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    Pepe Escobar

    Pepe Escobar é jornalista e correspondente de várias publicações internacionais

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    Trump pode ser Oreshnikzado na Ucrânia mesmo antes de chegar à China

    Com o Oreshnik entrando agora em cena, onde quer que o Hegêmona tente provocar a China, ele terá que enfrentar também a Rússia

    (Foto: ALLISON ROBBERT/Pool via REUTERS)

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    Quando se trata dos armamentos estado da arte russos, aquilo que o inestimável Ray McGovern define como o MICIMATT (complexo Militar-Industrial-Parlamentar-de Inteligência-Mídia-Academia-Think-Tank) – a totalidade do complexo hegemônico - parece imerso em um perpétuo estupor.

    Eles não sabiam absolutamente nada sobre o Kalibr, o Sarmat, o Khinzal, o Zircon nem sobre o Avangard antes de eles serem postos em operação. Eles ignoravam por completo o Oreshnik (‘Avelã’) antes da advertência protocolar de 30 minutos feita pelos russos, comunicando que haveria um teste de um míssil, e que ele não era nuclear. Os americanos supuseram que seria apenas mais um teste de míssil balístico, uma vez que é rotineiro que estes aconteçam próximo ao Ártico.

    Nem mesmo o Presidente Putin, até o último minuto, sabia que o Oreshnik estava pronto para entrar em operação. E o porta-voz do Kremlin, Peskov, confirmou que apenas um círculo ultra restrito tinha conhecimento da existência do Oreshnik.

    Resumindo: o MICIMATT vê apenas o que a Rússia se dispõe a exibir – e só como fato consumado. Podem chamar a isso de um juramento de sigilo à prova de vazamentos que permeia o complexo militar russo – que, por sinal, é uma gigantesca empresa estatal e nacionalizada, com poucos componentes privados.

    E isso, mais que qualquer coisa existente no presunçoso Ocidente Coletivo, permite ao governo russo, na prática, uma melhor engenharia, uma melhor física, uma melhor matemática e melhores resultados finais.

    O Oreshnik – um sistema de armamentos cinéticos – é, reconhecidamente, um divisor de águas em vários sentidos quando se trata de tecnologia militar e de técnicas bélicas. A física básica nos diz que ao combinar força cinética e massa, garante-se uma total devastação, comparável à potência de baixa a média de uma arma nuclear. Com a vantagem adicional de zero radiação.

    O Oreshnik é um míssil balístico de alcance intermediário (IRBM), já em desenvolvimento pela Rússia (juntamente a outros sistemas) mesmo antes de o primeiro governo Trump, em 2019, ter retirado os Estados Unidos do tratado de eliminação de mísseis nucleares de curto e médio alcance firmado com Moscou durante a Guerra Fria.

    Algumas análises concisas apontaram que o Oreshnik pode ser colocado em mísseis intercontinentais (itálicos meus) não-nucleares. Os russos vêm sendo muito diplomáticos, não insistindo no fato de que, se o Oreshnik for lançado do Extremo Leste russo, ele poderá facilmente alcançar a maioria das latitudes dos Estados Unidos.

    Além do mais, a aplicação da tecnologia Oreshnik a mísseis táticos – Putin, em fins da semana passada, afirmou que isso já vem acontecendo – muda também a totalidade do domínio tático.

    A novidade é que a Rússia agora é capaz de lançar armas cinéticas de altíssima velocidade literalmente contra qualquer lugar do mundo – após avisar os civis para que eles abandonem a área próxima aos alvos. E não há, em lugar algum, qualquer defesa possível contra essas armas.

    Não há para onde correr, baby, não há onde se esconder

    É bastante previsível que o identitário, arrogante/ignorante complexo MICIMATT, bem como a OTAN e a totalidade do Ocidente Coletivo de cérebro lavado, simplesmente não fazem a menor ideia do que acaba de lhes atingir, aparentemente do nada.

    Para ser conciso: um sistema com o poder destrutivo de uma arma nuclear tática, mas com a precisão da bala de um franco-atirador.

    Portanto, os porta-aviões bilionários; todas as mais de 800 Bases do Império; os muitos abrigos antiaéreos subterrâneos; as plataformas de lançamento ICBM; os estaleiros navais, para não falar do quartel-general da OTAN em Bruxelas; a Base Aegis Ashore em Redzikowo (Polônia); o centro da força conjunta da OTAN na Holanda; o comando do Sul da OTAN em Nápoles, - todos esses ativos imensamente caros serão presa fácil para os Oreshniks não-nucleares, capazes de reduzi-los a pó em um piscar de olhos após voar por meros minutos acima do Mach 10.

    A essas alturas, multidões ao redor do mundo já sabem que o Oreshnik consegue alcançar Berlim em 11 minutos e Londres em 19 minutos. Também, que se lançado do sul da Rússia, o Oreshnik consegue alcançar a base aérea em Catar em 13 minutos; se lançado de Kamchatka, no Extremo Leste, ele consegue atingir Guam em 22 minutos; e de Chukotka, atinge os silos dos Minuteman III, em Montana, em 23 minutos.

    Para citar o épico sucesso do Motown da década de 60: “Não há para onde correr, baby, não há onde se esconder”.

    Prova evidente de que o MICIMATT e a OTAN não fazem a mínima ideia do que os atingiu é a escalada de demência que continua em vigor mesmo após as ogivas do Oreshnik terem esmigalhado a fábrica de mísseis em Dnipropetrovsk. E mesmo depois de Moscou ter deixado bem claro que não precisa de armas nucleares para atingir o alvo que bem entender em qualquer parte do planeta Terra.

    O MICIMATT mais a OTAN, um depois do outro, dispararam ATACMS duas vezes contra Kursk e soltaram um balão de teste de R.P. relacionado à possibilidade suicida de enviar armas nucleares a Kiev. A OTAN avisou o setor empresarial sobre a necessidade de entrar em “cenário de guerra”. O Almirante de poltrona Rob Bauer, um joão-ninguém holandês, defendeu que a Rússia sofresse bombardeios preemptivos. O Petit Roi da França e o horrendo primeiro-ministro britânico lançaram a jogada de “envio de tropas” à Ucrânia (Starmer, mais tarde, recuou). E por último, mas não menos importante, o Salsichão de Fígado que governa a Alemanha começou a planejar o uso de estações de metrô como abrigos antiaéreos.

    Toda essa escalada paranoica soa como um bando de crianças berrando em seu imundo parquinho de areia. Porque, para todos os fins práticos, é a Rússia que hoje comanda o jogo da escalada.

    Separar a Rússia-China é difícil

    O que nos traz ao Trump 2.0.

    O Deep State já atingiu Trump com uma guerra virulenta – de fato uma contrainsurreição preventiva, mesmo antes de ele sequer tentar alguma medida prática relacionada ao falido Projeto Ucrânia.

    Sua rampa de saída ideal seria uma retirada à la Afeganistão, deixando todo o ônus futuro para a cesta de chihuahuas da OTAN.

    Andrey Sushentsov é um diretor de programas do Clube Valdai e reitor da escola de Relações Internacionais do MGIMO. Ele é um dos maiores analistas da Rússia. Sushentsov, falando à Tass, proferiu, entre outras coisas, a seguinte pérola:

    “Trump vem pensando em terminar a crise ucraniana não por simpatia à Rússia, mas porque ele reconhece que a Ucrânia não tem qualquer chance realista de vitória. Sua meta é preservar a Ucrânia como instrumento dos interesses americanos, pretendendo congelar o conflito, mais que resolvê-lo. Consequentemente, sob Trump, a estratégia de longo prazo de se contrapor à Rússia continuará existindo. Os Estados Unidos continuam a se beneficiar da crise ucraniana, independentemente do governo que esteja no poder”.

    Sushentsov reconhece plenamente que o “sistema estatal dos Estados Unidos é uma estrutura inercial que resiste a decisões que vê como contrárias aos interesses americanos, de modo que nem todas as ideias de Trump darão frutos”.

    Essa é apenas uma ilustração patente, entre muitas outras, de que Moscou não tem qualquer ilusão quanto ao Trump 2.0. As condições colocadas por Putin para uma tentativa de resolver a charada ucraniana são de domínio público desde, pelo menos, junho último: a retirada total das tropas de Kiev do Donbass e da Novorossiya; a Ucrânia não se juntar à OTAN; o fim das mais de 15 mil sanções; e uma Ucrânia não alinhada e não-nuclear.

    É isso. Tudo é não-negociável; de outra forma a guerra prosseguirá nos campos de batalha da forma como a Rússia julgar apropriado, até a rendição final da Ucrânia.

    Evidentemente, os Cinco Olhos – na verdade apenas dois (EUA/Reino Unido) – mais a minion que é a França, lado a lado com os silos mais poderosos do Deep State, continuarão a forçar Trump a dobrar a aposta no Projeto Ucrânia, que é parte essencial do ethos das Guerras Eternas.

    Talvez o melhor que ele possa fazer é desviar a atenção do Projeto Ucrânia para atender os genocidas patológicos do Velho Testamento de Tel Aviv aliada à armada Sio-con do D.C., no que se refere à sua obsessão de forçar Washington a entrar em sua guerra contra o Irã. Pensem em uma leve mudança de foco nas Guerras Eternas.

    Teerã não apenas exporta o grosso de sua energia para a China, mas é também um nó absolutamente essencial do Corredor Internacional de Transportes Norte Sul (CITNS), e igualmente da Iniciativa Cinturão e Rota (ICR), ou seja, entrecruzando a Eurásia de norte a sul e de leste a oeste.

    Essa seria a guerra de preferência – dirigida, simultaneamente, contra três BRICS (Rússia, China, Irã). Afinal, toda a classe dominante dos Estados Unidos já está investida em uma Guerra Híbrida matar-ou-morrer contra os BRICS.

    Mesmo assim, o confronto Trump 2.0/China será o cerne da política externa do Hegêmona a partir de 20 de janeiro. Praticamente todas as indicações de Trump – por mais equivocadas que possam ser – acreditam que seja possível romper a parceria estratégica ampla Rússia-China e evitar que a China compre energia do Irã.

    Haverá tentativas de atacar as rotas marítimas e as linhas de fornecimento – das Rotas da Seda Marítimas da orla do Oceano Índico à Rota do Mar do Norte próxima ao Ártico, incluindo possíveis falsas bandeiras ao longo do CITNS.

    Mas agora, com o Oreshnik entrando em cena, onde quer que o Hegêmona tente provocar a China, ele terá que enfrentar também a Rússia. Portanto, a tentação de pôr fim ao Projeto Ucrânia e a intromissão da OTAN nas fronteiras oeste da Rússia continuará presente nos planos de Trump, como parte da síndrome “seduzir a Rússia para prejudicar a China”.

    O problema para o Hegêmona é que as parcerias estratégicas entrelaçadas BRICS/OCX abrangendo Rússia-China-Irã têm outros planos – também muito cinéticos.

    Tradução de Patricia Zimbres

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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