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      Heraldo Campos

      Graduado em geologia (1976) pelo Instituto de Geociências e Ciências Exatas (UNESP), mestre em Geologia Geral e de Aplicação (1987) e doutor em Ciências (1993) pela USP. Pós-doutor (2000) pela Universidad Politécnica de Cataluña - UPC e pós-doutorado (2010) pela Escola de Engenharia de São Carlos (USP)

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      Tomara que desça água

      Tomara que não desça água em demasia, para prejudicar mais gente em áreas de risco de deslizamentos de terra e de inundação

      Casarão do Porto em Ubatuba, Litoral Norte do Estado de São Paulo (Foto: Heraldo Campos)

      Tinha um amigo, nos anos 80 do século passado, em Ubatuba, mais conhecida popularmente como Ubachuva, que era dono e administrava uma pensão, bem simplona, na mesma calçada do Casarão do Porto, patrimônio histórico da cidade. Esse amigo, na época das intensas chuvas na cidade e região vivia dizendo, nos botecos da vida: tomara que desça água!

      O pessoal que frequentava o mesmo espaço e balcão dos botecos, como este que relata essa pregação chuvosa do amigo, ficava meio indignado e sem entender direito como um dono de pensão poderia desejar esse tipo de coisa, que afugentava turistas de ocasião e de fregueses da sua modesta pensão.

      Lembramos que naquela época, Ubachuva e sua vizinha Caraguatalama, mereciam esses codinomes. Hoje, com as mudanças climáticas rolando, Ubachuva está sendo chamada como Ubasol, porque aquele aguaceiro todo, de mais de 40 anos atrás, “já Elvis”.

      Tirando essa parte engraçada e bem humorada da fala do amigo, quando baixava aquela baita quantidade de água de chuva, todos sabemos dos transtornos, com perdas humanas, materiais, que causam as chuvas intensas Brasil afora, por causa dos deslizamentos de terra e de inundações em áreas densamente povoadas pela população de baixa renda, que não estão estão devidamente preparadas, lamentavelmente, para a convivência com esse tipo de problema e que se espalha por várias partes do Planeta.

      Como referência, pode-se dizer que no Estado de São Paulo existe pessoal técnico preparado e treinado para atuar em situações de prevenção e de emergência nesses casos, para orientar e auxiliar a população. Mas, e as prefeituras municipais, também estão preparadas, com corpo técnico adequado, para essas situações? A impressão que se tem é que não, porque a maioria delas não dispõe de pessoal qualificado para atuar nesse período de crise climática e que muitas vezes acabam caindo no colo das defesas civis locais, quase sempre militarizadas e desprovidas de conhecimento científico nessa área de atuação.

      Tomara que não desça água em demasia, para prejudicar mais gente em áreas de risco de deslizamentos de terra e de inundação, apesar que precisamos de umidade no ar que respiramos para nossa saúde pessoal. E, para finalizar, fiquei sabendo nesses dias que o amigo citado foi dar uma passeada nas nuvens, onde se formam as águas das nossas vidas. Como disse o poeta e dramaturgo português Fernando Pessoa “Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol. Ambos existem; cada um como é.”

      *Heraldo Campos é geólogo (Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP, 1976), mestre em Geologia Geral e de Aplicação e doutor em Ciências (Instituto de Geociências da USP, 1987 e 1993) e pós-doutor em hidrogeologia (Universidad Politécnica de Cataluña e Escola de Engenharia de São Carlos da USP, 2000 e 2010).

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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