TV 247 logo
      José Guimarães avatar

      José Guimarães

      Advogado, deputado federal e Líder do Governo na Câmara dos Deputados

      137 artigos

      HOME > blog

      Trump se posiciona como gerente do desmonte dos Estados Unidos

      "Os danos do tarifaço para a cooperação internacional são devastadores", escreve o deputado federal José Guimarães

      Presidente dos EUA, Donald Trump, dá detalhes sobre tarifas no Rose Garden da Casa Branca em Washington, D.C. (Foto: REUTERS/Carlos Barria)

      A eleição de Donald Trump é a expressão mais evidente do desespero dos Estados Unidos diante da China e seu desenvolvimento científico e industrial. 

      Ao mesmo tempo, a sanha ideológica e o agigantamento do poder privado dos oligarcas bilionários, donos das big techs - aspiradoras de dinheiro do mundo - estão desmanchando institucionalmente os Estados Unidos, submetendo cidadãs e cidadãos ao medo do que são capazes de fazer com o país e o mundo. 

      O ataque ao Capitólio, após Trump perder as eleições, em janeiro de 2021, foi o mais concreto sintoma da escalada da decadência institucional dos Estados Unidos. O Congresso, de maioria trumpista, perdeu a ética democrática, que tanto orgulhou os estadunidenses na sua história.

      Demissões em massa de servidores públicos, desmonte de agências de pesquisa científica, de cooperação, inclusive de segurança, do departamento de educação, entre outros, censura a conteúdos didáticos em escolas e universidades, enfim, ações governamentais ideológicas de cunho fascista, fazem parte do desmonte institucional dos Estados Unidos.

      Apesar das ameaças e de represálias de Trump, alguns setores do judiciário têm resistido à altura dos danos à democracia e à ordem constitucional. Porém, na Suprema Corte, a maioria dos ministros foram nomeados por ele. Não há esperança de que algo possa ser feito em defesa das instituições.

      Na semana passada, a Nature, a mais respeitada revista científica do mundo, divulgou pesquisa com a informação de que 75% dos cientistas dos Estados Unidos estão se preparando para deixar o país, depois das demissões e dos cortes dos financiamentos das agências de pesquisas e das universidades, pelo governo Trump. Segundo a revista, trata-se da maior “fuga de cérebros” da história dos Estados Unidos. 

      Um estudo da Universidade de Standford revelou que os imigrantes respondem por 23% das patentes registradas nos Estados Unidos e que esses cientistas se dedicam a pesquisas mais avançadas, para resolver os desafios mais complexos da sociedade moderna, como na medicina, nos avanços em tecnologias de ponta como Inteligência Artificial, na exploração espacial, entre outros.

      Talvez nunca tenhamos vivido tamanha insegurança global como agora, momento em que a maior potência econômica e bélica do planeta está nas mãos de pessoas tão inadequadas para governar no processo civilizatório do mundo. As forças políticas que gravitam ao redor de Donald Trump se movimentam numa espiral de retrocessos, de atraso político já superado pela democracia. 

      Pairam suspeitas de que segredos de Estado foram parar nas mãos de oligarcas bilionários das big techs e que o mundo corre risco. Desde ataques cibernéticos inusitados a setores como o financeiro e o militar até apropriação de códigos secretos de uso de armas nucleares. Na escalada de poder privado, não se sabe em qual momento poderia ser usado.

      O principal assessor de Trump, o bilionário Elon Musk, proprietário da SpaceX, é dono de 60% dos satélites em órbita na Terra, por onde passa o maior fluxo de dados do planeta. São 6.370 deles operando em 102 países, inclusive no Brasil. A empresa trabalha com a meta de lançar mais de 42 mil novos satélites e se posiciona para monopolizar o maior número de equipamentos do mundo. Ou seja, a governança global corre risco.

      O tarifaço baixado por Donald Trump contra 185 países é o mais ousado ato do seu governo, até o momento, depois da expulsão indiscriminada e humilhante de imigrantes. Dada a dimensão dos estragos previstos na economia global, países afetados começam a tomar medidas de retaliação, que podem ser o início de uma escalada de conflitos de final imprevisível. 

      Especialistas alertam para os efeitos do tarifaço na globalização, da qual os Estados Unidos foram o principal articulador desde o governo Ronald Reagan, juntamente com a Primeira-Ministra da Inglaterra, Margareth Tatcher, nos anos 1980, que resultou na reciclagem da política neoliberal, acordada na reunião das agências financeiras internacionais, chamada “Consenso de Washington”. 

