algumas vezes a parecer ma sit-com (comédia de costumes de natureza científica), pois ao menos dois dos principais vídeos, com maior número de views no YouTube, nem se esforçam por dissimular  o tom de pilhéria: em um deles, por exemplo, ouvimos um sujeito que, logo de inicio, declara que “as imagens da Terra são fruto de fotos photoshopadas”...

    Isso mostra à larga que mesmo para se argumentar em favor da teoria (?) da ‘terra plana’ se poderia ser mais sutil, inteligente, e argumentando de forma minimamente convincente, consistente.

    No meio de tudo isso, concordo com um sábio amigo meu: o que me aguçaria a curiosidade mesmo seria descobrir o que há de verdade por trás dos moais na Ilha de Páscoa. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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