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Ariovaldo Ramos

Coordenador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito Presbítero da Comunidade Cristã Reformada em São Paulo, SP

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Treze de Maio

As escrituras sagradas dizem que o trabalhador é digno do seu salário, mas isso sempre foi negado aos escravizados, e continuou a ser negado a seus descendentes

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Treze de Maio é a data em que da assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel.  

Deveria ser uma data festiva, uma vez que deveria ser a data da  libertação dos escravizados. Entretanto, isso não é verdade, não houve libertação. Entenda-se, por libertação, não só a quebra do vínculo anterior, mas a criação das condições necessárias para emancipação humana. E isso, de fato, não aconteceu.

Para começar, não houve, indenização. O que se esperaria, depois de tantos anos de escravização, de fato, de séculos de escravização, é que a ex-escravizados fosse reconhecida, minimamente, o direito de recuperar a dignidade, por meio da recuperação de condição de vida, portanto, de condição econômica suficiente e necessária para  sobrevivência com dignidade.

Ao invés disso, logo veio a lei da vadiagem, que forçava o ex-escravizado a ter uma moradia. Caso não tivesse endereço era tido como vagabundo. O ex-escravizado foi, portanto, submetido ao que veio a ser conhecido como  sub-moradia.

Não bastasse isso, os pretensos senhores de escravizados, latifundiários e demais, sentindo-se traídos pela realeza, dormiram monarquistas e acordaram republicanos, o que levou a proclamação da República a ser um arremedo de transformação sócio-política, uma vez que a lógica feudalista foi mantida.

A nação, portanto, ficou com uma dívida moral, e econômica, e social para com os ex-escravizados e seus descendentes. Desenvolveu-se no Brasil um não confessado, e mal disfarçado, e cruel preconceito racial não admitido e, portanto, não tratado. 

O preconceito continua não tratado, continua não admitido. Mas, a dívida econômica teve o primeiro movimento de resgate através das chamadas cotas, o que reconhece o direito dos descendentes de escravizados. É pouco para indenizar 380 anos de escravização, mas, já é um começo, pois graças a ausência de medidas indenizatórias, por meio de políticas públicas, os descendentes de escravizados foram mantidos na pobreza, e sem acesso aos meios necessários para sua emancipação sócio-econômica.

A maioria da população brasileira é composta por descendentes dos povos que vieram da África, na condição de escravizados. Mas, como se pode, facilmente, constatar, essa maioria não é vista nos postos chaves, seja na atividade pública seja na iniciativa privada.

Então, vejo a data de Treze de Maio, como um desafio à sociedade brasileira, para que a justiça seja feita àqueles que, por meio da força, contribuíram para o enriquecimento do Brasil.

As escrituras sagradas dizem que o trabalhador é digno do seu salário, mas isso sempre foi negado aos escravizados, por razões óbvias, porém continuou a ser negado a seus descendentes, após a lei chamada de áurea.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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