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    Moacyr Oliveira Filho

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    Traições marcaram a eleição da Mesa da Câmara dos Deputados

    Balcão de negócios com o Centrão e traições e rompimentos de acordos, incentivadas e comandadas pelo socialista Júlio Delgado foram decisivos para a eleição de Arthur Lira como Presidente da Câmara

    Por Moacyr Oliveira Filho

    Além do intenso e guloso balcão de negócios, a eleição da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados foi marcada por traições que minaram a unidade dos partidos de oposição e garantiram a eleição de uma Mesa Diretoria totalmente alinhada com o novo presidente, o bolsonarista Arthur Lira (PP/AL).

    A traição original foi a questão de ordem que provocou a anulação do Bloco PT, MDB, PSDB, PSB, PDT, Solidariedade, PCdoB, Cidadania, PV e Rede, que tinha Baleia Rossi (MDB/SP) como candidato, levantada pelo deputado Júlio Delgado (PSB/MG), apoiador de Lira, apesar da decisão do diretório nacional do seu partido ter decidido por 80 votos a zero não votar em qualquer candidato que tivesse apoio do presidente Jair Bolsonaro. Delgado também não escondeu sua insatisfação quando o PSB cedeu a 4ª secretaria, que cabia aos partidos PSB e Rede, pelo Bloco, à deputada Joênia Wapichana (Rede/RR).

    Pela composição dos cargos na Mesa, respeitados os blocos que disputaram a eleição do Presidente, os partidos de  oposição ficariam com 4 vagas na Mesa, os bolsonaristas com 5 e o DEM, que não integrava nenhum Bloco, com 1. Com a anulação do bloco de oposição, provocada pela questão de ordem de Delgado, seus partidos ficariam, em tese, com 3 vagas, mas os candidatos apoiados pelos bolsonaristas acabaram levando todas, depois de terem forçado rompimento dos acordos internos do Bloco e dos partidos. 

    Joênia Wapichana, da Rede, a 1ª mulher indígena na Câmara ficou sem a vaga, por conta do rompimento dos acordos, comandado por Delgado. 

    Delgado levantou, preliminarmente, uma outra questão de ordem que pretendia anular a indicação do seu próprio líder à vaga do Bloco de Oposição, para que fosse ocupada por ele mesmo, que lançou  candidatura avulsa. Indeferida pela Mesa, Delgado recorreu ao Plenário, mas também não teve apoio de 1/3 dos deputados. Trouxe então a questão de ordem para anular o Bloco que pretendia eleger Baleia Rossi, também indeferida por Rodrigo Maia (DEM/RJ), que ratificou a decisão do colegiado de líderes.

    A insatisfação de Delgado contou com dedicação pessoal do presidente eleito Arthur Lira que fez ligações para mobilizar socialistas simpáticos ao Centrão e resultou, em 02 de fevereiro, na destituição do líder Alessandro Molon (PSB/RJ) e na condução de Danilo Cabral (PSB/PE) à liderança do PSB na Câmara – um dia antes do fim do mandato na liderança. Molon, no dia anterior, repudiara o ato de Lira que dissolveu o Bloco de Oposição, e anunciara recurso dos partidos ao Supremo Tribunal Federal. Mesmo destituído, Molon negociara com o líder do Bloco político dissolvido – mas ainda considerado por Lira para a representação na Mesa – a indicação de Isnaldo Bulhões (MDB/AL), para a 3ª Secretaria da Mesa. Cabral, por sua vez, ganhou a liderança dos colegas simpáticos ao Centrão, recusou-se a integrar o Bloco, entregou, assim, a 3ª Secretaria para o PSDB e coube ao PSB, na 4ª suplência da Mesa, alguém simpático à Lira e ao bolsonarismo: o paraense Cássio Andrade (PSB/PA), que batera ponto no gabinete do General Ramos, no Palácio do Planalto, dias antes da eleição. 

    Socialistas contam até 12 votos ao candidato de Jair Bolsonaro, a despeito da decisão do Diretório Nacional. Protegido pelo segredo do voto, o número dificilmente será sabido.

    Na reconfiguração de forças e com o adiamento da eleição a partir da dissolução, por Lira, do Bloco que apoiava Baleia Rossi, com claro objetivo de tentar enfraquecer a oposição, conforme determinação do Palácio do Planalto, a petista Marília Arraes (PT/PE) também lançou candidatura avulsa para a 2ª secretaria, rompendo, também, o acordo entre os integrantes do Bloco de que haveriam apenas as indicações coletivas – e foi eleita com o apoio de bolsonaristas. Marília teve 172 votos no 1º turno e 192 no 2ª, contra os mesmos 166 do candidato oficial do PT à vaga, João Daniel (PT/SE). O deputado sergipano é agricultor, iniciou sua militância política e já foi coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no Nordeste. A presidente do PT, Gleisi Hoffman (PT/PR) afirmou que “a atitude da deputada Marília rompe procedimento estatutário do PT e isso terá de ser analisado nas instâncias partidárias”. 

    Balcão de negócios com o Centrão e traições e rompimentos de acordos, incentivadas e comandadas pelo socialista Júlio Delgado foram decisivos para a eleição de Arthur Lira como Presidente da Câmara e, mais do que isso, de uma Mesa Diretora totalmente alinhada a ele.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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