Todo dia é dia (ou deveria ser!)
Jamais saberei o que é ser discriminado por conta da minha cor da pele. Mas como socialista, seguindo os ensinamentos e os passos de nossos irmãos internacionalistas de Cuba, por exemplo, solidarizo-me e faço ecoar essa voz por justiça e igualdade. Somo minha voz à de vocês. Lutaremos nas mesmas trincheiras!
Não vou escrever sobre o “Dia da Consciência Negra” justamente no dia 20, data em que ela é celebrada. Faço isso justamente para lembrar que essa consciência não deve ser feita apenas em um único dia, lotando as redes sociais de hashtags. É algo que deve ser refletido e colocado em nosso cotidiano racista!
Nós devemos agradecer aos nossos irmãos e irmãs negras pelo que somos e temos hoje. São eles os verdadeiros donos dessa terra, juntamente com índios e demais povos tradicionais. Cabe a nós lembrarmos e respeitarmos isso diariamente.
Mas por que não lembramos? Porque é preciso conhecimento e informação dessa cultura. Como disse a historiadora Beatriz Nascimento, estudar o povo negro não começa pela escravidão – que é uma instituição branca! –, mas entender a história negra deve começar pelos quilombos!
O ataque à cultura negra no Brasil começou logo após a tal “Abolição/Leia Áurea” de 1888. No dia seguinte ao decreto, Rui Barbosa – figura importante dentro do abolicionismo – ordenou que toda documentação sobre o tráfico e à escravidão no Brasil fossem queimadas (livros de matrícula, de controle aduaneiro e de recolhimento de tributos que envolvessem pessoas escravizada), evitando oneração ao governo, pressionado pelos escravocratas para serem indenizados. No entanto, junto ao feito, nossa história foi minada com essas cinzas. Sendo assim, é preciso dar voz ao conhecimento coletivo dos quilombos.
A cultura quilombola, raiz da história dos negros, ainda é cerceada de divulgação, e cercada de desinformação por parte da mídia oligárquica e racista, atendendo aos interesses dos grandes latifúndios/burguesia e das corporações por trás delas. E isso reflete no “branqueamento” da sociedade, incluindo crimes e assassinatos motivados pelo racismo estrutural que, infelizmente, não é uma exceção, mas tornaram-se regra cotidiana.
Quantos ouvem/leem notícias sobre a dificuldade que comunidades quilombolas legítimas estão enfrentando para conseguir sua inscrição no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (SiCAR)? Segundo o Instituto Socioambiental (ISA), tal cadastro obriga essas comunidades a se adequarem a um instrumento que foi elaborado com base na lógica de imóveis privados e sem levar em conta os aspectos tradicionais e coletivos do uso da terra e manejo da biodiversidade. No entanto, sem o mesmo, não conseguem acesso a políticas públicas, como programas de aquisição de alimentos e obtenção de crédito rural junto a instituições financeiras. Mais grave ainda é que latifúndios estão facilmente conseguindo a inscrição, sobrepondo áreas quilombolas e indígenas, legalizando a grilagem – com aval do Estado.
Posso até ser mal interpretado por alguns, que alegariam que “não é seu lugar de fala”. Afinal, um sujeito branco (dentro de uma leitura social) não sabe o que é ser negro – ainda mais nesse BraZil. Realmente não sei. E talvez ainda esteja em meu processo final de desconstrução. Não passei o que passam até hoje. Jamais saberei o que é entrar em um estabelecimento e ser vigiado por seguranças com desconfiança. Jamais saberei o que é ser parado em uma blitz da truculenta e racista PM. Jamais saberei o que é ser discriminado por conta da minha cor da pele. Mas como socialista, seguindo os ensinamentos e os passos de nossos irmãos internacionalistas de Cuba, por exemplo, solidarizo-me e faço ecoar essa voz por justiça e igualdade. Somo minha voz à de vocês. Lutaremos nas mesmas trincheiras!
Vidas quilombolas importam!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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