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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    Três teses contagiosas de Dudu e Ubaldo, os alarmistas

    Jornalista Moisés Mendes critica a reprodução de declarações "furadas" por parte da esquerda, como: "Joe Biden e Donald Trump são a mesma coisa; a Constituinte do Chile não irá resolver; e o Brasil precisa de uma Constituinte". "São Bobagens graúdas, mas assimiladas, recicladas e passadas adiante com versões variadas", diz Mendes

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    Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia 

    Tem gente das esquerdas reproduzindo cacoetes da extrema direita na produção de informações furadas embaladas com algum glamour. Todas na linha de raciocínio de Dudu, a cobra alarmista de Luis Fernando Verissimo, dos anos 80, misturado aos pavores de Ubaldo, o paranoico, da criação de Henfil na ditadura.

    E assim vai se intensificando a disseminação de bobagens que se espalham quase todos os dias, com rapidez e capacidade de multiplicação de um coronavírus, como se fossem fake news saídas das fábricas dos garotos de Bolsonaro.

    São Bobagens graúdas, mas assimiladas, recicladas e passadas adiante com versões variadas. E por gente de esquerda que pretende ser diferente. Aqui estão algumas delas, todas contagiosas:

    Joe Biden e Donald Trump são a mesma coisa, mas cuidado porque Biden poderá até ser mais feroz do que Trump. É a ladainha recorrente de que os democratas são tão bélicos (e às vezes mais) do que os republicanos. Esse pode ser um dado do século 20, mas hoje talvez não signifique muito com outras questões e sutilezas que entram em jogo. Dizem que na geopolítica em geral e em especial nas guerras Obama foi igual aos Bush pai e filho. Claro que não foi. Ninguém acha que os Estados Unidos deixarão de guerrear ou que eles tomarão vacina chinesa só porque o presidente é democrata. Mas, se democratas e republicanos fossem mesmo iguais, racismo, xenofobia, homofobia e outras pautas seriam comuns aos dois candidatos e aos seus eleitores. Biden tem posições claras sobre essas questões. É pouco? Se não fosse assim, tudo deveria ficar como está. E Bolsonaro não precisaria perder o sono com as guerras híbridas do Ernesto Araújo.

    A Constituinte do Chile não irá resolver os problemas do país e pode criar falsas expectativas. É uma bobagem maior do que a anterior. Primeiro, porque a mobilização que levou ao plebiscito e levará à Constituinte e à nova Constituição foi marcada por atos históricos e revolucionários. São ações únicas na América Latina, principalmente pela participação das mulheres, e resultarão em outros avanços grandiosos. A Constituição criará fatos, e os chilenos terão de se entender com a nova realidade. Um desses fatos é o poder da representação de mulheres e índios. Só por isso a Constituinte valerá a pena. Mas o pessimista precisa alertar e, se possível, lacrar: olha que os problemas não serão resolvidos de imediato. Não serão. Mas e daí? O alarmista não seria alarmista se não produzisse alarmes.

    O Brasil precisa de uma Constituinte, para provar que pode imitar o Chile. Essa é a maior de todas as bobagens, e não estamos falando da tese de gente da direita, que prega uma Constituição com mais deveres e menos direitos. É gente da esquerda mesmo que acha possível convocar uma Constituinte para daqui a pouco. Pra quê? Uma Constituinte no Brasil hoje ou mesmo daqui a alguns anos elegeria mais exorcistas do que mulheres. Teria mais pastores, fazendeiros, garimpeiros, grileiros, delegados, coronéis e majores do que o Congresso tem hoje. Seria um desastre. E o que faria a Constituinte? É a mais chocante das três bobagens. Como querer convocar uma Constituinte num ambiente de resignação e imobilismo ainda dominado pelo bolsonarismo? É uma tese infantil.

    Essas ‘análises’ e outras previsões fora de todas as curvas tentam se apresentar como a surpresa inteligente. É a Síndrome do Osmar Terra, a nova versão do Ubaldo da direita. Quando todos diziam algo sobre a pandemia, ele e meia dúzia andavam na direção contrária. Se acertassem, estariam consagrados.

    Mas eles mesmos sabiam que nunca acertariam. Por que então fizeram as previsões e as análises tortas? Porque o povo em volta deles se delicia, e tem gente até agora que defende Osmar Terra. Ele teria acertado tudo, mas a verdade não aparece porque a China e os comunistas conspiram contra os negacionistas.

    Não são poucos os que se divertem com teorias esdrúxulas em momento de desorientação geral. Parte da esquerda também.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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