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      Arnóbio Rocha

      Advogado civilista, membro do Sindicato dos Advogados de SP, ex-vice-presidente da CDH da OAB-SP, autor do Blog arnobiorocha.com.br e do livro "Crise 2.0: A taxa de lucro reloaded".

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      Trump-Musk e a distopia: a questão do poder

      Musk usará métodos mais científicos de manipulação e de disseminação ideológica desse modelo fascista e disruptivo

      CEO da Tesla e proprietário do X, Elon Musk, ao lado do candidato à Presidência dos EUA Donald Trump em comício na Pensilvânia 5/10/2024 REUTERS/Brian Snyder/Arquivo (Foto: Brian Snyder)

      Há quarenta anos, em 1985, a Unicamp receberia um supercomputador (mainframe) que, por suas características e capacidade de processamento de dados e informações, poderia simular uma bomba atômica. O Brasil, que tem reservas de urânio, a matéria-prima, precisaria de cálculos de alta precisão para dominar o ciclo do enriquecimento do urânio. A memória daquele supercomputador era apenas de 64 Megabytes, algo estrondoso para a época. A área utilizada para armazenar e “somar” as memórias equivalia a 300 m², além de uma estação de energia com quase o mesmo espaço para alimentar o supercomputador. Apenas 11 anos depois, no Japão, recebi uma estação de trabalho (WorkStation, Unix) exatamente com essa capacidade, 64 Megabytes. Cinco anos depois, nos primeiros celulares com câmera, essa era a memória inicial. Hoje, uma única foto usa 64 Megabytes para salvar o registro.

      A miniaturização dos sistemas de microeletrônica fez com que o capitalismo desse um salto enorme a cada 10 anos, entre as décadas de 60, 70 e 80. Depois, esse salto passou a acontecer a cada 5 anos, nos anos 2000, rumo ao desconhecido, a uma esfera de poder e mudança de qualidade inimagináveis. Em apenas seis décadas, o mundo entrou na sétima década, trazendo para o centro países profundamente atrasados, como China, Coreia do Sul, enquanto o Japão perdeu fôlego nesse século.

      Os fenômenos de transformação do capitalismo, principalmente no início dos anos 1970, com a introdução de tecnologias mais avançadas, fruto da microeletrônica e do desenvolvimento das ciências físicas, químicas, biológicas e eletrônicas (telecomunicações, eletricidade e informática), elevaram a produtividade e proporcionaram uma modernização da vida como jamais vista. O colapso do Leste ocorreu exatamente do ponto de vista econômico, por não haver como enfrentar uma realidade tecnológica maior e mais eficiente.

      O sistema capitalista continua tendo nos EUA o seu centro, com seu poder militar imenso, sua máquina de guerra, que é o dólar, a moeda que atravessa a soberania dos países. 81% das transações são feitas em dólar, e 75% das cargas mundiais são transportadas por navios e aviões dos EUA. Além disso, os bancos e a ciranda financeira são controlados pelo país, mesmo com as enormes contradições internas, sinais de decadência social e rupturas. Eles, os EUA, a Roma atual, dominam o conceito de império no presente.

      A supercrise de 2008 produziu a maior mudança de paradigma em 80 anos, desde a de 1929, que levou o mundo à Segunda Guerra Mundial. As mudanças advindas da crise mundial de 2008 e seus efeitos para a vida humana, as questões da urgência climática, mais ainda os direitos fundamentais, trabalhistas e humanos, foram profundas.

      A alteração profunda na produção de valor, a substituição da indústria automobilística pela microeletrônica e pelo software, combinada com a ruptura final do Estado de Bem-Estar Social, da democracia e da política, foi o que criou um novo centro de poder dentro do centro de poder, os EUA. O resultado dessa simbiose do novo capital é o casamento de Donald Trump com Elon Musk. Sem moralismo, são eles que melhor encarnam o conceito de poder real, da nova economia, da máquina de segurança e medo.

      A ideia dessa comunhão é de cunho fascista e está em linha com o endurecimento e o controle do Estado por essa fração burguesa trilionária, que pretende não apenas governar para si (o que já fazem hoje), mas criar um Estado de terror, de medo, uma Gotham City sem Batman, dirigida pelo Coringa Laranjão e sua pequena trupe de trilionários tecnológicos fascistas, controlando tudo. A quebra da burocracia estável do Estado pode ser um indício de uma autocracia com conotação fascista, o que pode apavorar o mundo. Trump é favorecido pela maioria nas duas casas do parlamento e na Suprema Corte (uma maioria esmagadora), sem freios ou contrapesos, ao arrepio das leis, na sua livre interpretação delas.

      É uma perspectiva terrível. O que sobraria de resistência? Talvez a burocracia militar e suas agências de inteligência. Nem mesmo dentro do capital há alternativa ao caos. O poder ilimitado de um punhado de trilionários faz reféns os demais, com domínio baseado em alta tecnologia, algoritmos e pela introdução da IA como última fronteira do conhecimento e de controle político e ideológico sob todo o povo. Parece óbvio que Elon Musk terá mais poder e eficiência do que Steve Bannon, o ideólogo da extrema-direita, nesse novo governo. Ele usará métodos mais científicos de manipulação e de disseminação ideológica desse modelo fascista e disruptivo.

      Essa é a síntese de poder e tragédia humana, o que pode significar, em pouco tempo, o fim da aventura humana na Terra.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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