      Os danos do tarifaço para a cooperação internacional são devastadores, assim como o perigo do ressurgimento de movimentos nacionalistas em todo o mundo, semelhantes aos que resultaram na Segunda Guerra Mundial. 

      A recente capa da revista The Economist, com o título “Dia da Ruína”, contraponto para o “Dia da Libertação”, estampa Donald Trump com a mão num serrote, serrando as fronteiras do mapa dos Estados Unidos, isolando o país do mundo. 

      No editorial, a revista diz que Trump “tornou os Estados Unidos tóxico para investidores”. A revista chama atenção para a gravidade do que pode estar se passando pela cabeça do chefe de Estado da maior potência econômica, tecnológica e bélica do planeta.

      Até o momento, analistas de políticas econômicas não arriscam afirmar qual o verdadeiro sentido das medidas de Donald Trump, que estão levando a economia dos Estados Unidos e do mundo à recessão, ao desemprego e à inflação. 

      Na semana do tarifaço, as bolsas dos Estados Unidos desabaram 10%. Segundo a consultoria Elos Ayta, a medida de Trump provocou nos dois primeiros dias perda de US$ 6 trilhões, do valor das empresas do país. 

      Até a última sexta-feira, as gigantes de tecnologia já haviam perdido US$ 800 bilhões. A Apple foi a mais prejudicada, perdeu US$ 500 bilhões de dólares. A projeção mais otimista para o PIB dos Estados Unidos, em 2025, é de queda de 2% e inflação de 7,6%.

      A globalização, tão propalada como panaceia do liberalismo comercial e econômico nas últimas décadas do final do século passado - para o desenvolvimento dos países que rompessem com barreiras tarifárias - deu ao mundo a China que temos hoje, uma potência industrial, tecnológica e financeira.  

      Na globalização, a China soube aproveitar com inteligência a oportunidade de poder atrair empresas estrangeiras no processo de industrialização. A opção foi por “joint ventures”, mas, sob condições e regras definidas pelo governo chinês. 

      Hoje, a China mantém forte regulação do sistema financeiro, crédito direcionado e um modelo de investimento que combina expansão das exportações e do mercado interno, com investimentos na melhoria salarial e da renda dos trabalhadores.

      Com população de 1,400 bilhão e uma política econômica planejada e controlada pelo Estado, a China atraiu grandes empresas industriais transnacionais, principalmente dos Estados Unidos, se transformou na “fábrica do mundo”, no maior mercado consumidor e exportador de manufaturados. A título de comparação, a população dos Estados Unidos é de 340,1 milhões.

      O comércio global, em 1980, era de US$ 2 trilhões. Em 2025, saltou para US$ 33 trilhões. Em 1980, o PIB da China era de aproximadamente US$ 191 bilhões e as exportações não passavam de US$ 21 bilhões. Em 2024, o comércio exterior da China bateu recorde, chegou a US$ 5,9 trilhões. US$ 1 trilhão a mais que o ano anterior. Com seu comércio externo girando em torno de 37% do PIB, a China se tornou o maior parceiro comercial de 120 países. Essa é uma das razões do desespero dos Estados Unidos diante da China.

      O tarifaço é o maior golpe do governo Trump contra a globalização e a China foi o país escolhido por ele para aplicar a maior tarifa (34%). Se, com isso, Trump pensa em trazer de volta as grandes empresas dos Estados Unidos, que estão produzindo na China, corre o risco de perder a guerra comercial. 

      O Índice de Confiança do Investidor de Xangai bateu recorde, tendo em vista a expansão do mercado interno no país mais populoso do mundo. Além disso, os navios chineses podem desembarcar seus produtos em outros portos. 

      O mundo está assustado e inseguro com o comportamento inadequado de Donald Trump no exercício do governo dos Estados Unidos, que não se senta numa mesa de negociação, se coloca como um comerciante atras de um balcão. Prefere o confronto.

      Diante disso, o mundo se levanta em manifestações nas mais importantes cidades do país, da Europa e da Ásia, numa jornada de lutas contra ele e seu governo, contra o tarifaço e a recessão global, contra as deportações, as demissões em massa de servidores públicos, contra o desmonte das universidades e das agências de pesquisa, contra a censura a conteúdos didáticos nos Estados Unidos, enfim, contra as ameaças à democracia. 

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

      ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

      ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

      iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

      Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: